A causa das causas

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A quantos debates se tem assistido sobre o afastamento dos eleitores da vida pública? Quantas infindáveis teorias e teses foram já redigidas sobre a falta de comparência dos cidadãos? Entre a análise dos porquês, especialmente junto dos mais novos, importa perceber as causas do seu afastamento e do que move esta nova geração.

Na semana passada os jovens saíram à rua para lutar contra as alterações climáticas. A mancha de juventude viu-se um pouco por todo o lado e foi "curiosamente" na mesma semana em que se falou da revisão do texto máximo da República.

Portanto, da saída à rua dos jovens em defesa do seu ideal e do futuro coletivo, à sensação que os mesmos apenas se representam nas redes sociais, há uma grande distância. Os nativos digitais são efetivamente fortes nas redes, mas também muito atentos aos detalhes da vida quotidiana que os rodeia.

As novas gerações saem da "bolha virtual" tal e qual como as anteriores o fizeram quando havia que lutar por algo maior do que cada um.

Sem pretender entrar na discussão do que motivou a saída à rua e o respeito que essa merece, importa talvez realçar a amplitude e peso dessa causa coletiva. Afinal de contas ainda vigora a semana da COP 27, onde com mais ou menos bluff se discute o futuro de todas as gerações e espécies do planeta.

Paralelamente, essa foi também a semana em que se deu início ao debate político sobre a Revisão Constitucional. Nesse, um dos temas chave é a mudança da idade do voto, dos 18 para os 16 anos.

A proposta é, no mínimo, intrigante. Por exemplo, nos Estados Unidos da América é possível obter a carta de condução aos 16 anos em vários estados. O mesmo já não se verifica para o exercício do voto com a mesma idade. Os poucos estados que o autorizam permitem-no apenas ao nível das eleições locais.

Quer isto dizer que nos EUA, onde se conduz aos 16 anos na generalidade dos estados, ou se pode comprar uma arma aos 18 (de acordo com a última legislação aprovada), só se pode votar aos 18 anos.

Já na Europa, à exceção do Reino Unido onde se conduz aos 17, para votar aos 16 só mesmo na Áustria, Escócia ou Malta. Os restantes países europeus só permitem o voto aos 18 anos de idade.

Sem retirar mérito à questão (bem pelo contrário), pergunta-se: porque é que Portugal quer permitir que jovens de 16 anos votem quando não os deixa conduzir com a mesma idade? A resposta pode ser mais simples do que parece: estes jovens são os mesmos que, de facto, estão realmente interessados no que os rodeia, ou seja, nos tópicos mais prementes da sociedade.

O que por vezes sucede é uma espécie de conflito geracional, no qual eles e as gerações anteriores discordam no timing e na hierarquização dos assuntos. Assim, por todas as razões, é preciso estar atento e, acima de tudo, dar voz a quem dela faça uso. Só desse modo se apreenderá a causa das causas.

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