A coragem de reformar e o risco do populismo à portuguesa

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Agora que passam 60 anos da assinatura do Tratado de Roma, não podemos deixar de recordar o que uniu os líderes políticos desse momento fundador do projeto europeu.

Naquele dia 25 de março de 1957, olhava-se em frente como talvez nunca antes a Europa tinha feito, com esperança num projeto em que os povos estivessem unidos pelas suas origens comuns, pela ambição de uma prosperidade ampla, pela força da solidariedade que aproximaria as diferentes partes.

Portugal quis integrar a comunidade europeia. Foi esse espírito da solidariedade que nos permite hoje ver um antes e um depois da adesão, em todo o território português. Sabemos o quanto os autarcas conseguiram fazer pelas populações com os fundos que, vindos da Europa, tiveram como objetivo desenvolver o país e proporcionar um nível de progresso que as nações mais desenvolvidas do nosso continente já tinham. A livre circulação abriu horizontes sociais, culturais e profissionais e as perspetivas económicas ampliaram-se. Portugal cresceu muito por fazer parte desta comunidade europeia e essa é uma certeza que não deve ser colocada em causa na cegueira do debate demagógico.

Esta celebração tem sido um momento oportuno para fazer a tão necessária reflexão sobre o futuro, sobre o papel da Comissão e das instituições. Creio que uma dessas reflexões será unânime - queremos uma ação política corajosa. Queremos líderes europeus que, pela força das suas ideias e pelo entusiasmo das suas ações, conduzam a comunidade europeia num novo ciclo de prosperidade, paz e desenvolvimento.

Como o presidente Jean-Claude Juncker referiu, precisamos de responsabilizar os líderes nacionais, exigindo-lhes a mesma coragem e fibra que os protagonistas de Roma revelaram.

O que queremos do futuro? Queremos mais do que meras vozes a clamar soluções. Precisamos de compreender que as decisões estão nas mãos de todos nós, cidadãos europeus, e dos líderes nacionais.

Queremos que os discursos conflituosos sejam substituídos pela disponibilidade para negociar em função do interesse nacional e europeu. Devemos ser parte da solução. Não queremos mais divisões ou grupos.

Queremos que sejam reformadas as instituições europeias, na perspetiva de uma Europa de vários Estados e não ambicionando ter um superestado europeu. Queremos um reforço do euro e da união bancária. Precisamos de adicionar ao Mecanismo Europeu de Estabilidade um verdadeiro fundo monetário europeu, como o PSD tem vindo a defender há vários anos. Queremos um mercado mais forte, onde as oportunidades são aproveitadas, em áreas como a energia, em que o governo do PSD e CDS-PP soube mostrar iniciativa e representar os interesses de Portugal e Espanha a nível europeu. Queremos mais ação na resposta à crise migratória e queremos novas soluções de segurança interna.

Não queremos o retrocesso de muitas décadas que constituiria a saída de Portugal da comunidade europeia e da moeda única. Não precisamos - nem podemos - ceder ao populismo à portuguesa das forças radicais, que defendem o isolamento de Portugal face à Europa, ao arrepio das nossas raízes europeias e passado comunitário. O PSD tem esta certeza muito clara, talvez por ter sido o partido onde a defesa de Portugal como um país europeu começou mesmo antes da sua fundação.

Somos parte da solução e, como fizemos ao liderar o governo anterior, trabalhamos por dar a todos os portugueses uma Europa mais forte. Fazemo-lo dentro de portas e no espaço comunitário, onde integramos a família política do Partido Popular Europeu, que fará certamente esta reflexão sobre o futuro no congresso, que se realiza na próxima semana.

Que as próximas décadas do projeto europeu tenham o entusiasmo e a esperança das primeiras. Que tenham o espírito reformista necessário para nos ajudar a responder aos desafios que a Europa tem deixado para trás. Que tenham a coragem política de reformar o que é preciso reformar, porque a alternativa pode ser a fragmentação do projeto europeu.

E que Portugal possa ser uma voz decisiva na resolução de problemas e soluções comuns.

*) Secretário-geral do PSD

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