50 mil fumadores vão ser tratados através do telefone

Consultas para deixar de fumar têm listas de espera de vários meses
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Além das imagens chocantes e das mensagens de alerta, os maços de tabaco vão passar a incluir referências aos serviços de apoio para deixar de fumar, nomeadamente ao número da Saúde 24. O serviço específico de cessação tabágica desta linha deverá entrar em funcionamento até maio do próximo ano e o objetivo é que possa apoiar 50 mil fumadores em três anos através de chamadas telefónicas. Será sobretudo um trabalho de motivação que tem em vista a alteração de comportamentos.

"O nosso algoritmo é de identificação da motivação da pessoa, dos seus níveis de dependência nicotínica e de como está a organizar-se para deixar de fumar", explicou ao DN Sérgio Gomes, coordenador da Linha Saúde 24.

[citacao:Há evidências científicas de que com estas chamadas é possível motivar a pessoa a deixar de fumar]

O acompanhamento deverá ser feito durante um ano, em oito consultas telefónicas: as primeiras sete ocorrem durante três meses e uma última um ano após a primeira, para averiguar se o utente deixou efetivamente de fumar. "Encorajamos, sensibilizamos a pessoa para se desviar de locais com muito fumo, damos informações sobre substâncias nicotínicas e os seus efeitos. Ajudamos a pessoa a orientar-se", explica o responsável.

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Depois de receberem a primeira chamada, os enfermeiros da Saúde 24 - que vão receber formação para o efeito - avaliam a motivação da pessoa para deixar de fumar e os níveis de dependência. Quem estiver pouco motivado, será encaminhado para uma consulta de cessação tabágica. Se o fumador estiver preparado, deverá ser agendado, no primeiro ou no segundo telefonema, o chamado "dia D". "Nesse dia ligamos à pessoa para a lembrar", explica Sérgio Gomes. Como são "pró-ativos", os profissionais da linha é que agendam as conversas periodicamente com o utente. Um dos conselhos pode ser para a "pessoa colocar o dinheiro do tabaco de lado após o dia D, por exemplo".

[citacao:As consultas têm, no mínimo, três meses de espera]

É seguido o modelo usado em Inglaterra, existindo "evidências científicas de que com estas chamadas é possível motivar a pessoa a deixar de fumar." No entanto, há estudos que também mostram que "a adesão é relativamente baixa". A previsão é de que esteja disponível a partir de maio, mas Sérgio Gomes não exclui a hipótese de poder entrar em funcionamento antes. "No âmbito do novo concurso para o centro de atendimento, que terá início em maio de 2016, temos um serviço que deverá apoiar até 50 mil pessoas que queiram deixar de fumar [até maio de 2019]", explicou ao DN, acrescentando, no entanto, que "até pode existir já em janeiro."

Não deixar perder a motivação

A portaria que define que o número da Saúde 24 (808 24 24 24) e o site da Direção-Geral da Saúde devem ser incluídos nas advertências para deixar de fumar foi publicada na segunda-feira em Diário da República e entra em vigor a 1 de janeiro de 2016. Ana Figueiredo, coordenadora da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), acredita que "se a linha for publicitada, poderá ter um impacto importante." Até porque, adianta, "as consultas de cessação tabágica demoram e, por vezes, as pessoas perdem a motivação". Daí ser importante um serviço que "possam contactar e no qual sejam atendidas, esclarecendo as suas dúvidas". Apesar dos esforços para diminuir as listas, as pessoas que queiram deixar de fumar ainda têm, regra geral, de esperar alguns meses. "As consultas têm, no mínimo, três meses de espera", revela a pneumologista Ana Figueiredo. E o facto de a resposta não ser imediata pode fazer que algumas desistam. "É verdade que existem muitas falhas à primeira consulta", reconhece a coordenadora da comissão de tabagismo da SPP.

É preciso mais consultas

Embora o objetivo da Direção-Geral da Saúde seja alargar a oferta, em 2013 apenas 70% dos Agrupamentos de Centros de Saúde ofereciam consultas de apoio intensivo à cessação tabágica. De acordo com o documento "Prevenção de Tabagismo em Números - 2014", existiam, no total, 117 locais onde se realizam as referidas consultas, menos 106 do que em 2009.

Tal como nos anos anteriores, em 2013 a maioria das consultas (66,4%) foram em hospitais. Para Ana Figueiredo, é necessário que a oferta nos centros de saúde seja reforçada. "É fundamental que haja mais consultas de cessação tabágica na medicina geral e familiar, porque o médico de família tem maior proximidade com os seus doentes e será a pessoa indicada para o encaminhar", justificou.

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