300 ginásios fecharam portas e faturação caiu 42% em annus horribilis para o setor
Os números não enganam. Em 2020 fecharam 300 clubes no país, cinco mil profissionais perderam o emprego e quase 200 mil praticantes abandonaram os ginásios. A faturação registou uma queda de 42%, para pouco mais de 167 milhões de euros. Os dados são da Portugal Ativo - associação que representa o setor -, que viu assim cair por terra o objetivo de contabilizar em 2021 um milhão de pessoas a praticar desporto em ginásios. A recuperação da atividade está totalmente dependente da evolução da crise sanitária e do sucesso do plano de vacinação, sendo que acaba de sofrer mais um revés com as restrições impostas nos concelhos que passaram a linha vermelha. Ainda assim, acreditam os operadores, setembro poderá ser o início da retoma. Certo é que não baixam os braços e têm já delineados planos de expansão, mas lembram que setor e desportistas precisam de apoios.
Juan del Río, CEO do grupo VivaGym, que explora os clubes Fitness Hut, assegura que os projetos de crescimento se mantêm inalterados. A cadeia quer iniciar em 2022 o plano de expansão, que prevê 60 ginásios até 2024. Neste momento, a rede tem 43 espaços, depois de ter encerrado no início deste ano uma unidade - a única que decidiu fechar neste período de mais de 12 meses marcado pela pandemia. Como realça o gestor, entre março de 2020 e março de 2021, "os ginásios tiveram que encerrar seis meses. Foi horrível". As vendas da cadeia caíram quase 40%, para 26,5 milhões de euros, e a perda de sócios não ficou atrás. O número passou de 125 mil para 80 mil. Com o desconfinamento desta primavera, começou a sentir alguma recuperação, mas o grande movimento de aceleração do negócio é esperado para setembro, altura em que a imunidade de grupo em Portugal já deverá ser uma realidade, acredita o responsável.
Na SC Fitness, que detém os ginásios Solinca e Element, a realidade é em tudo semelhante. Como sublinha Bernardo Novo, CEO desta área de atividade da Sonae Capital, "depois de 27 trimestres de crescimento consecutivo, período em que quintuplicámos o número de sócios ativos, ultrapassando os 100 mil, o ano de 2020 teve, obviamente, um grande impacto no nosso negócio". À perda total de faturação no período do primeiro confinamento somou-se a diminuição do número de sócios no momento da reabertura, o que acabou por decretar uma quebra de 39% nas vendas, para 25 milhões de euros. Mas o mercado não perdeu o seu "elevado potencial". Com 37 ginásios em operação, a SC Fitness mantém-se ativa na procura e negociação de novas localizações, tendo "preparado um forte plano de crescimento para os próximos três anos, que resultará tanto da construção de novos clubes como da aquisição de unidades/cadeias já em funcionamento", adianta o gestor.
Já o Fitness UP, rede de ginásios que quer conquistar o país a partir da região Norte, apresentou melhor performance que a globalidade do setor, embora não tenha passado incólume ao impacto dos encerramentos obrigatórios devido à pandemia. Segundo o CEO, Hélder Ferreira, a faturação em 2020 situou-se nos 10,5 milhões de euros, 12,5% abaixo do registado no exercício transato. "Apesar de o setor do fitness ter sofrido uma quebra de faturação na ordem dos 40%, o Fitness UP sofreu uma quebra de 20% em comparação com os clubes que tínhamos abertos em 2019, mas compensámos com as aberturas de 2020." Já neste ano, e aproveitando o desconfinamento, a rede low-cost abriu duas novas unidades no país e tem o objetivo de colocar em funcionamento pelo menos mais seis até ao final do ano.
Apesar do forte impacto da pandemia no setor, as cadeias não tiveram nenhum apoio específico do governo. E, embora as empresas demonstrem confiança no futuro, este ano não deverá ser muito diferente de 2020. Aliás, Juan del Río admite mesmo que o volume de faturação da Fitness Hut estará ao nível do registado em 2020. Os praticantes estão a regressar, mas há que contar com o confinamento de inverno, três meses sem atividade, e onde a solução das aulas online já não encontrou a mesma adesão.
Como realça José Carlos Reis, presidente da Portugal Ativo, "o impacto foi enorme, porque no primeiro confinamento os clubes conseguiram ter alguma retenção de clientes com as aulas e treinos online", mas em janeiro deste ano "a situação foi mais difícil, porque as pessoas estavam já cansadas do online e houve muitos novos cancelamentos". A reabertura do país na primavera despertou a necessidade de exercício físico e os ginásios sentiram essa dinâmica, o que leva o responsável a admitir que, se "não houver mais encerramentos por confinamento, no final de 2022 poderemos alcançar os números de 2019". Mas no entretanto novos desafios se levantam. Como sublinha Bernardo Novo, "a nova suspensão de aulas de grupo agora anunciada para os concelhos de Lisboa, Sesimbra e Albufeira é mais um retrocesso no processo de recuperação de um setor muito fustigado pela crise gerada pela pandemia e que continua a ser penalizado, sem medidas específicas de apoio por parte do governo".
Como lembra José Carlos Reis, o setor defende a dedução em sede de IRS de parte das despesas do praticante (na Alemanha está estipulado um teto de 400 euros/ano), benefícios em IRC para as empresas que pagam ou subsidiam a mensalidade dos colaboradores no ginásio e a redução da taxa do IVA, atualmente no teto máximo de 23%.