361 casos adversos com 'Avastin' em 2008 no Canadá
O Avastin, que causou perda de visão a seis portugueses, já fora associado em 2008 a 361 reacções adversas em tratamentos oftalmológicos no Canadá. Os laboratórios responsáveis pelo Avastin alertaram a comunidade médica mundial para estas complicações, frisando que o medicamento não tem autorização oficial para uso oftalmológico
Ainda sem explicações para as infecções intra-oculares causadas a seis doentes, o presidente do conselho de administração do Santa Maria, Adalberto Campos Ferreira, garantiu ao DN que, "apesar de o hospital não ter seguro, assumirá todas as responsabilidades perante os doentes, caso o inquérito interno e o da IGAS revele culpa do hospital". A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde abriu um inquérito para apurar as causas da cegueira de dois doentes, após a administração de uma injecção intra-ocular com bevacizumab para o tratamento da retinopatia diabética.
Apesar de o director clínico, Correia da Cunha, lembrar que os doentes assinaram o "consentimento informado", o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, diz que tal "não retira a protecção aos doentes". Se os problemas de visão forem irreversíveis e ficar provada a responsabilidade, o dinheiro para as indemnizações virá das provisões financeiras do hospital. Só cerca de 7% dos hospitais têm seguros. Os médicos têm responsabilidade civil.
Difícil é saber o que acontecerá aos doentes caso não sejam encontradas contaminações nos lotes do medicamento que estão a ser examinados pelo Infarmed nem se prove negligência médica ou infecção hospitalar. Adalberto Campos Ferreira afasta essa possibilidade: "Há uma probabilidade de 90% de se encontrar uma explicação para o sucedido e isso deve ser conhecido no prazo máximo de 15 dias, quando estiver concluído o relatório interno."
Vários oftalmologistas, a começar pelo bastonário da Ordem dos Médicos, têm apontado como causa mais provável para a endoftalmite que afectou aqueles doentes uma falha na esterilização e/ou contaminação da ampola utilizada. Os tratamentos em causa foram ministrados todos na passada sexta-feira pela mesma equipa médica, no mesmo bloco, precisou ontem em conferência de imprensa o director do serviço de oftalmologia do hospital, Monteiro Grilo. Também o director do serviço de oftalmologia do Hospital de São João, Jorge Breda, admitiu a hipótese de uma ampola contaminada ter sido administrada a vários doentes.
A administração do hospital continua a não descartar nenhuma das possibilidades: problema com o medicamento, infecção hospitalar ou erro médico. Mas quando questionado sobre a hipótese de uma incorrecta esterilização, o director clínico reiterou que o armazenamento, a distribuição e a administração do medicamento são feitos de forma adequada.
Contactado pelo DN, o Infarmed explica que a substância bevacizumab não tem indicação terapêutica específica para doenças oftalmológicas, mas oncológicas. Nestes casos, "a responsabilidade da decisão cabe ao conselho ético do hospital". Também a laboratório Roche, que o produz, explicitou que o medicamento não tem indicação oftalmológica.
O director clínico do hospital desvaloriza a questão, lembrando que o Avastin é usado desde 2005 tanto nos EUA como na Europa, com uma taxa de efeitos adversos de apenas 0,06%. Refere ainda que não existe nenhum medicamento com indicação terapêutica específica para a retinopatia diabética, tendo sido descoberto nos Estados Unidos que aquela substância, que impede a proliferação de novos vasos no olho, é mais eficaz do que a substância ranibizumab, usada para a degenerescência macular da idade, não só travando a falta de visão como fazendo-a regredir.