A crise dos socialistas e a exceção portuguesa
Trabalhistas não descolam no Reino Unido
Uma sondagem divulgada na passada semana deve ter causado um arrepio na espinha a Jeremy Corbyn: só 14% dos inquiridos consideram que o líder trabalhista daria melhor primeiro-ministro do que a chefe do executivo, a conservadora Theresa May, que recolheu 47% de aprovação. Os trabalhistas estão atrás dos conservadores nas intenções de voto, tendo estes 39% enquanto o partido de Corbyn não passa dos 26% e o UKIP continua em terceiro lugar, com 14%; os liberais-democratas caem para quarto lugar, com 10%. Um porta-voz do dirigente trabalhista reconhece que, "após a fragmentação" devido à derrota em 2015, a tarefa de devolver protagonismo político ao partido nunca seria fácil, mas "nos próximos meses" tornar-se-á evidente que o Labour "é alternativa genuína". Ouvido pelo Independent, um dirigente sindical e aliado de Corbyn, Len McCluskey, deixou em aberto a hipótese daquele abandonar a liderança em 2019 (ano de eleições) se as sondagens permanecerem "negativas".
Derrota anunciada em França
Os socialistas estão profundamente divididos entre si. E qualquer que venha a ser o nome a surgir para as presidenciais, sobre ele irá pesar a sombra da apreciação negativa que a grande maioria dos franceses faz do quinquénio do presidente François Hollande. Este, perante os números devastadores das sondagens, recuou na candidatura a segundo mandato, mas aquilo que os inquéritos de opinião sugerem é a forte probabilidade de não haver um candidato socialista na segunda volta das presidenciais. Uma sondagem divulgada na quinta-feira dá o antigo ministro da Economia Emmanuel Macron, que rompeu com os socialistas, com 16 a 20% das intenções de voto na primeira volta das presidenciais, bem à frente do socialista mais bem classificado, o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, com 11%. Contudo, o primeiro debate entre os sete candidatos às primárias da esquerda, na quinta-feira, mostrou que entre os socialistas Valls não é a escolha preferida, em mais um sinal da profunda divisão que grassa no partido. O grave neste cenário - e pressagia uma longa travessia do deserto para os socialistas franceses - é que, além do candidato de centro-direita François Fillon, é Marine Le Pen, dirigente da extrema-direita, que passa à segunda volta. E após a derrota anunciada nas presidenciais, os socialistas vão enfrentar novo desafio eleitoral, com as legislativas de junho, em que Macron já anunciou que o seu movimento político apresentará candidatos "em toda a parte". Perante este quadro, analistas consideram possível a pasokização dos socialistas franceses, ou seja, tornarem-se irrelevantes na política do país.
Condenados a segundos na Alemanha?
O líder do SPD e vice-chanceler Sigmar Gabriel só anunciará a candidatura às legislativas de setembro no final de janeiro, mas é dado como certo que será ele a defrontar a chanceler Angela Merkel. Desfeitas as dúvidas em torno da possível substituição de Gabriel pelo presidente cessante do Parlamento Europeu, Martin Schulz, a quem as sondagens concedem um melhor resultado face a Merkel do que aquele que, previsivelmente, irá obter o dirigente social-democrata, o SPD parece condenado a passar à oposição ou a repetir o cenário da "grande coligação" com os conservadores. Mas há um cenário alternativo, ainda que pouco provável: uma coligação SPD-Verdes-Partido da Esquerda (Die Linke). Uma sondagem publicada nesta semana no Bild mostrava que a CDU de Merkel seria o partido mais votado, com 32%, mas o SPD, que teria 21%, conseguiria formar uma maioria alternativa em aliança com os Verdes, com 9%, e o Linke, 11%, somando a coligação 41%. Note-se que os 21% da sondagem publicada pelo Bild estão abaixo dos 23% que o SPD teve em 2013 e bem distantes dos 40,9% que teve em 1998, o seu melhor resultado em 20 anos.
Irrelevância política na Grécia
Em janeiro de 2015, os socialistas gregos obtinham o pior resultado eleitoral na história do Pasok, 4,7% dos votos e 13 deputados. O partido pagava muito caro a política de austeridade seguida após o período da manipulação das contas públicas, realidade denunciada precisamente durante um executivo socialista, o de Georges Papandreou, que chegou ao poder em 2009. A Grécia, governada pelo movimento de esquerda radical Syriza, continua obrigada a políticas de austeridade, e o Pasok nunca mais recuperou em termos eleitorais. O partido sofreu uma cisão antes das legislativas de janeiro de 2015, com Papandreou a deixar o Pasok para fundar o Movimento dos Democratas Socialistas, sem qualquer sucesso. Por seu turno, o Pasok teve 6,2%, em coligação com a Esquerda Democrática (DIMAR), nas eleições de setembro do mesmo ano. Uma sondagem no final de 2016 atribuiu à coligação 8%, o mesmo que aos neonazis da Aurora Dourada. A Nova Democracia consegue 42% e o Syriza 21%.
A solução que funciona em Portugal
Ainda que menos votados do que a coligação PSD-CDS, os socialistas estão no poder há 415 dias, que se cumprem hoje, sustentados em acordos com a restante esquerda parlamentar. Além de Portugal, há executivos socialistas na Áustria, França, Eslováquia, Itália, Malta, República Checa, Roménia e Suécia.