A comédia da filosofia
Como muitas personagens que suscitam as emoções pueris das multidões, Giacomo Casanova (1725-1798) foi integrado, quer dizer, diminuído através do poder normalizador do estereótipo. Condenado à imagem do conquistador fútil e mecanizado, dele se foi esquecendo o reverso da gratificação compulsiva. A saber: um oceano de solidão. Não era outro o tema de Fellini no seu admirável Casanova (1976).
A solidão, entenda-se, pode não ser o espelho silencioso do mundo, antes a sua reconversão festiva em palco de todos os artifícios e máscaras. É essa a via escolhida por Michael Sturminger, em Variações de Casanova, filmando o admirável John Malkovich como um ser paradoxal e instável, em que as artes do fingimento se confundem, nem que seja por inusitado pudor, com os enigmas da revelação espiritual.