500 trabalhadores da Groundforce exigem solução ao Governo

Trabalhadores manifestam-se junto à residência oficial do primeiro-ministro. PCP exige ação imediata e BE questiona Governo sobre os salários que estão em atraso.
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Cerca de 500 trabalhadores da Groundforce manifestam-se esta quarta-feira em frente à residência oficial do primeiro-ministro para pedir ao Governo que não deixe a empresa cair e que se encontre uma solução para os 2400 trabalhadores que não recebem desde fevereiro.

"Não deixem cair a Groundforce" é uma das palavras de ordem que os trabalhadores têm usado esta manhã, nesta que é uma das várias manifestações que os trabalhadores têm levado a cabo nos últimos dias.

O protesto acontece dias depois de ter sido conhecido que as negociações entre o acionista maioritário da empresa de handling (assistência nos aeroportos), a Pasogal, e a TAP, para um adiantamento de dinheiro que serviria para pagar os salários em atraso e para um empréstimo de 30 milhões de euros, falharam, uma vez que as ações de Alfredo Casimiro já estão penhoradas e não podem ser dadas como garantia.

Ainda não se sabe qual será o futuro da empresa, mas os trabalhadores temem que seja pedida a insolvência da empresa. "Casimiro, ladrão! Groundforce sem um tostão", gritam também os cerca de 500 trabalhadores.

O PCP apresentou hoje um projeto de resolução que recomenda ao governo a nacionalização da Groundforce, considerando que o executivo deve agir de imediato para assegurar o pagamento de salários e salvar a empresa.

"Aquilo que nós propomos é que haja uma intervenção imediata do governo na empresa para assegurar o pagamento atempado de todos os salários, avalizar o empréstimo necessário para restabelecer o equilíbrio financeiro da empresa e proceder à nacionalização, para garantir a estabilidade de uma empresa e de um setor de uma importância estratégica para a aviação civil e o seu desenvolvimento", declarou o deputado comunista Bruno Dias, em conferência de imprensa na Assembleia da República.

Para o grupo parlamentar comunista, esta "não é, nem pode ser vista, como uma atividade negligenciável ou dispensável no contexto da aviação civil", apontando que, além da empresa, também são "indispensáveis os trabalhadores".

"Nesse sentido, tendo em conta as gravíssimas ameaças que pendem atualmente sobre a empresa SPdH Groundforce e os seus trabalhadores, é inaceitável que os seus trabalhadores continuem a ser colocados como arma de arremesso e a ser colocados perante o ataque aos direitos e os salários em atraso", defendeu o deputado.

Considerando que "é da máxima urgência uma intervenção concreta e decidida por parte do governo português", o PCP avança com este projeto de resolução para "colocar em cima da mesa a extrema necessidade desta intervenção" mas avisa que o executivo não tem de "ficar à espera" do debate da iniciativa para agir.

"É importante sublinhar que a SPdH Groundforce só irá encerrar se o governo assim o entender", sublinhou o deputado comunista.

Bruno Dias argumentou que "tal como ficou demonstrado que, se a TAP não viesse para a esfera pública hoje já não existiria, se a Groundforce não vier de facto para a esfera pública e não for intervencionada, ela de facto não existirá".

"Esta iniciativa do PCP é, desde já, um contributo objetivo e construtivo para, no plano político, sinalizar e sublinhar a extrema importância de uma ação com a máxima urgência por parte do governo português", rematou.

O BE perguntou entretanto ao Governo como pretende garantir o pagamento da totalidade dos salários em atraso aos trabalhadores da Groundforce, avisando que adiar uma solução definitiva pode empurrar a empresa para uma possível insolvência.

Um dia depois de a coordenadora do BE, Catarina Martins, ter defendido que, independentemente do apuramento das responsabilidades do acionista privado, a solução para Groundforce deve passar pela nacionalização, o BE entregou hoje no parlamento uma pergunta dirigida ao Ministério das Infraestruturas e Habitação sobre os salários em atraso e risco de insolvência na empresa.

"O Governo não pode continuar a adiar uma solução definitiva para a empresa, empurrando a Groundforce para uma situação insustentável, precipitando uma possível insolvência ou uma venda ao desbarato a grupos de investidores privados", avisou o partido.

Assim, os bloquistas querem saber como é que o Governo pretende "garantir o pagamento da totalidade dos salários em atraso aos trabalhadores".

"Que soluções tem pensadas para não permitir que a partir de dia 12 de março [sexta-feira] possa existir incumprimento e consequente falha no acesso ao apoio à retoma progressiva", questionou.

O BE, através da deputada Isabel Pires, questiona a tutela de Pedro Nuno Santos sobre como é que prevê que "a TAP seja capaz de responder ao aumento do tráfego aéreo previsto para maio" sem assegurar a capacidade operacional e financeira da Groundforce, recordando que esta empresa já perdeu mais de mil trabalhadores este ano.

"Ao dia de hoje, a Groundforce continua sem dinheiro para pagar salários aos seus 2400 trabalhadores. O acordo que permitiu pagar 500 euros a cada trabalhador, embora positivo, não trouxe uma solução definitiva que permita assegurar a subsistência da empresa ao período de crise provocada pela pandemia", lamentou.

A pergunta dos bloquistas referiu ainda que "a Groundforce é a maior empresa de handling do país e nuclear para a atividade da TAP e para o setor da aviação".

"Em contradição, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, veio afirmar que prevê abrir fronteiras e o turismo no início de maio. Fica por explicar como pretende o Governo responder ao aumento do tráfego aéreo sem a maior empresa de handling do país", pode ler-se na mesma pergunta.

Na terça-feira, em comunicado, a Comissão de Trabalhadores (CT) da Groundforce considerou que precisamente a nacionalização é a única hipótese de segurar a empresa e salvaguardar os postos de trabalho, tendo marcado uma nova manifestação para quarta-feira, em frente à residência oficial do primeiro-ministro.

Na reunião de segunda-feira, Pedro Nuno Santos informou a CT e os sindicatos que representam os trabalhadores da Groundforce de que as ações da Pasogal, que detém 50,1% da empresa, já estão penhoradas, não podendo ser dadas como garantia para receber um adiantamento da TAP de cerca de dois milhões de euros, para pagar os salários aos 2.400 trabalhadores, que já não receberam os ordenados de fevereiro.

Esta informação foi dada por Alfredo Casimiro, dono da Pasogal, ao fim de vários dias de negociações com o Ministério das Infraestruturas, em que concordou ceder as ações como garantia para viabilizar a empresa.

Os órgãos representativos dos trabalhadores ficaram também a saber na reunião que o Governo "não descarta medidas para salvar a continuidade da empresa, mas também não descarta a insolvência" e que, sem a garantia da entrega das ações, não poderá haver injeção de capital.

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