A cerimónia das estatuetas ainda é o que era? Os cinéfilos explicam

Inês de Medeiros e o editor Manuel S. Fonseca partilham o amor pelo cinema. Não tanto pela cerimónia...
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As oito horas que separam os fusos horários de Portugal continental e Los Angeles obrigam a diretas a quem quiser saber se é desta que Leonardo DiCaprio leva a estatueta dourada para casa. Já houve um tempo em que o editor Manuel S. Fonseca, antigo colaborador da Cinemateca Portuguesa, fazia comentários na rádio noite dentro. Hoje fica-se pela cerimónia de abertura - "há sempre uma cerimónia de abertura fantástica" - e vê depois "os pontos de interesse". A cerimónia mudou. "Havia mais espontaneidade", reflete.

"É raro haver um Roberto Benigni", diz. O italiano, vencedor do galardão para melhor filme estrangeiro em 1999, protagonizou um momento histórico nessa noite, subindo as cadeiras do auditório, quando o seu nome foi pronunciado pela atriz Sophia Loren. Nessa noite, ainda voltou ao palco uma segunda vez para receber o Óscar de melhor ator.

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Manuel S. Fonseca vai ainda mais atrás e lembra os anos 50. "Era uma cerimónia de amigo. Eram jantares, riam-se e diziam piadas maldosas, "como é que ganhaste isto?"", recorda. "Isso era a velha Hollywood. Riam-se deles próprios e não se levavam muito a sério".

Além da espontaneidade perdida, Manuel S. Fonseca diz que a cerimónia "tornou-se mais política". A polémica em torno da possibilidade de introduzir quotas é mencionada pelo editor da Guerra & Paz. O facto de não existirem atores negros entre os nomeados suscitou opiniões, reações dos membros da Academia e até o boicote de Will Smith e da mulher, Jada Pinkett Smith, à gala. E na imprensa norte-americana foi levantada a possibilidade do fim das distinções entre melhor ator e atriz. "Hoje é mais uma questão de marketing", diz. E do peso dos estúdios, acrescenta.

Entre os oito nomeados, o preferido de Manuel Fonseca é justamente um filme pequeno, O Quarto, realizado por Lenny Abrahamson e protagonizado por Brie Larson (também nomeada). É, acrescenta o ex-diretor de programas da SIC, o tipo de filme que não vencerá. O Renascido, de Alejandro G. Iñarritu, tem somado prémios e atenções, mas não está entre os melhores para Manuel S. Fonseca. "É o filme para quem quer mostrar que sabe". Tirando a fotografia do diretor de fotografia do Terrence Malick [Emmanuel Lubezki] que faz uns planos deliciosos".

Outra cinéfila habituada a perder é a ex-deputada Inês de Medeiros. "Normalmente os que acho os melhores filmes nunca ganham nada", ri-se. "Nos atores são sempre pessoas em que reconhecemos grande talento mas nos filmes nem de perto nem de longe", considera. É o que a faz vir dispensando a direta da noite dos Óscares e ficar-se pelos resumos do dia seguinte. "Sigo com mais atenção os prémios da Academia Portuguesa de Cinema, em que estou envolvida".

É, porém, a primeira a notar a importância dos prémios. "São importantes para apoiar a produção, sejam os Óscares, os Césares ou os Sophia. É bom existir esta avaliação de realizadores, atores e produtores, há solidariedade entre pares, ninguém se inibe de criticar e votar democraticamente", diz, lançando um repto: "Todos os que gostam dos Óscares envolvam-se na Academia Portuguesa".

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