Cerca de 700 mil portugueses a ver Barbie e Oppenheimer? A loucura do Barbenheimer não é só portuguesa, longe disso - é um fenómeno global. O mundo está a viver um dos mais espantosos fenómenos de bilheteira dos últimos anos, um verdadeiro ressurgimento da força do negócio das salas. O chamado triunfo do marketing na era do digital e do dealbar da IA. Se será fenómeno isolado ou o princípio de uma nova época dourada, ainda será cedo para dizer, sobretudo antevendo os problemas e constrangimentos que a greve dos atores e dos argumentistas já está a causar - a Warner pondera adiar Duna- Parte 2, de Denis Villeneuve e a Sony já chutou para 2024 alguns dos seus colossos, entre os quais o aguardado Kraven, O Caçador, de J.C Chandor..Este fim de semana passado a onda rosa de Barbie, de Greta Gerwig, continuou a esgotar salas de norte a sul. Foram 130 mil bilhetes vendidos que fazem com que os números totais ascendam a mais de 450 mil pessoas, podendo facilmente tornar-se no maior campeão de bilheteiras do ano. Neste momento, Fast X, de Louis Leterrier, continua nas salas e ainda ocupa o trono com 686 mil entradas. O segredo de Barbie é a transversalidade de públicos, trata-se do verdadeiro blockbuster que atrai miúdos e graúdos, provocando também grandes discussões, crónicas em jornais e falatório na net: são muitos os que comentam as mensagens de feminismo do argumento de Greta Gerwig e do seu companheiro, Noah Baumbach, mas também são muitos aqueles que discutem os aspetos cromáticos e o "look" do filme. Aliás, esta onda de fenómeno social do filme tem feito com que muitas sessões tenham um efeito de "acontecimento" com público vestido em tons rosa. Atrás deste entusiasmo, um outro filme a lucrar e a tornar-se num imenso sucesso: Oppenheimer, de Christopher Nolan, que para além da boleia do Barbenheimer conseguiu ganhar vida própria e colocar os seus temas de novo na ribalta, a saber: as convulsões do nuclear e as eternas questões entre ciência e geopolítica. 74 mil bilhetes no segundo fim-de-semana é um marco extraordinário e ainda são mais os 205 mil no acumulado, sobretudo se pensarmos que são três horas e com uma estrutura engenhosa de biografia que não encena o percurso do homem mas confronta uma perceção dos seus atos...Ou seja, mesmo com os memes e as ligações à data de estreia de Barbie, houve uma vontade das audiências em querer ver dois filmes o mais díspares possíveis e onde o patriarcado é notório..Nos EUA os números dos dois filmes por estes dias fazem renascer a esperança de uma nova vaga de Hollywood (Francis Ford Coppola veio a público referir que este momento é um sinal para uma nova era dourada para o cinema!) , isto depois de uma temporada veraneante onde certos filmes não fizeram números decentes, em especial The Flash, da Warner, o mesmo estúdio de Barbie. O flop do super-herói pressupôs um fim de linha para os filmes da DC e foi a prova de que mesmo os adolescentes já estão com a fadiga deste tipo de abordagem. A Disney também teve dissabores com os insucessos de Elemental, da Pixar e com o regresso de Indiana Jones, desta vez sem Spielberg, que mesmo não sendo um verdadeiro fracasso, está a ter receitas que estão longe de cobrirem os elevados custos da sua produção. A própria Universal foi surpreendida pela má reação na América a Fast X, filme que globalmente tem números fortíssimos. A questão está em saber se a originalidade e o fascínio de Barbie e Oppenheimer foram apenas uma boa anomalia ou se a máquina de Hollywood vai aprender e apostar em formatos novos e vozes mais irreverentes... Será sempre bom lembrar que Greta Gerwig veio do cinema independente..Os recordes de Barbie são esmagadores: conseguiu ser o filme mais lucrativo realizado por uma mulher e é o segundo melhor fim-de-semana de sempre para o estúdio, tudo isto num dos mais rentáveis fins-de-semana de sempre nos EUA, muito impulsionado também pelas receitas inflamantes do épico de Nolan. Barbie somou 93 milhões de dólares no segundo fim de semana e o seu total fora dos EUA ascende aos 423 milhões, esperando-se que o bilião de dólares se concretize o mais rapidamente possível. Entretanto, são muitos os que acham que este fenómeno não vai abrandar. Mansão Assombrada, da Disney, estreou-se contra a boneca da Mattel e estampou-se à grande, quer no mundo inteiro, quer em Portugal. E olhando para o que aí vem, Barbie e Oppenheimer não terão muita concorrência de peso, a não ser que Gran Turismo, de Neil Bloomkamp, consiga realmente trazer consigo o fanáticos dos videojogos e que o novo Tartarugas Ninja consiga congregar os totós de todo o mundo....O sucesso de Barbie e Oppenheimer foi ainda benéfico para um pequeno filme de índole cristã que não pára de faturar, Sound of Freedom, de Alejandro Monteverde, verdadeiro êxito surpresa que já foi apelidado de cinema fascista. Uma história verdadeira financiada pelo Angel Studios, uma casa de produção fora do sistema de Hollywood que montou uma promoção boca-a-boca junto da América mais conservadora para promover um thriller com Jim Caviezel na pele de um ex-agente governamental a atuar por conta própria para levar à justiça criminosos do tráfico de menores. Sound of Freedom não está comprado para o mercado nacional e nos EUA faturou mais de 150 milhões de dólares. Esta tempestade perfeita de entusiasmo com o regresso às salas também contou o fator Missão Impossível: Ajuste de Contas- Parte 1, de Christopher McQuarrie, porventura o melhor filme do verão, grande sucesso mas que poderia ter feito bem mais se não tivesse de ceder os seus ecrãs IMAX (importantíssima receita para os blockbusters) para Oppenheimer.