A austeridade dos afetos
Poupa-se no cenário para facilitar o salto de uma personagem para outra: D. Purificação vive no rés-do-chão, cercada de cremes de beleza, com que tenta tapar rugas e pés-de-galinha, de plantas e flores que não crescem, sendo proporcionalmente insultadas por via dessa obstinação pelo raquitismo, e de desejos de morte. A sua maior preocupação, além da rotina montada em galão e torrada, três vezes ao dia, é a filha, Pilar, amantizada com Vítor, casado e facínora à escala da cidade pequena e balnear, sede de um casino, cafés, tascos e esplanadas que reconhecemos de múltiplas paragens, base de umas quantas figuras com que, de forma sortida, já nos cruzámos.
Lá mais para cima, no mesmo prédio mas ao nível do terceiro andar, um homem - que é preferível deixar assim, anónimo, apesar de identificado - que trocou a pública vergonha (desfalque, via rápida para resolver o vício do jogo, segundo ficamos a saber) pelo exílio de uma clandestinidade.
Rui Cardoso Martins - guionista de cinema, humorista de TV, jornalista premiado solta estes dois polos de atração paralelos em O Osso da Borboleta.
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