70% dos treinadores em Portugal mudaram em apenas sete meses
Nos 40 clubes profissionais que compõem a I e II Liga já se registaram 29 mudanças de treinadores desde o início da temporada iniciada em julho, ou seja, em sete meses - o último foi João de Deus, do Sporting B, esta semana. Ou seja, já se registaram quase 70% de trocas de técnicos, concretamente 69,5%, a esmagadora maioria por falta de resultados, sendo que na I Liga a percentagem de mudanças é superior - 72% contra 65%. Os baixos salários ajudam a explicar esta dança de treinadores.
A primeira mudança nas ligas profissionais surgiu logo à quinta jornada, quando o Marítimo, da I Liga, demitiu o brasileiro Paulo César Gusmão após quatro derrotas e uma vitória. Terá o técnico tido o tempo suficiente para tomar conhecimento da realidade dos insulares e do campeonato português?
"Esse é um bom exemplo. Um treinador novo, numa realidade nova e é despedido ao final de pouco mais de um mês. É difícil de explicar, sem dúvida, as razões só os clubes saberão, mas serão certamente complicadas de esclarecer. Estamos a falar em cinco partidas apenas", disse ao DN Luís Larcerda, responsável pela administração de cursos de treinadores de Grau C da UEFA, considerando que há muita qualidade nos técnicos nacionais.
"Os treinadores estão preparados, mas infelizmente em Portugal os resultados querem-se no imediato, não há paciência. É claro que por vezes as coisas também não correm bem, como em qualquer profissão, mas tudo se precipita rápido. Em quase nenhuma liga mundial há seis ou sete despedimentos antes da 10.ª jornada, cá torna-se vulgar", lamentou.
Em entrevista recente ao DN, o treinador Manuel José afirmou que no futebol profissional português "ganha-se pior hoje do que há 20 anos". Luís Lacerda diz que o fator salarial também ajuda aos despedimentos no futebol português.
"Não estou por dentro da realidade de todos os clubes portugueses, mas é óbvio que isso ajuda, de facto. A grande maioria dos clubes não são ricos, não podem pagar grandes salários e por isso se explica o número elevado de despedimentos, dado que as indemnizações aos treinadores que saem são baixas, até porque os próprios contratos são de curta duração, normalmente válidos por um ano. Só os grandes podem pagar mais e os despedimentos são num período de tempo mais alargado, é raro ver uma mudança num desses clubes em quatro ou cinco jornadas", referiu.
Só seis trocas foram "pacíficas"
Das 29 mudanças registadas até ao momento nos campeonatos profissionais, apenas seis saídas não se registaram devido aos maus resultados desportivos, nomeadamente as de Jorge Simão (Desportivos de Chaves), Lito Vidigal (Arouca), na I Liga; Daniel Ramos e Quim Machado (Santa Clara), Luís Castro (FC Porto B) e Ricardo Soares (Vizela), que foram convidados por clubes de maior projeção.
De realçar também que das 29 trocas registadas até ao momento apenas duas levaram à entrada de treinadores estrangeiros para os clubes nacionais, nomeadamente a de Jokanovic para o lugar de Manuel Machado no Nacional da Madeira e do espanhol Pedro Carmona para o Estoril.