A ascensão e queda esperada de Bannon na Casa Branca
"You"re fired" - em português: "está despedido". Durante 14 temporadas foi esta a frase com que Donald Trump eliminava os concorrentes do reality show O Aprendiz. Agora, na Sala Oval, o presidente dos EUA parece manter um registo semelhante, tendo em conta a onda de saídas e demissões em sete meses de presidência. Ontem a porta da rua abriu-se para Steve Bannon, o chefe de estratégia da Casa Branca, conhecido também pelas ligações à extrema-direita.
Nas últimas semanas - e principalmente depois dos protestos e confrontos em Charlottesville -, era cada vez mais claro que os dias de Bannon ao serviço de Administração estavam contados. O agora ex-estratega de Trump há muito que tinha entrado em rota de colisão com outras fações dentro da Casa Branca, nomeadamente com Jared Kushner, conselheiro e sogro do presidente.
Escreve o The Washington Post que o general John Kelly - que há três semanas assumiu o posto de chefe de gabinete do presidente com a missão de pôr ordem na equipa da Casa Branca - já tinha decidido há algum tempo que Bannon teria que sair. Tudo se precipitou nos últimos dias. Com os confrontos de sábado em Charlottesville, entre supremacistas brancos e antifascistas - que resultaram na morte de Heather Heyer, de 32 anos -, levantaram-se cada vez mais vozes a pedir a saída de Bannon. Durante quatro anos, o chefe de estratégia de Donald Trump liderara o site de informação Breitbart News, que serve como plataforma para a extrema-direita norte-americana. A continuidade de Bannon entre os próximos de Trump seria assim cada vez mais prejudicial para a imagem de uma Casa Branca que vive tempos conturbados. "Vamos ver", respondeu o presidente na quarta-feira, quando os jornalistas lhe perguntaram sobre a fragilidade do emprego de Bannon.
No dia seguinte, a poeira aumentou ainda mais com uma entrevista que o chefe de estratégia deu à revista progressista The American Prospect. Bannon aproveitou para contradizer Trump na questão da Coreia do Norte, rejeitando a hipótese de uma intervenção militar. De acordo com a imprensa norte-americana, fontes próximas de Bannon levantam duas hipóteses. Há quem defenda que ele pensava que a conversa com o editor da publicação era em off the record. Mas outros dizem que foi propositado para partir definitivamente a corda.
Também ainda não é claro se Bannon saiu pelo próprio pé ou se foi empurrado. Segundo Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, Kelly e o chefe de estratégia chegaram a mútuo acordo para a saída. No entanto, o The Washington Post, a Reuters e o The New York Times escrevem todos que a decisão partiu de Donald Trump. O Politico acrescenta ainda que o presidente "estava farto" da forma como Bannon lidava com os assuntos e que andava a pensar em formas de fazê-lo sair.
Na mesma conferência de imprensa em que Trump disse "vamos ver" sobre a continuidade do seu chefe de estratégia, também sublinhou que Bannon era um "amigo" e uma "boa pessoa" e que tinha sido tratado pela imprensa de forma "injusta". O agora ex-estratega foi diretor de campanha de Trump e é visto como um dos artífices da sua eleição, tendo sido ele a moldar muitos dos slogans populistas com que o atual presidente convenceu os apoiantes. Bannon deixa a equipa de Donald Trump exatamente um ano e um dia depois de ter sido contratado para diretor de campanha.
"Há menos um supremacista branco na Casa Branca, mas isso não muda o homem que continua sentado atrás da secretária", afirmou ontem, em comunicado, Michael Tyler, o porta-voz da Comissão Nacional do Partido Democrata.
Bannon não foi a única saída a marcar o dia de sexta-feira. Também ontem, os 16 membros da Comissão Presidencial para as Artes e Humanidades, revoltados com a forma como Trump lidou com Charlottesville, apresentaram o pedido de demissão. "Não podíamos ficar sentados de forma indiferente sem nos levantarmos contra as suas palavras e ações". Todos os parágrafos da carta endereçada ao presidente começam com a palavra "resistir" e os assinantes chegam mesmo a sugerir a Trump que se demita. "Ignorar o seu discurso de ódio faria de nós cúmplices das suas palavras e ações", acrescentam os demissionários.
Por não ter distinguido claramente os supremacistas brancos dos contra-manifestantes em Charlottesville, sublinhando que havia culpados nos dois grupos, Trump tem sido alvo de uma tempestade de críticas. Mitt Romney, ex-candidato presidencial do Partido Republicano derrotado por Barack Obama nas eleições de 2012, disse ontem que Trump devia pedir desculpa ao norte-americanos.