7 Maravilhas: "Vamos sentar Portugal à mesa"

No próximo ano, o concurso vai eleger as melhores mesas do país - numa associação de gastronomia, vinhos, azeite e roteiro turístico.
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Perdiz de escabeche, lúcio-perca, vitela de São Lourenço, vinhos branco e tinto, azeite e legumes. Estes são os petiscos que o chefe José Júlio Vintém pôs na mesa com que a Herdade de São Lourenço do Barrocal (Monsaraz) se vai candidatar ao concurso 7 Maravilhas à Mesa. "Demos prioridade aos nossos produtos, a carne biológica é das nossas terras, assim como os legumes, e o vinho e o azeite são produzidos por nós", explicou o chefe, perante a mesa posta sob um dos alpendres da herdade de turismo de cinco estrelas, com vista para a planície e as oliveiras.

Esta é a primeira mesa, espera-se que a partir de sexta-feira, quando abrirem as candidaturas, muitas mais mesas apareçam. O concurso foi ontem oficialmente apresentado e Luís Segadães, o mentor da iniciativa 7 Maravilhas, anunciou o objetivo: "Vamos sentar Portugal à mesa!" A ideia é ir muito além do que se come, é potenciar toda a experiência de estar à mesa e desfrutar desse momento. Por isso, além da gastronomia, os vinhos e os roteiros turísticos são os outros pilares desta edição.

Cada candidatura, que poderá ser apresentada por uma entidade pública ou privada, terá de resultar da associação de sete elementos destes três pilares: gastronomia (pão, petiscos, sopas, peixe e marisco, carne e caça, queijos, produto endógeno); vinhos (de diferentes tipo) e azeite; e ainda um roteiro turístico (território vinhateiro, património histórico, cultural ou natural, museus, adegas, algares, queijeiras, evento de afirmação territorial, experiências únicas, alojamento turístico). O objetivo é ter "uma mesa completa", de modo a "promover as regiões e o mundo rural" ao mesmo tempo que se estimula o turismo.

O prazo de candidaturas estende-se até 27 de fevereiro, quando um painel de especialistas se reunirá para escolher as 49 mesas pré-finalistas- sete de cada uma das sete regiões do país (embora para efeitos de concurso os limites das regiões tenham sido ligeiramente adaptados para incluírem as zonas vinícolas). Dessas, serão depois eleitas as 14 mesas finalistas (obrigatório uma mesa de cada região).

Entre os critérios a serem tidos em consideração pelo júri, além da qualidade, é a preferência por produtos da região e o respeito pela tradição. "Não tenho nada contra as estrelas Michelin, mas temos tantas coisas boas em Portugal, é disso que andamos à procura", diz Luís Segadães. "Queremos dar ênfase aos produtos locais, ao melhor que cada região tem." De uma mesa alentejana não se espera que apresente sardinhas, assim como uma mesa do Minho não terá açordas.

O organizador assume também que esta é uma edição onde o vinho tem um papel central. "Como em qualquer mesa", brinca. Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho, parceiro na organização do concurso, lança o repto: "Temos de deixar de ser o país do sol e do mar. Temos mais para mostrar."

Carlos Coelho, especialista em marketing, responsável pela imagem da iniciativa, explica que o concurso das aldeias "mostrou-nos que este é o momento certo para nos reconciliarmos com o país". "Há uma certa euforia no país que não deve ficar por Lisboa e pelo Porto", afirmou. O que o concurso das 7 Maravilhas propõe é "uma valorização das nossas coisas, não na perspetiva fechada e nacionalista, mas pensando que não queremos um país pobre". Ou, como sublinhou, José Calixto, presidente da Câmara Municipal de Reguengos: "O que se pretende, como sempre, é falar dos territórios e dos seus recursos endógenos, sem os descaracterizar", sublinha.

Luís Segadães fez questão de sublinhar o valor simbólico do número 7. Esta será a sétima edição do concurso que começou em 2007. Nesse ano, foram eleitas as maravilhas do património português, seguiram-se as maravilhas portuguesas no mundo (2009), as maravilhas naturais (2010), da gastronomia (2011), as praias (2012) e, depois de um interregno, as aldeias (este ano). "As aldeias tiveram um sucesso enorme, inesperado, excederam em muito as nossas expectativas", admite, sublinhando a capacidade de mobilização das comunidades, a adesão do público (com recordes de votação) e, por fim, os efeitos que a iniciativa teve na promoção do interior do país.

O sucesso das 7 Maravilhas é tal que Luís Segadães tem já na carteira uma série de ideias para futuras edições. E deixa só uma pista: "Já reparou que estas mesas não têm doces?"

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