A cientista política texana que trabalha na NATO e que se rendeu a Lisboa
Foi ao Google e pesquisou "Monsanto". Ficou surpreendida. Eram bonitas as imagens da aldeia dita "a mais portuguesa de Portugal", mas pareceu-lhe estranho que as instalações da NATO pudessem coexistir com aquelas simpáticas casinhas de granito. Depois de investigar um pouco mais, percebeu a confusão de nomes entre a aldeia de Idanha-a-Nova e o parque florestal de Lisboa. Katie Mauldin nasceu no Texas, EUA, é analista e cientista política, mudou-se para a capital portuguesa em 2015 e trabalha na aliança atlântica.
A primeira vez que veio a Portugal foi para a entrevista de emprego, em dezembro de 2014. "Adorei a cidade e percebi logo que poderia viver aqui", recorda. Ainda assim, quando finalmente chegou, já de armas e bagagens, a experiência não foi tão boa. "Quando fui tratar do número de contribuinte nas Finanças o homem era mesmo antipático. Lembro-me de ele tirar os óculos, olhar para mim e dizer: "Vens para o meu país e não falas a minha língua?" O meu pensamento foi: "Mas tu és o presidente ou quê? Holy cow!" Fiquei a pensar "onde é que eu me vim meter?", mas desde então todas as pessoas têm sido excelentes", conta.
Katie nasceu no Texas, em 1985, e cresceu em Fort Worth, uma cidade com sete igrejas e cerca de 2500 habitantes. "Acho que havia mais vacas do que pessoas", graceja. A infância foi passada quase sempre fora de portas, no campo, muitas vezes a ajudar nas plantações da família. Lembra-se bem dos dias passados a apanhar e a debulhar feijão frade. O pai era canalizador e a mãe trabalhava numa escola. Katie tem um irmão e uma irmã. Ela é a mais nova dos três. A família continua toda no Texas. "Eu sou a maluca que veio para a Europa. Mas desde as eleições [com a vitória de Donald Trump], já não acham que seja assim tão maluca. Até já me perguntaram se tenho um quarto a mais", brinca.
Diz que sempre teve um fascínio pela história mundial e pela geografia, já desde pequena. No fim da escola, fez o curso de Ciência Política na cidade do Texas e depois um mestrado em Políticas Públicas no Indiana, em 2008, "nos bons velhos tempos quando o Obama foi eleito". Findos os estudos, começou a trabalhar em Dallas para o governo norte-americano, como analista no Government Accountability Office, uma agência que reporta ao Congresso. Cinco anos depois, quis novos desafios e foi então que começou a pensar na hipótese de ir para fora. Acabou na NATO, em Lisboa. Veio com o cão, o Samson, um yorkshire terrier. Katie leva-o sempre nas viagens que faz e Samson, além de Portugal e dos EUA, já esteve em mais dez países. "É um cão mais viajado do que muitos americanos", comenta.
Uma das coisas que a surpreendeu foi a facilidade dos portugueses com o idioma de Shakespeare. "Pergunto se falam inglês, respondem-me "um bocadinho" e depois começam a dar-me indicações num inglês perfeito." Também adora a comida e fala de muitas semelhanças com a tradição gastronómica texana, "por causa dos pratos pesados cozinhados num tacho".
Só se queixa da dificuldade em estacionar e conta que não foi fácil adaptar-se a um carro com mudanças manuais: "Nas colinas de Lisboa foi como um batismo de fogo. Assustador. Quando estava a subir uma colina e o carro da frente parava e tinha um atrás começava a transpirar. Pensava: "Pronto, não vou conseguir. Vou ficar presa nesta colina o resto da vida.""
Foi desde a capital portuguesa que acompanhou as eleições norte-americanas. Foi-se deitar por volta da meia-noite sem grandes preocupações, mas, por volta das 04.00, começou a receber mensagens. Foi então que soube que Donald Trump estava a caminho da vitória. "Só me lembro de pensar: "Meu Deus, o que é que vocês fizeram nas quatro horas em que estive a dormir?" Fiquei em estado de choque. É bizarro ter Trump depois de Obama. Obama não foi perfeito, mas fez muito pelos EUA a nível internacional. Esse trabalho está a ser estragado muito rapidamente."