60 mil euros serão usados na biografia de moléculas

A directora do Instituto de Medicina Molecular, Maria do Carmo Fonseca,  é a vencedora da edição 2010 do galardão. Dinheiro vai ser todo investido em investigação.
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Maria do Carmo Fonseca, professora catedrática e directora do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina de Lisboa é a vencedora do Prémio Pessoa 2010. A investigadora já tem destino para os 60 mil euros que lhe foram atribuídos: investir tudo na compra de um microscópio que lhe irá permitir focar-se na análise individual das moléculas, para que possa fazer a sua biografia em tempo real, ao contrário do habitual estudo de conjuntos genéticos. A atribuição do prémio serve também, segundo a investigadora, para mostrar que a ciência em Portugal tem valor.

"Esta é uma oportunidade para passar uma mensagem positiva de que vale a pena trabalhar em ciência em Portugal e um apelo para que nunca a deixem de apoiar, pois a competitividade do nosso país depende muito da capacidade de inovação", disse ao DN Maria do Carmo Fonseca, que se mostrou muito surpreendida por ter sido galardoada com o prémio. "Recebi ontem à noite [quinta-feira] a notícia pelo telefone dada pe-lo próprio doutor Francisco Balsemão. Fiquei bastante surpreendida, pois nunca pensei que uma pessoa com o meu perfil fosse receber tal prémio", afirmou.

A investigadora quer ainda que este prémio seja um alerta aos políticos, para que vejam a ciência como algo fundamental a Portugal e que equacionem os cortes financeiros, "que podem ter consequências drásticas no nosso país".

Desde que Maria do Carmo Fonseca assumiu a direcção do IMM, o organismo tornou-se bastante atractivo para cientistas portugueses que estavam no estrangeiro, especialmente pelo rigor na prática científica que promove, tornando o instituto reconhecido pela sua garantia de excelência que se tem afirmado ao longo dos anos. "As condições que temos criado permitiram um chamamento de cientistas lá de fora. Até agora já recrutamos 30 cientistas que têm recebido vários prémios", diz a investigadora.

Já por isso, Maria do Carmo Fonseca faz questão de não individualizar o prémio e assume-o como recompensa para todo o trabalho desenvolvido no IMM.

Os 60 mil euros de prémio já têm destino e vão ser investidos exclusivamente no trabalho do IMM. "Para a minha investigação sobre o genoma humano preciso de um microscópio que usa novas tecnologias. Sei o que é preciso para o conseguir e onde o arranjar. Este prémio, não o paga todo, mas vai ajudar à aquisição desse importante microscópio."

Esse será um instrumento para aquilo que tem planeado para "a próxima década": levar a investigação molecular ao próximo nível e focar-se na análise individual dos genes. "Normalmente fazem--se análises a grupos de moléculas. Isto é como se quiséssemos perceber um comportamento em pessoas e analisássemos um grupo, sem saber como cada um dos indivíduos contribuiu para esse comportamento", desvenda.

Por isso o passo óbvio para a cientista é analisar o comportamento individual de cada molécula, para depois conseguir perceber o todo e ajudar a criar uma base para a pesquisa de doenças que são causadas por falhas genéticas, como por exemplo o cancro. "Pretendo fazer a biografia em tempo real de cada molécula para analisar os seus comportamentos", acrescenta a professora.

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