60 jogadores convocados para o Mundial têm ligação a Portugal
Há 60 jogadores convocados para seleções nacionais presentes no Campeonato do Mundo da Rússia que têm ou tiveram ligações ao futebol português - isto sem contar com os representantes da equipa das quinas. Para além dos 19 que alinham ou estão contratualmente ligados a clubes portugueses - neste lote, Diego Reyes e Bryan Ruiz, em final de contrato, estão de partida - houve mais 41 que passaram pelo nosso país, uns com mais sucesso do que outros.
Do lote de 60 futebolistas (alguns ainda estão nas listas de pré-convocados), 18 estiveram ou estão ligados ao Benfica, com seis a pertencerem ao atual plantel (o reforço Ebuehi incluído) e outro na condição emprestado; 16 têm passado ou presente no FC Porto (seis no atual plantel, mais dois cedidos) e 14 no Sporting, três dos quais com ligação atual.
Os jogadores que jogam ou jogaram no nosso país estão espalhados por várias seleções, desde o poderoso Brasil (Ederson, Danilo, Thiago Silva, Geromel e Casemiro), à Argentina (Acuña, Salvio, Rojo, Otamendi e Di María), passando ainda pelo Irão (Amir) ou Marrocos (Carcela). Das 32 seleções que vão estar no Mundial, apenas 12 não têm representantes com ligações a Portugal.
O México tem cinco representantes, dos quais quatro ainda estão por Portugal: a armada portista constituída por Herrera, Corona e Diego Reyes, e ainda o benfiquista Raúl Jiménez. Layún, que na segunda metade da última época esteve emprestado pelo FC Porto ao Sevilha, também integra a seleção asteca.
Na Colômbia figuram igualmente cinco jogadores, ainda que nenhum alinhe atualmente no nosso país: os ex-dragões James Rodríguez e Falcao, Quintero, com ligação ao FC Porto, mas que atualmente representa o River Plate, e os ex-leões Santiago Arias e Teo Gutierrez. No entanto, a mais representada é a Nigéria, com oito atletas: Ebuehi (reforço do Benfica) Etebo, que pertence aos quadros do Feirense e os portistas Chidozie e Mikel Agu, mais cinco que passaram por cá: John Ogu, Elderson, Shehu, Etebo e Nwankwo
Seguem-se três seleções com quatro "portugueses": o Uruguai do sportinguista Coates, do portista Maxi Pereira, do ex-benfiquista Urreta e de Cristian Rodríguez, que passou por FC Porto e Benfica; a Sérvia, do benfiquista Zivkovic, que tem três colegas com passado em Portugal: o guarda-redes Stojkovic, o médio Matic e o ponta-de-lança Jovic. E o Peru de Hurtado (V. Guimarães) e Alberto Rodríguez, Advíncula e André Carrillo.
Muitos destes futebolistas deixaram marca no campeonato português, casos de Di María, Matic, Rodrigo, Danilo, Falcao e James Rodríguez. Há ainda o exemplo de grandes estrelas do futebol mundial atual que passaram de forma muito discreta por Portugal, nomeadamente Diego Costa (Espanha), que representou Penafiel e Sp. Braga sem grande brilho, antes de explodir no Atlético de Madrid. E Thiago Silva (Brasil), que atuou no FC Porto B antes de se afirmar no AC Milan e mais tarde no PSG. Já o defesa direito colombiano Santiago Arias, do PSV, que só cumpriu um total de dez jogos pela equipa principal do Sporting em 2011-12 e 2012-13, foi considerado o melhor jogador do último campeonato holandês.
Outro que passou sem sucesso pelo Sporting foi o polémico guarda-redes sérvio Vladimir Stojkovic, que ainda começou como titular a época de 2007-08, mas depois entrou em rota de colisão com o treinador Paulo Bento e perdeu o lugar para Rui Patrício. No entanto, mesmo quando esteve sem jogar nos leões, nunca perdeu a titularidade na baliza da Sérvia.
O polaco Dawidowicz (está na pré-lista de 35 convocados) só jogou pela equipa B do Benfica, tendo terminado agora a cedência ao Palermo, mas dificilmente continuará na Luz na próxima época. Ainda pelo Benfica, o ponta-de--lança sérvio Jovic só cumpriu quatro desafios pela equipa principal das águias - apenas 14 minutos na I Liga -, mas brilhou na época que agora terminou ao serviço Eintracht Frankfurt e foi chamado.
Embora tenham sido bem mais utilizados, Joel Campbell (Costa Rica) e Gelson Fernandes (Suíça), ambos ex-Sporting, e Quintero (FC Porto) foram outros que também não conseguiram demonstrar a sua categoria no nosso país.
Há ainda o curioso caso de Kasper Schmeichel, guarda-redes titular da Dinamarca. O filho de Peter Schmeichel jogou duas épocas nas camadas jovens do Estoril, antes de se afirmar no futebol inglês, ao serviço do Leicester. Deste lote de 51 futebolistas com ligações a Portugal, Kasper, Dawidowicz, Thiago Silva, Ismael Diáz (jogou pelo FC Porto B) e Fidel Escobar (alinhou no Sporting B) não chegaram a somar um único minuto na I Liga.
E também Shikabala, autêntico rei no seu país mas que pelo Sporting jogou 13 minutos, na derrota dos leões na última jornada da época de 2013-14, com o Estoril.
O sucesso da Liga portuguesa
O facto de 60 jogadores estrangeiros com passado ou presente em Portugal estarem convocados para a mais importante competição futebolística do mundo significa que o nosso campeonato é competitivo? Em declarações ao DN, César Peixoto, ex-internacional luso, defende que "a Liga portuguesa pode não ter o nível da inglesa ou da espanhola, mas não deixa de ser um campeonato muito competitivo e taticamente evoluído, com pouco espaço para jogar, permitindo que os jogadores consigam evoluir".
Já o empresário Jorge Manuel Mendes não tem uma opinião tão positiva, referindo que "o campeonato, de uma forma geral, é fraco, como se percebe pelo facto de muitas equipas não jogarem para ganhar e pelas assistências ridículas, chegando-se ao cúmulo de haver muitos clubes que deixam os espectadores entrar sem pagar bilhete". Na opinião deste agente, "o que atrai jogadores estrangeiros com algum nível é essencialmente o facto de até agora Portugal ter tido quase sempre três equipas presentes na Liga dos Campeões e eles sabem que ao virem para cá podem ganhar alguma visibilidade". Por outro lado, sustenta, "os jovens jogadores têm a noção de que o nosso campeonato não é tão exigente como outros e por isso, numa fase inicial da carreira, preferem jogar aqui para depois conseguirem o passaporte para Ligas mais competitivas".
Jorge Manuel Mendes só lamenta que "o panorama seja pouco animador, pois, para além de os três grandes, do Sp. Braga e, eventualmente do V. Guimarães, que tem estado um pouco adormecido, todos os outros clubes não são muito atrativos para um futebolista estrangeiro com ambição".
César Peixoto nota que o campeonato luso "é uma grande montra para os jovens jogadores, principalmente provenientes da América do Sul, que sabem que os clubes portugueses terem a fama de vendedores para os melhores mercados da Europa, os três grandes normalmente estão na Liga dos Campeões, o que proporciona muita visibilidade a estes atletas". Algo que como se sabe vai mudar já na próxima época, com apenas o campeão a ter acesso direto.
O antigo jogador do Sp. Braga e do Benfica elogia "o excelente trabalho dos treinadores portugueses ao lapidarem diamantes em bruto, conseguindo depois os clubes transferi-los para grandes equipas da Europa", acrescentando ainda que "equipas como Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga têm excelentes condições de treino, o que também é muito valorizado pelos jogadores estrangeiros". De resto, do contacto que vai tendo com ex-colegas, garante que quase todos "reconhecem as excelentes condições que tiveram para desenvolver a sua profissão em Portugal".