50º aniversário do 25 de Abril e saúde mental na programação de 2024 do MAAT
São 14 as exposições que chegam aos espaços do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) durante o próximo ano, com artistas como Ernesto Neto, Nicolas Floc"h, Vivian Suter, Catarina Dias, entre outros.
"Acreditamos que é uma programação eclética, que responde ao tempo em que vivemos e que concilia artistas internacionais com artistas portugueses", afirma o diretor do MAAT, João Pinharanda, num pequeno-almoço com a comunicação social.
O programa pretende promover diálogos de temas atuais socioculturais, entre os quais a ecologia. Inaugura com a exposição de Luísa Jacinto, Shining Indifference, no dia 27 de março de 2024. Esta mostra debruça-se sobre "a observação, a visão e a atenção".
O 50º aniversário do 25 de Abril também será celebrado no MAAT com Hoje, Soube-me a Pouco. Esta será a única exposição do programa que contará com a curadoria dos dois diretores do MAAT, João Pinharanda e Sérgio Mah, e vai reunir várias obras de artistas pós-Revolução dos Cravos: Ana Jotta, Julião Sarmento, Luísa Correia Pereira e Rosa Carvalho. Tem início a 24 de março.
"Vamos entrar num ano de comemorações do cinquentenário do 25 de Abril e temos isso em mente em todos os momentos", acrescenta o diretor. O programa conta com uma parceria com o Manicómio, um espaço que promove a saúde mental. Intitulada Procissão: Louvar e Santificar, esta exposição conta, então, com obras de artistas com problemas do foro psiquiátrico e ainda com um espaço de cowork , no Beato, em Lisboa. Vai arrancar no dia 2 de maio.
Já o Espírito de Gondwana traz ao museu artistas africanos e da diáspora africana, com temáticas como a justiça social e histórias da cultura africana contadas com recurso à pintura, escultura, cerâmica e instalação. Tem início a 18 de setembro.
"Entendemos que o museu é um espaço de encontro, de diálogo de todos os públicos. Na verdade, não existe público numa ideia unidimensional. O programa tem de tentar responder a estes desafios entre os diferentes tipos de visitantes que normalmente visitam o MAAT", explica Pinharanda.
Ao longo de 2024, será ainda possível visitar a exposição de Nicolas Flo"ch, fotógrafo francês que se dedica à fotografia subaquática. Este foi um projeto realizado no rio Tejo e nos Açores, encomendado pelo MAAT. A exposição começa a 27 de março.
Vivian Suter, argentina e suíça, vai retratar o ecossistema através da sua arte abstrata. As suas obras vão estar na galeria Oval do museu a partir de 30 de outubro.
William Klein, fotógrafo americano já desaparecido, vai ter a sua obra pela primeira vez apresentada numa grande exposição europeia, com início a 18 de setembro. . Poderão ser observadas as várias vertentes da sua lente, que se sucederam ao longo da sua vida.
Nosso Barco, de Ernesto Neto, será exibida na Galeria Oval, numa instalação imersiva e que incorpora várias culturas de diferentes continentes. Arranca a 2 de maio.
Estas exposições de artistas internacionais foram pensadas para seguirem de Portugal para outros países da Europa. O MAAT fica na Avenida Brasília, em Lisboa.
Qual o balanço da programação do ano que agora termina?
O balanço é muito positivo, por várias razões. 2023 foi o segundo ano em que estive na direção do museu. Acho que se consolidou perfeitamente a programação do ano anterior e abriu-se a possibilidade desta tipologia que apresentamos para 2024. E teve momentos que foram muito importantes. O mais importante, que tem sido o êxito mais abrangente do museu, é a presença das obras de Joana Vasconcelos, evidentemente, e a capacidade de atração que as suas obras têm sempre. O que me agrada também é que esta exposição foi criada a partir da apresentação de peças que nunca tinham sido vistas em Portugal, exceto uma que é da nossa própria coleção, o Strangers In The Night. Depois, há outros momentos importantes e agora refiro-me não à atualidade, mas à história, e que coincide, por acaso, com esta segunda parte da temporada, que é a apresentação da coleção da Fundação Carmona Costa. A nossa colaboração com a Fundação inclui a criação de outras três exposições: uma já inaugurada na própria Fundação Carmona Costa, outra que acaba de inaugurar na Galeria Vera Cortês e outra também na Fundação Carmona Costa, em janeiro.
Relativamente 2024, qual é a temática que segue a programação?
Há aqui um interesse em falar dos 50 de abril e no 25 de Abril. Temos uma exposição que vai tratar do assunto, especificamente: Hoje Soube-me a Pouco. Acho que é importante pensar que todas as outras exposições foram pensadas em torno desta ideia dos três "Ds" do 25 de Abril: democratizar, descolonizar e desenvolver. Quando estamos a falar de desenvolver, estamos também a falar de ecologia e questões ambientais. Há exposições sobre esse tema. E também ao fazer uma parceria com o Manicómio, no qual estamos a abrir uma oportunidade a um público diferente e a agentes culturais diferentes. Estamos a falar dessa ideia de abertura e democratização, que só o 25 de Abril permitiu.
Qual foi a maior dificuldade ao organizar estas novas exposições?
A dificuldade é sempre a questão monetária. Outra questão é o facto de que temos muitos espaços. E, às vezes, a dificuldade é programar tanta coisa para ocupá-los todos e não os ocupar de uma maneira monótona, só com uma exposição que se desmultiplica.
Haverá continuação para esta programação?
Pensamos isto em ciclos. Relativamente à celebração do 25 de Abril, existiu um primeiro momento de ativação, há dois anos, com a pintura do mural. O ciclo de comemorações do 25 de Abril começou em 2022 e vai acabar só em 2026. Há, depois, algumas exposições mais internacionais que vão ter continuidade noutros países da Europa, mas ainda não estão completamente fechadas. Ainda estão a ser negociadas.
mariana.goncalves@dn.pt