600 cirurgiões em Lisboa para assistir a maratona de operações

Aprender mais sobre a utilização de robôs na sala de operações é um dos objetivos do congresso europeu. Em Portugal só existem três - todos em privados
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As atenções dividem-se entre as três imagens dos blocos operatórios onde decorrem, em simultâneo, as cirurgias - três doentes estão a ser operados aos rins, para retirar tumores malignos. Não será um programa de televisão muito apelativo para a maior parte do público, mas este é especial: na plateia da Fundação Champalimaud há centenas de médicos de 39 países que vieram a Lisboa para um congresso europeu sobre os desafios da utilização da robótica na urologia. Ao longo dos próximos dois dias, vão poder assistir a 23 operações, 12 com recurso a robôs cirúrgicos de última geração.

Zhou-Jun Shen veio da China e já fez mais de 800 laparoscopias com a ajuda de um robô - são cirurgias pouco invasivas, feitas através de incisões onde são introduzidos os instrumentos e uma câmara. Há 30 anos, quando saiu da universidade, ainda não se fazia este tipo de cirurgia e a utilização de robôs era do domínio da ficção científica. Hoje há cinco sistemas robóticos no hospital de Xangai onde trabalha e Shen não tem dúvidas: mesmo que sejam ainda muito caros, o médico acha que vão fazer o mesmo caminho dos carros ou dos computadores e tornar-se vulgares. Por isso, é preciso aprender e não ficar para trás. "Temos de manter uma mente aberta."

Em Portugal, no entanto, só existem três sistemas cirúrgicos robóticos Da Vinci e apenas dois são de última geração - todos estão em instituições privadas. Um destes chegou à Fundação Champalimaud há alguns meses e só em maio começou a ser utilizado, depois de os cirurgiões terem feito formação em Bruxelas. Para Jorge Fonseca, um dos diretores do congresso e urologista da Unidade da Próstata da Fundação, a questão é o preço, cerca de dois milhões e meio de euros: "Se não fosse esse fator, esta tecnologia já estaria democratizada." Aliás, enquanto em Portugal existem três robôs, em Espanha existem 30, salienta, acrescentado que espera que a competição entre marcas faça descer o preço dos equipamentos.

Menos invasivo, mais preciso

As vantagens desta técnica são fáceis de perceber. A laparoscopia - que já é feita em hospitais de todo o país, do Serviço Nacional de Saúde e privados, para operações à próstata, aos rins, à bexiga, etc. - é menos invasiva do que uma cirurgia convencional, já que são abertos pequenos orifícios. "Há menos sangue, o pós-operatório corre melhor, a reabilitação é mais rápida e minimizam-se as sequelas", explica Jorge Fonseca.

Com estes sistemas, que usam a mesma tecnologia utilizada pelos astronautas no espaço, é o robô a manejar os instrumentos, controlado pelo cirurgião, através de uma consola. Há mais flexibilidade e consequentemente uma maior precisão. "É importante nos casos em que seria necessário abrir um doente para ter o mesmo grau de liberdade de movimentos", diz o urologista.

Além disso, são áreas em que a precisão é importante: seja para retirar um tumor ou metásteses, para preservar as funções da próstata ou para evitar a incontinência. As cirurgias são tão complexas que mesmo quem já fez centenas considera estes encontros importantes para aprender. Sobretudo para ver os melhores, que já fizeram milhares de operações, trabalhar.

É o caso de alguns dos 50 cirurgiões convidados que vão operar ao longos destes três dias do congresso europeu: são 23 cirurgias com doentes que vieram de hospitais de todo o país. E cerca de 600 médicos vão assistir às transmissões em direto. Ontem de manhã puderam ver três casos delicados - a remoção de tumores em dois doentes que só tinham um rim, que era preciso preservar, e noutro que tinha apenas um rim que não funcionava bem. Todas com sucesso.

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