A cultura do saber para ser
Qual a etimologia de cultura? Vem do latim culturae que tem como aceção, "ato de plantar e cultivar", ora de conhecimentos e dimensão das sociedades, uma veia indissociável da realidade social transmitida na "construção histórica e produto coletivo da vida humana". A acalmia do Saber para Ser, fora olvidada, um andante anexado aos jogos de computador, anestesiado pela força das festividades em prol do prazer instantâneo e instante. A fórmula mágica que em breves segundos torna os mais ignorantes em "chanceler" do universe, apenas com o minguante no olhar, conduta leviana e alma lezíria. O comodismo e o facilitismo é a senda mais apetecida, a maçã proibida do jardim de éden, característica mundana irrenunciável?
A internet intensificou a cultura digital, a leitura de notícias online, livros, filmes, séries, espetáculos de música, teatro, museu (tudo na web). Quem mais tem, mais cultura pode absorver, quem menos tem, resignasse ao que não pode ter. O papel do Estado social nas suas mais diversas frentes, não pode ser dormente, devendo ser draconiano na sua conduta, apoiando principalmente aqueles que não conseguem ter um acesso digno à cultura, derivado da insuficiência económica dos seus progenitores. A construção harmónica e dialética da identidade de um jovem, bebe diretamente da fonte cultural que lhes permite abraçar a humanidade, a compreensão do mundo, da atualidade, da sociedade, libertando-se assim, de doutrinas encapotadas. As experiências socioculturais incutem valores, princípios, desafios, moral, história, identidade, cultura, dedutível no orçamento das autarquias locais legitimado pelo Estado central.
Os cheques cultura consistem numa medida dorsal para o combate à pobreza "cultural", corrosiva de uma sociedade que se quer evoluída, do conhecimento, coesa, participativa, ativa, fogosa, progressiva, vanguardista. Esta política cultural e social tem como premissa a gratuidade em certas circunstâncias, aos jovens dos 0 aos 23 e mais idosos, 65 para cima, a chance dos primeiros se construírem enquanto Seres sapientes, mais globalizados e culturalmente instruídos no processo vigente de transformação e criação de identidade. Os mais velhos também devem ter acesso a uma medida deste cariz, visto estarem uma vida inteira a ser acionistas do Estado. Merecem chegar à reta final, com a cultura inscrita no seu quotidiano, concedendo-lhes ainda mais vida, um tributo notável e indispensável de reconhecimento. Fazendo um comparativo, uma espécie de "passe social na cultura", contribuindo o Estado para o "fazer acontecer", garantindo uma fatia ou a totalidade desta, mediante a condição económica e financeira das famílias, com base em critérios de equidade e não de igualdade? Esta coaduna-se em dar de igual forma a todos, o que geraria injustiça? Será justo dar a mesma coisa a pessoas diferentes? Dar a cada um, o equivalente à sua situação aritmética é uma medida proporcional e exequível?
Esta política tem de começar nas juntas de freguesia, o órgão local mais próximo das pessoas, através de um incentivo financeiro e da promoção cultural (pelo Estado), configurando uma carta inalienável e indispensável. Como a título de exemplo a freguesias asseguravam 50% do cheque cultura e as câmaras municipais os outros 50%, através de uma injeção financeira do Estado no seu plano executivo (descentralizando-se essa missão), um trabalho de equipa pelo bem comum. Alternativamente e provisoriamente, siga-se o exemplo de Espanha e crie-se um "abono cultural" de determinado valor (Exemplo: 300 euros) aos jovens que perfaçam 18 anos, potencializando assim, o acesso universal dos jovens à cultura e ao seu consumo, o empurrãozinho necessário que seduza esta procura contínua. Este passe poderia ser gasto exclusivamente em livros, espetáculos, cinema, tudo o que estivesse diretamente relacionado com a cultura, sem prejuízo de que uma medida desta natureza iria envolver um esforço financeiro considerável, mas que não pode ficar atrás da construção de mais rotundas e atividades festivas ao pontapé. Façam-se parcerias com associações culturais, criem-se ementas promotoras da cultura! As prioridades têm de se alinhar nas pessoas e não no que é mais politicamente correto para arrecadar e manter votos, com vista a vencer as próximas eleições. Desprendam-se desse pensamento branqueado e que nunca deveria de ser sequer equacionado! Uma política desta natureza, merece como é óbvio a auscultação prévia das entidades que estimulam e têm como bandeira a cultura. Uma parceria simbiótica que certamente criará laços fortes para um futuro difícil, volátil e altamente mutável. A criação de incentivos à doação de livros, bem como à criação de pontos de troca de livros em todas as autarquias do país, seria uma medida capital para a promoção cultural. Todavia, não podem ser esquecidos os portadores de doenças como a cegueira ou surdez (exemplo), devendo igualmente existir materiais culturais adaptados às suas necessidades e características sui generis.
O estímulo para a cultura tem de ser incutido desde o berço, juntando-se em parceria mais tarde com as instituições de ensino, uma plena comunhão, uma vez que, carece despertar a curiosidade, o "bichinho" nos mais jovens. A programação cultural deve ser regular nas autarquias, nas escolas, considerando que todas as juntas de freguesias têm de possuir um auditório "seu" para que a cultura possa aproximar-se ainda mais das pessoas, tendo o Estado o protagonismo enquanto liquidador das insolvências das desigualdades, da iliteracia "cultural" e "literária". Esta coluna tem de ser sustentada interiormente e exteriormente, uma verdadeira Soma Positiva.
Ouvir as pessoas, ouvir o coração da nossa cultura e colocando-a com direito de preferência na nossa comunidade, um Estado que promove a sua Nação!
Finalista da Licenciatura em Direito