A cervejaria que mudou de nome após a I Guerra

O famoso bife e os croquetes quentes são a imagem de marca desta cadeia de restaurantes que faz parte da história de Lisboa.
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Em 1925, a única cervejaria da Avenida Almirante Reis, que vendia cada caneca de cerveja a 1,5 escudos, mudou de nome por causa do fim da I Guerra Mundial - que culminou em 1918 com a derrota das potências centrais. A explicação é simples. Na altura, a Alemanha, em virtude de ter perdido, tinha a sua imagem manchada e manter em Portugal um espaço "de boémia" com o nome Germania parecia não ser uma boa ideia. Foi então que os proprietários decidiram chamar-lhe Portugália. O objectivo foi manter a terminação do nome mas retirar-lhe qualquer conotação negativa que pudesse existir. E deu resultado. Foi com este nome que a marca chegou aos dias de hoje, apesar de actualmente o seu forte não ser as cervejas.

O sucesso foi tal que logo nos anos 1930 os responsáveis começaram a servir snacks para que os clientes pudessem, além de beber, comer qualquer coisa. Porém, quem desenhou a Portugália que conhecemos foi Arménio Carvalho, duas décadas depois. O funcionário - ainda vivo - saiu da rotina das sandes e passou a servir um bife com molho, diferente dos que existiam nos outros restaurantes.

A ligação à cerveja perdeu-se mais tarde, com a nacionalização do sector cervejeiro que aconteceu após o 25 de Abril. Nesse mesmo período o restaurante alargou a oferta gastronómica aos mariscos.

"Desde o início que contamos com visitas diárias de pessoas conhecidas da nossa sociedade e além de algumas tertúlias, que ainda se realizam, temos outros clientes muito fiéis e que ciclicamente nos enchem a casa, como é o caso dos aficcionados pela tourada", diz Francisco Martins, administrador da actual cadeia de restaurantes e descendente da família fundadora.

Com o passar do tempo, o espaço da antiga Germania que recebia escritores e artistas, onde se realizavam tertúlias e onde foi rodado, na década de 60, o filme A Canção de Lisboa, tornou-se pequeno demais para tanta procura. Por esse motivo, em 1997, após muita ponderação, teve início nova etapa: a expansão aos centros comerciais.

A primeira loja foi no Colombo e possibilitou aos responsáveis tirar muitas conclusões. "Quando partimos para a abertura desta loja sabíamos que quem tem ambição em Portugal não pode excluir os centros comerciais, estamos a falar de autênticas catedrais de consumo. Mas depois de estarmos lá aprendemos muito mais coisas", disse o mesmo responsável sublinhando que foi nesse momento que surgiu a ideia de criar os balcões Portugália para refeições rápidas: "Em 2005 quando montamos o nosso primeiro balcão no Campo Pequeno, fizemo-lo com muita determinação porque já havíamos testado o modelo no Colombo."

Ao longo dos últimos anos, o objectivo deste grupo, que hoje detém também a cervejaria Trindade e a cervejaria Riba Douro, foi redesenhar todos os processos de confecção, adaptando-os às exigências actuais mas sem destruir a tradição.

"Temos clientes que nos dizem que devíamos ter o bife à Portugália na Trindade e o contrário, mas nós não cedemos, porque isso seria uniformizar espaços diferentes que têm passados e tradições únicas", explicou Francisco Martins. No entanto, a inflexibilidade não existe quando se fala de inovação. Todos os anos, os restaurantes do grupo lançam cerca de 10 novos pratos com o objectivo de surpreender os clientes.

A internacionalização da Portugália poderá acontecer nos próximos anos, apesar de ainda haver muito a fazer no mercado nacional. "Começamos já a pensar na expansão até aos países africanos de língua portuguesa, Brasil ou França. Em Portugal não prevemos, para já, nenhuma abertura, mas temos ainda muito por fazer nos espaços já abertos", concluiu.

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