6 erros que tramaram o Benfica

Os encarnados sofreram em Lyon a sexta derrota em 12 partidas oficiais. São muitas as diferenças com a época passada, e José Augusto, antigo campeão europeu pelo clube da Luz, está "preocupado" e, ao DN, revela alguns dos pecados exibidos pela equipa.<br />
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1. Teimosia táctica

Jorge Jesus testou durante a pré-temporada um sistema táctico de 4x3x3, mas quando os jogos oficiais começaram voltou ao 4x1x3x2 que tão bons resultados deu na época passada. Só que, tal como José Augusto sublinha, "o Benfica não tem extremos e jogadores com velocidade suficiente para fazer as transições ofensivas". Na prática, defende o antigo jogador encarnado, "venderam-se Di María e Ramires, que eram os motores da equipa, e não se compraram jogadores semelhantes".

Sem o poder ofensivo que revelou na temporada passada, José Augusto admite que "seria aconselhável mudar o sistema táctico" nos jogos com equipas mais fortes. É que, em sua opinião, "o Benfica fica sem capacidade de desequilibrar os jogos, quando joga de forma aberta nestas partidas mais exigentes" e, desta forma, "fica à mercê dos adversários". Foi isso que aconteceu anteontem em Lyon.

2. Faltam operários à equipa de Jesus

A pressão alta exercida pelos jogadores do Lyon, sobretudo até ao 2-0, deixou muitas vezes Javi García sem opções de passe e, com isso, os franceses conseguiram como que "partir" a equipa do Benfica ao meio. José Augusto admite, por exemplo, que faria sentido colocar em campo Airton ao lado de Javi García à frente da defesa. "Seria uma boa opção porque daria ao Benfica uma maior capacidade de suster os ataques adversários, ganhando maior poder na recuperação da bola, para depois lançar o ataque com maior segurança."

Na opinião da antiga glória dos encarnados, "faltam operários a esta equipa do Benfica", razão pela qual a pressão alta exercida pelo Lyon provocou "muitas perdas de bola" e "desorganização" na equipa portuguesa. Pressionando junto da zona de acção de Javi García, o Lyon conseguiu "anular os organizadores de jogo" dos encarnados, que na opinião de José Augusto são Pablo Aimar e Javier Saviola.

3. Defesas laterais sem ajuda

As principais jogadas de perigo do Lyon foram criadas através da velocidade que imprimiu nas alas, onde Michel Bastos na esquerda e Jimmy Briand na direita criaram muitos desequilíbrios na defesa encarnada. José Augusto considera que Maxi Pereira "sentiu mais dificuldades" que Fábio Coentrão.

O antigo campeão europeu considera que o uruguaio "não está num bom momento de forma" e, como "não teve muita ajuda" a defender o flanco direito do Benfica, "as suas limitações notaram-se ainda mais". A "fragilidade" do meio-campo encarnado volta a ser responsável pelas aflições de Maxi e Coentrão.

Em relação ao internacional português, é verdade que os golos surgem pelo seu lado, mas Coentrão acabou por disfarçar algumas dificuldades com a enorme disponibilidade física que tem, que o permitiu evitar que Briand tivesse tido ainda mais êxito.

4. A expulsão de Nicolás Gaitán

Ao minuto 43, o argentino Nicolás Gaitán viu o segundo cartão amarelo por travado um adversário que lhe havia tirado a bola perto da área. A expulsão foi tão infantil como justa. José Augusto acredita que, apesar de a equipa já estar a perder por 1-0, este facto "roubou força à equipa", ainda para mais numa altura em que o argentino estava a ser "um dos melhores da equipa". Gaitán está há quatro meses na Europa, tem apenas 22 anos e pouca experiência na Liga dos Campeões - fez apenas três jogos incompletos. Apesar de todas as atenuantes, José Augusto mostra-se pragmático em relação a estas questões: "Os jogadores não podem ter aquele tipo de atitude numa grande competição, como é a Liga dos Campeões." É que são estes erros que se pagam caro frente a equipas com tão larga experiência na prova, como é o caso do Lyon. Sem Gaitán, o Benfica ficou ainda mais refém da pressão exercida pelos franceses.

5. Ataque com falta de velocidade

O ataque do Benfica em Lyon foi demasiado estático e incapaz de chegar com perigo à baliza de Hugo Lloris. José Augusto considera que Saviola foi "bem marcado" pelos defesas franceses, que "impediram que a bola lhe chegasse em condições" enquanto a Alan Kardec "faltou mobilidade".

Teria sido por isso aconselhável colocar de início um jogador rápido como Salvio e Franco Jara em vez de Kardec? José Augusto tem algumas dúvidas, pois considera que o problema não foi só o ponta-de-lança brasileiro. "No futebol ou em qualquer outra modalidade, a velocidade, como a técnica, são importantíssimas. Um jogador rápido na frente de ataque tem mais possibilidades de tirar os defesas do caminho e das suas posições", defendeu o ex-jogador, que gostava que o Benfica tivesse um jogador "rápido" no ataque, mas para isso "seria importante que as bolas chegassem ao ataque". E nesse ponto, Alan Kardec foi mais vítima do que culpado.

6. Discurso audaz do treinador

Na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Lyon, Jorge Jesus lançou duas afirmações fortes e polémicas. Enalteceu a forma quase única no mundo como o Benfica pressiona os adversários e considerou normal uma vitória em Lyon. José Augusto acredita que foram "declarações espontâneas" e que, normalmente, estão "de acordo com o trabalho que é feito" durante a semana. Neste contexto, o antigo jogador não acredita que essas palavras tenham criado um sentimento de excesso de confiança nos jogadores que iniciaram a partida. Ainda assim, a antiga glória encarnada admite não ser normal que a primeira parte do Benfica tenha sido "muito má". A verdade é que esta não é a primeira vez esta época que as afirmações de Jorge Jesus não são confirmadas pela produção da equipa em campo.

*bicampeão europeu pelo benfica

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