"A CPLP é um projeto inacabado, com futuro"

O embaixador português, secretário-executivo da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa desde janeiro de 2019, despede-se na cimeira de Luanda. Ao DN fez o seu balanço.
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Deixa o cargo de secretário executivo da CPLP na cimeira em Luanda. Que balanço faz destes mais de dois anos de mandato?
O meu balanço é aquele que está na agenda da cimeira de Luanda. Penso que é um momento muito importante para a CPLP a assinatura de um acordo de mobilidade, que vai abrir a porta a facilitar a circulação, de forma gradual e flexível, no espaço da CPLP, para que os cidadãos possam começar a entender a utilidade da CPLP no seu dia a dia. Depois também é a introdução de uma nova componente, de uma dimensão económica e empresarial. A CPLP tem três pilares constitutivos: a promoção e difusão da língua, a concertação politico-diplomática e a cooperação. Agora introduz-se a componente económica e empresarial, que será cada vez mais importante, ou relevante, para o futuro. Depois, também referir aquilo que tentei fazer ao longo do meu mandato, que foi aproximar a CPLP de organizações internacionais. Neste quadro, estabelecemos uma metodologia de trabalho com a União Europeia. Havia um memorando assinado desde 2007, mas que nunca tinha posto em prática. E também com a Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico, com sede em Bruxelas, aproveitando o facto de ter à sua frente, nos próximos anos, um cidadão lusófono, que é o ex-ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti. Por outro lado a entrada de novos observadores para a CPLP. Em 2014 a CPLP tinha três observadores, agora, depois de Luanda, terá mais de 30, incluindo a SEGIB [Secretaria-Geral Ibero-Americana] e países como EUA, Índia, Costa do Marfim, Espanha ou Irlanda. Dos 30 países observadores, dez serão da União Europeia. Também é significativo do interesse crescente nas atividades da CPLP. Estamos a pôr a CPLP no mapa.

Depois de Cabo Verde, Angola assume a presidência em exercício. Que desafios terá?

Vai ter desafios muito importantes. Por um lado, a operacionalização do acordo de mobilidade, depois da retificação pelos Estados-membros. Por outro lado, pôr de pé esta dimensão económica e empresarial. A ideia que tenho defendido é que possa haver um grande fórum económico da CPLP a preceder as cimeiras de chefes de Estado e governo. Seria um fórum de empresas, de homens de negócios, para fomentar relações comerciais, parcerias de negócios, etc. Um primeiro passo, que tentámos ainda fazer no meu mandato mas a pandemia impediu, seria haver reuniões de agência de investimento dos estados-membros. E em relação aos observadores, com este crescimento exponencial, temos também que refletir um pouco sobre a sua presença e sobre como podem ser úteis à CPLP e no que é que a CPLP lhes pode ser útil.

Falou das coisas positivas do seu mandato. Mas sente que houve algo que ficou por fazer e que passa para o próximo secretário-executivo, o antigo chefe da diplomacia timorense, Zacarias da Costa?
A CPLP é uma organização jovem, se compararmos com as congéneres: a Commonwealth tem mais de 70 anos, a francofonia tem 60 anos. De forma que a CPLP está em permanente construção. A CPLP é um projeto inacabado, com bastante futuro. O que pode ser feito é talvez flexibilizar os procedimentos internos dentro do próprio secretariado, de forma a agilizar determinado tipo de soluções que à partida podem ser complexas, mas que são importantes e o secretariado pode ter um papel mais ágil.

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