A arquiteta da Casa da Música de volta a Portugal

Ellen van Loon fez parte da equipa que concebeu a Casa da Música no Porto. Está no CCB a falar sobre arquitetura
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"Como está a situação do país?" A pergunta é da entrevistada, Ellen van Loon, arquiteta, depois de falar com o DN sobre a conferência que dá esta quarta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a convite da Trienal de Arquitetura. A pergunta justifica-se. Ela esteve envolvida no projeto do holandês Rem Koolhaas para a Casa da Música, no Porto, e não voltou desde a inauguração do edifício, em 2005. "Tenho muita curiosidade de ver."

Na conversa telefónica que segunda-feira teve com o DN, pergunta pelos efeitos da crise, a palavra que mais surge ao longo da chamada. "A arquitetura depende muito se estamos numa situação de crise ou do tipo de clientela, de quem é o utilizador." É disso que fala na palestra, às 19.00, numa retrospetiva "também atual" do seu trabalho no gabinete OMA, fundado por Koolhaas em 1975 em Roterdão e hoje com braços que chegam a Nova Iorque, Pequim, Dubai e Hong Kong.

Ellen entrou em 1998, e tem dificuldade em dizer quantos projetos tem em mãos atualmente. Alguns sobressaem: uma biblioteca multimédia em França, o Centro de Arquitetura de Copenhaga, e, recentemente, o edifício da Fundação Prada, uma antiga fábrica feita museu, em Milão.

Respeitar a cultura do local é um dos mantras repetidos pela equipa quando fala dos seus projetos. Atribui o sucesso desse empreendimento ao facto de existirem "diferentes nacionalidades" no OMA. Mas não só. "Quando vamos a um país que não conhecemos temos uma vista mais limpa", acredita. "Não é que estejamos sempre certos", admite.

No caso da experiência com Portugal, Ellen van Loon, 52 anos, tem sido espectadora das muitas mudanças. Pisou Portugal pela primeira vez com 18 anos, "quando Portugal ainda nem pertencia à União Europeia", sublinha. "O país mudou imenso. Era pobre e barato, ótimo para viajar. Fiquei surpreendida com as pessoas, como eram abertas aos estrangeiros." Foi em 1982 e ela tinha acabado de decidir ser arquiteta porque "adorava matemática". Se em pequena gostava de desenhar fatos para bonecas, adolescente diz que o que a levou a tomar a decisão "foi o interesse no cálculo abstrato". E criar modelos matemáticos. "A minha abordagem à matemática era criativa", resume. "O resto aprende-se depois", diz, referindo-se à técnica.

O que também lhe interessou na arquitetura foi ser "permanente". "Tem uma grande influência nas cidades." Quando fala na Casa da Música, reforça a ideia: "A cidade também mudou por causa do edifício", considera. "Quando se desenha um edifício é a 5 anos, queremos acrescentar uma coisa que nunca foi feita."

O último contacto tem 15 anos, quando começou a trabalhar neste projeto atribuído ao arquiteto Rem Koolhaas por altura do evento Porto Capital Europeia da Cultura. "Descobri um mundo que não conhecia", começa por dizer. "Lisboa é um pouco mais internacional, o Porto é uma cidade dominada pela arquitetura de Siza. No início havia oposição a este tipo de arquitetura", lembra. "Houve discussões péssimas, as pessoas eram contra o edifício. Não nos sentimos muito bem-vindos." A surpresa surgiu precisamente do primeiro Pritzker português que "apoiou o design da Casa da Música", relembra.

Trienal arranca a 6 de outubro

Sob o título A Forma da Forma, com curadoria de André Tavares e Diogo Seixas Lopes, a quarta edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa tem como principal objetivo estimular o debate em torno da prática da arquitetura.

O programa, que vai realçar os desafios que os arquitetos enfrentam nos dias de hoje, inclui três grandes exposições, todas a inaugurar a 6 de outubro. O Museu da Eletricidade vai receber a mostra central, que se apropria do título geral desta edição, Obra estará patente na Gulbenkian e a Garagem Sul do CCB acolhe O Mundo nos Nossos Olhos.

(Notícia originalmente publicada dia 16 de fevereiro de 2016. Alterada a 17, dia da conferência no CCB)

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