A "CPLP" da Maçonaria Regular e os seus objetivos
Enquanto o mundo, justificadamente, centra os olhares na guerra que assola a Ucrânia e que se prolonga ainda sem fim à vista, outras realidades se impõem, e não podem nem devem ser escamoteadas das nossas preocupações, em continentes como África e a América do Sul.
Em jeito de exemplo, no continente africano hoje mais de 60% da população tem menos de 25 anos e até 2030, daqui a apenas oito anos, portanto, o Population Reference Bureau estima que os jovens africanos venham a representar 42% da juventude mundial. Estes números representam um enorme desafio para os países africanos em termos de construção do futuro, incluindo, obviamente, os países de expressão portuguesa; que condições herdarão esses jovens e com que perspetivas poderão desenvolver-se? No fundo: que mundo lhes estamos a dar?
Para estimular a resposta a esta e a muitas outras questões associadas ao universo dos países de língua oficial portuguesa nas diferentes geografias realizou-se recentemente em Lisboa, pela primeira vez, uma assembleia da Confederação Maçónica de Língua Portuguesa (CMLP) e que contou com elevada participação de representantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Estes países, incluindo Portugal, representam já cerca de 300 mil maçons regulares. Unidos por uma mesma língua (a quinta mais falada no mundo e a terceira do mundo ocidental) e partilhando dos mesmos propósitos. Mais do que um fórum de discussão e troca de ideias, a CMLP pretende assumir-se como um importante centro de promoção de fraternidade e de solidariedade, irradiando os princípios e os valores que a maçonaria defende e pratica através de ações e de projetos concretos.
Os objetivos que nos propomos atingir não podem ser circunscritos a alguns grupos sociais delimitados por fronteiras políticas, económicas ou, muito menos, étnicas. O que queremos, e faremos, é partir da nossa língua comum para o desenvolvimento de um trabalho orientado para o bem da Humanidade.
Para tal, ambicionamos ser coerentes com os nossos princípios e valores, pelo que não nos é permitido sermos indiferentes, algo que apenas nos conduziria ao abandono. Pelo contrário, esta é uma luta para a qual estamos empenhados e na qual se destaca o papel que as centenas de milhares de maçons que falam a nossa língua comum desenvolvem nas suas missões diárias.
Como disse o Prof. Adriano Moreira: "O facto de a língua não ser apenas nossa, ser também nossa, e transportar valores, faz com que, espalhada por todas as latitudes, tenha recolhido um pluralismo que a enriquece, como que a torna transversal em relação a culturas diferenciadas, inscrevendo-se no património imaterial da Humanidade, com forte contribuição para viabilizar o diálogo entre as diferenças, e colocar o respeito e a cooperação no lugar da simples tolerância ou da indiferença."
A Confederação Maçónica de Língua Portuguesa irá assim, a partir de agora, assumir-se como uma das mais representativas e maiores instituições maçónicas do mundo. E, tal como a CPLP foi criada para ser uma comunidade de países e povos que partilham a língua portuguesa, reunindo "nações irmanadas por uma herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão compartilhada do desenvolvimento e da democracia", também a CMLP, juntando maçons mas sendo dedicada a todo o mundo lusófono e a quem o habita, desenvolverá o seu trabalho no sentido da harmonia, concertando esforços, alinhando estratégias e desenvolvendo ações no terreno em cada um dos diferentes países que a integram.
Foi Fernando Pessoa quem escreveu que Portugal é o rosto com que a Europa fita o mundo. Eu atrevo-me agora a ir um pouco mais longe ao afirmar que a lusofonia é a voz comum de milhões de rostos que fitam o mundo. Rostos em Moçambique, no Brasil, em Timor, em Macau, em Angola, São Tomé, Guiné-Bissau, Cabo Verde, nas comunidades portuguesas de tantos e tantos países que seria fastidioso enumerá-los. E em todos eles ecoa essa voz partilhada, que outra não é do que a da fraternidade, expressando o desejo de que esse mundo que olham seja cada vez melhor.
Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal/Grande Loja Legal de Portugal.