A comédia do 'sexo fraco'
Mesmo o espectador que desconheça o trabalho de Ingmar Bergman tende a imaginá-lo como um autor exclusivamente ligado às cores sombrias do drama e, mais do que isso, ao confronto com a morte e os seus fantasmas. Afinal de contas, ele é o cineasta que tem na sua filmografia títulos como O Sétimo Selo (1957), Paixão (1969) e Lágrimas ou Suspiros (1972), em que a Morte, mais do que um tema, pode emergir como uma personagem ou um assombramento que contamina tudo e todos.
O certo é que a dimensão trágica do universo bergmaniano coexiste com algumas derivações plenas de ironia, deliciosamente cómicas. Exemplo esclarecedor poderá ser A Força do Sexo Fraco, produção datada de 1964 que, além do mais, representa uma viragem importante na evolução formal do cineasta, já que foi o seu primeiro título fotografado a cores.
Encenado em ambiente de estúdio, brincando com o seu próprio artifício, o filme narra a odisseia de um crítico musical empenhado em escrever a biografia de um célebre violoncelista, acabado de falecer. As suas investigações conduzem-no ao mundo feérico das musas do músico (o título original é: "Isto para não falar de todas aquelas mulheres"), envolvendo-o numa delirante saga burlesca. Longe de ser uma autobiografia, o certo é que o filme sempre foi visto como uma espécie de perversa caricatura da própria condição de Bergman como "artista consagrado". E o mínimo que se pode dizer é que ele sabia rir-se da sua própria fama.
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