600 anos de elogios a D. Nuno Álvares Pereira

Unanimemente reconhecido como génio militar, símbolo da independência e homem piedoso, com culto popular logo após a morte, em D. Nuno Álvares Pereira, beato e santo a partir de domingo, esgotam-se adjectivos e elogios há quase 600 anos.
Publicado a
Atualizado a

"Vencedor heróico", "monge piedoso", "nobre pelo sangue e pelo carácter", "encarnação da melhor alma portuguesa: fé, valentia, bondade, cavalheirismo", "símbolo da fé e amor da Pátria", "Santo Condestável", "Conde Santo", "símbolo da autonomia e da consolidação da Nação" são algumas das expressões recolhidas pelo professor Ernesto Castro Alves, da Faculdade de Letras de Lisboa, na monografia "Nuno Álvares: símbolo e mito nos séculos XIX-XX".

Filho do prior da Ordem dos Hospitalários de Portugal, D. Álvaro Gonçalves Pereira, e de D. Iria Gonçalves de Carvalhal, dama de companhia de D. Beatriz, filha de D. Fernando e de Dª Leonor Teles, Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache do Bonjardim, na Beira Baixa, a 24 de Junho de 1360.

Apesar de ter sido armado cavaleiro pela própria Dª Leonor Teles, Nuno Álvares Pereira não hesitou em se colocar ao lado dos poucos nobres portugueses e do povo português que se revoltaram contra a possibilidade do trono vir a cair em mãos castelhanas e aclamaram o mestre de Avis como rei de Portugal, na crise de 1383-1385, facção contrária à dos seus meio-irmãos e da própria mãe.

Amigo de longa data do mestre de Avis, D. Nuno Álvares Pereira revela-se um notável estratego, estreando na batalha de Atoleiros (1384), a primeira que travou, a táctica do quadrado, que viria a revelar-se decisiva na batalha de Aljubarrota (15 de Agosto de 1385), o confronto que pôs fim à crise e estabeleceu em definitivo o reinado de D.João I.

O rei, que o nomeara Condestável do reino após a vitória em Atoleiros, cumula-o de terras e títulos (conde Ourém, conde de Barcelos, conde de Arraiolos, entre outros), tornando-o num dos homens mais ricos e mais poderosos do reino.

A aliança entre o mestre de Avis e o seu braço direito cimentou-se com o casamento de um filho bastardo do rei, D. Afonso, com Dª Beatriz, filha do matrimónio entre D. Nuno Álvares Pereira e Dª Leonor Alvim, dando origem à casa de Bragança.

Alguns historiadores referem um afastamento entre os dois homens, provavelmente resultado de uma luta pelo poder, anos após a consolidação da independência, com referências à possibilidade de D. Nuno Álvares Pereira ter ficado desgostado com o rumo que o país estava a levar, tendo um outro ideal para Portugal.

Após a morte da mulher, e mais tarde, da filha, resolve em 1423 doar todos os bens aos pobres e recolher-se ao Convento de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, em Lisboa, que ele próprio mandara construir muito provavelmente em louvor da vitória na batalha de Valverde (1385), refere Castro Leal.

Tendo professado na data simbólica de 15 de Agosto de 1423, tomando o nome de frei Nuno de Santa Maria, nunca quis ser ordenado padre.

É neste convento, de que hoje apenas restam ruínas, que morre no dia 01 de Abril de 1431, data que é largamente aceite pelos historiadores, embora a convicção popular fosse de que tivesse morrido a 01 de Novembro, dia em que tinha lugar a principal festa do culto ao Santo Condestável.

Os últimos anos da sua vida são passados a prestar auxílio aos pobres da cidade de Lisboa, que faziam bicha à porta do Convento do Carmo, chegando mesmo a mendigar por esmolas pelas ruas, pedindo dinheiro para distribuir pelos mais necessitados, assinala o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.

"Nun'Álvares morreu na austera cela do Convento do Carmo que habitava, provavelmente em 1 de Abril de 1431, tendo a seu lado D. João I e o Príncipe D. Duarte, e foi colocado numa sepultura rasa - conforme seu desejo - no meio da capela-mor da Igreja do Convento, mais chegada às cadeiras que ficam do lado da Epístola", refere o professor Castro Leal.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt