640 jovens médicos ficam sem fazer especialidade

As 1758 vagas esgotaram e 370 jovens médicos não tiveram hipótese de escolher. Outros 270 desistiram durante o processos
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Oficialmente o processo de escolhas de vagas para o internato da especialidade só devia terminar esta tarde. Mas as vagas esgotaram ontem de manhã, deixando 370 internos sem qualquer possibilidade de escolha. Durante o processo outros 270 desistiram por não terem vaga na especialidade ou no local que queriam. No total são 640 jovens médicos que não iniciar a especialidade a 2 de janeiro. Este ano foram 2393 candidatos para 1758 vagas.

"A última pessoa a escolher tinha 47%. Ficaram 370 internos sem poder escolher e houve mais 270 que desistiram ao longo do concurso, alguns com 80%, porque não tinham já vaga na especialidade ou local onde queriam fazer formação. Independentemente de fazer crescer o número de vagas - este é o maior número de sempre - não acompanha a proporção de candidatos que é injetado no sistema. Durante pelo menos os próximos seis anos a situação irá agravar-se. As capacidades não esticam e haverá mais pessoas a ficar sem especialidade. É a precarização da profissão. O problema está em não haver coragem para baixar o número clausus", diz Edson Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno.

Em dezembro os jovens que ficaram sem vaga terminam o ano comum. "Os 370 podem repetir o exame já este ano e voltar a concorrer. No final do ano comum têm autonomia para exercer como clínicos gerais e podem fazer urgências, trabalhar em lares ou clínicas, na indústria farmacêutica, concorrer a concursos para clínicos das forças armadas ou emigrar", diz.

Associação Nacional de Estudantes de Medicina lamenta que a situação não só se repita como se agrave de ano para ano. "Pelo terceiro ano consecutivo, mais 347 médicos viram a sua formação interrompida, o que representa um aumento de 63% face ao verificado o ano passado (213)", aponta.

Questionado sobre a falta de vagas, Alexandre Valentim Lourenço, presidente da secção sul da Ordem dos Médicos, diz que é preciso desmitificar a situação, dando o exemplo dos 114 internos que há dois ficaram sem vaga para especialidade. "Esses 114 tinham todos nota abaixo dos 50%. O último tinha 7%. A última pessoa deste ano têm 11%. Tenho de dar oportunidade de formação a todos. Dar a formação, tenho de dar àqueles que tenham as condições mínimas de poder exercer medicina", diz, defendendo a existência de uma nota mínima. "Se fosse 50%, há 600 pessoas abaixo desse valor e ficariam vagas por preencher. Há uns anos a nota mínima era de 50%. Deixou de haver no ano em que queriam ter 900 colocados e acima dos 50% só tinham 600."

Quanto às desistências, lembra que muitos tinham notas altas. "São pessoas que não querem aquelas vagas, porque ou já estão a fazer uma especialidade ou não acharam que aquelas seriam boas para eles. A questão não é especialidade para todos, é especialidades de qualidade para todos. Este ano foram 300 a fazer especialidade que concorreram outra vez porque não estão satisfeitos com a especialidade ou com o sítio onde estão a fazê-la. Todos os anos isso acontece. Significa que algumas vagas que estamos a abrir não são atrativas", adianta.

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