A banca rota
O país está um pouco anestesiado e não se dá conta, mesmo que o tema seja motivo de conversa, de que há um assunto muito sério para resolver. Não sendo economista, estou habilitado a dizer disparates que façam sentido: o país está hoje tão perto da bancarrota como estava em 2011, quando chamámos a troika. Já não é o Estado que está incapaz de se financiar a preços normais nos mercados, é a banca, que gostava de conceder crédito às empresas e não consegue. Num país normal, esta bancarrota era mais grave do que a anterior, neste país dependente dos cofres do Estado é ela por ela.
Para lá do crédito malparado, que nos dizem que ronda os 20 mil milhões mas pode ser mais, o que está agora a preocupar quem dirige os bancos são as consequências da venda do Novo Banco. Dizem que pensar em vendê-lo por 1,5 mil milhões é demasiado optimista, mas mesmo assim perdiam-se 3,4 mil milhões que lá foram colocados. E quem paga?
Estamos entre a espada e a parede. Por um lado, é imoral continuar a pôr os contribuintes a pagar e o primeiro-ministro já disse que não o fazia. Por outro, manter a factura no sistema financeiro é pôr uma espada sobre o pescoço de quem não entrou em loucuras. Se o dinheiro não chega à economia no ponto em que estamos, imaginem o que acontece se estes milhares de milhões tiverem de ser assumidos como passivo? Não há mais nenhum sector onde sejam os bons operadores que têm de pagar os erros dos maus operadores.
Há também a Caixa Geral de Depósitos, banco público de que todos os contribuintes são accionistas, e que precisa de um aumento de capital, que era de dois mil milhões na semana passada e que pode chegar aos quatro mil milhões, segundo notícias desta semana. Ou se abre o capital aos privados (espanhóis, alemães, chineses...) ou o Estado assume o aumento de capital, que a Europa diz que não deixa, mas que António Costa assume como inevitável. Aqui não há volta a dar, tem custos para os contribuintes. A argumentação do primeiro-ministro é a de que são eles os accionistas.
E para um país que anda a discutir décimas do défice com a Comissão Europeia, centenas de milhões que podem exigir um plano B com um pequeno reforço na austeridade, de repente descobre-se que a saída limpa foi uma grande aldrabice. Varreram para debaixo do tapete cerca de oito mil milhões de euros, qualquer coisa como 5% do PIB. Acrescem mais de dois mil milhões de custos com o Banif.
Todo o esforço, todo o sacrifício, toda a poupança que se faz continua a perder-se pelo caminho. Continua a pagar o justo pelo pecador. Pagam os bancos bons pela incompetência de quem geriu os bancos maus e pagam os trabalhadores contribuintes. Só não se conhece sentença compatível para quem provocou esta bancarrota.