50 anos do PSD e do CDS. Entre o "reformismo" e o tempo difícil do PREC

Sociais-democratas e centristas têm em comum o ano da fundação, 1974, e o contexto de liberdade em que nasceram para perseguir as suas ideologias. Próximos dos inícios de ambos os partidos, Mota Amaral e José Ribeiro e Castro levantaram o véu dos primeiros tempos, que vacilaram entre a "força moderadora" do PSD e os entraves do CDS.
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Não sou assim capaz de estar muito entusiástico nesta afirmação de um ciclo", considerou ao DN João Bosco Mota Amaral, antigo Presidente da Assembleia da República e fundador do PSD nos Açores, depois de questionado sobre se vê a coligação para as próximas eleições legislativas, entre sociais-democráticas e centristas, denominada Aliança Democrática, como um ciclo que se fecha.

"A Aliança Democrática entre o Francisco Sá Carneiro [fundador do PSD] e o CDS, naquela altura com o professor Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, levava também os reformadores e os primeiros ecologistas, que eram do PPM [Partido Popular Monárquico], de Gonçalo Ribeiro Telles, não tem nada a ver com os PPMs posteriores", reforça Mota Amaral, acrescentando que "os reformadores eram destacados militantes do Partido Socialista". "Portanto a aliança democrática apresentava claramente uma configuração no centro, aberta à direita e à esquerda. Não sei se é agora isso que se pretende, mas também estou um bocado longe e afastado dessas coisas, não posso pronunciar-me", admite Mota Amaral.

A história do PSD começa em 1969, com o nascimento da Ala Liberal, com Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão a integrar as listas da União Nacional, altura em que começaram a "bater-se pela democratização política da sociedade", de acordo com o site do PSD. No entanto, só depois do 25 de Abril de 1974 é que o Partido Popular Democrático (PPD), em 6 de maio desse ano, ganha forma, pelas mesmas mãos de Sá Carneiro e Pinto Balsemão. "Um partido de centro-esquerda, de cariz social-democrata, com base nos princípios da Liberdade, Igualdade e Solidariedade", sustenta a página do PSD. Faz em 2024 50 anos.

"O PSD sempre foi um partido social. Aliás, Sá Carneiro apresentou-o como social-democrata numa entrevista que deu a Jaime Gama para o jornal República, e o PSD só não avançou com essa sigla desde o princípio, porque na véspera da criação do PSD apareceram cartazes dum tal Partido Social Democrático Independente, que depois nunca foi para a frente, nunca apareceu, e a questão desta designação tomada por este grupo de pessoas, que não sabemos exatamente quem eram, não deram mais sinal de vida depois disto. O certo é que o PSD, o Partido Social Democrático, teve que se apresentar como sendo o Partido Popular Democrático", explicou Mota Amaral.

O CDS fundou-se com uma grande confiança, num ambiente de liberdade e democracia, e, em pouco tempo, esse ambiente estava corrompido, entrou em crise, em extinção, a seguir ao 28 de setembro [de 1974]", lembra ao DN José Ribeiro e Castro, que não é um dos fundadores do partido mas ao qual se juntou apenas uma semana depois.

O CDS, à semelhança do PSD e da própria Revolução dos Cravos, nasceu em 1974, sob a batuta de Diogo Freitas do Amaral e de Adelino Amaro da Costa. Assinalará o cinquentenário em 19 julho do próximo ano. Nestes 50 anos, foi um dos partidos do arco da governação - mais concretamente, sete vezes, lembra ao DN o atual presidente do partido, Nuno Melo -, em coligações com o PS e o PSD, nos primeiros Governos Constitucionais.

"O 28 de setembro não é uma data tão marcante quanto seria o 11 de março, em 1975. Mas é uma data que marca, digamos, o início do processo revolucionário [Processo Revolucionário em Curso ou PREC]. E pouco tempo depois dessa data, em 4 de novembro, a sede do CDS é assaltada e destruída no rescaldo do primeiro comício do partido, em Lisboa", lembra José Ribeiro e Castro, acrescentando "que não foi um comício do CDS, foi um comício da Juventude Centrista". "No Teatro São Luís, esse comício é boicotado pela extrema-esquerda e, portanto, desencadeiam-se uma série de incidentes pela Baixa de Lisboa. Começámos aí a experimentar o que deveriam ser os tempos duros do PREC para o CDS. Fomos para-choque dos partidos democráticos, enfim, depois teríamos as dificuldades no Congresso do Palácio de Cristal, em janeiro de 1975, depois um novo assalto e destruição da sede do CDS no 11 de março de 1975, e depois a travessia do PREC com grande densidade", lembra.

Se, por um lado, o início do CDS foi um processo divertido para "um rapaz de 20 anos", confessa Ribeiro e Castro, por outro "era um tempo em que um dos objetivos da extrema-esquerda era destruir o CDS. Portanto, nós éramos um alvo a bater. E foi sempre, enfim, nesse espírito que o CDS se afirmou e marcou a sua diferença, sempre como marca própria, não socialista", conclui.

O CDS deixou a Assembleia da República em 30 de janeiro de 2022, ao ter falhado a eleição de deputados nas eleições legislativas. Agora, prepara-se para recuperar a coligação com o PSD a Aliança Democrática - para as eleições marcadas para 10 de março de 2024.

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