3 perguntas a Miguel Leónidas Rocha
Este ano que está a chegar ao fim foi um ano complexo, difícil, exigente. Quais são os factos bons ou excelentes que merecem destaque no ano de 2013?
Um facto que me toca muito é a reforma do IRC. É algo de que se falava há muito tempo, que está bem feito, entregou-se a quem sabia fazer, ouviu-se os especialistas, e é algo que beneficia as empresas que estão a comportar-se bem. E isto liga-me ao segundo ponto, além das exportações. O facto é que o sector privado empresarial se ajustou: cortou custos, racionalizou, foi para fora, foi para Angola, foi para o Brasil, foi pela Europa fora. Os portugueses pegam nas caravelas e vão pelo mundo, não ficam aqui a chorar-se. Todo o sector privado - os particulares, através da poupança, e as empresas - virou e reinventou-se. Foi uma mudança. Há um clima propício a reformas estruturais, o euro aguentou-se e a consolidação orçamental, da forma como estamos a fazê-la, está a dar alguma credibilidade internacional a Portugal para podermos regressar aos mercados, começando agora com esta operação de troca da venda de curto prazo. É um bouquet de medidas positivas. Quanto a pessoas, destacaria o Papa Francisco como pessoa do ano, porque vem trazer uma nova reformulação à Igreja e nova esperança aos que foram excluídos, mais próximo da mensagem de Cristo e mais longe da mensagem da corporação Igreja, que tinha fugido dessa mensagem.
E que acontecimentos merecem relevo por não terem conseguido chegar a ser realmente bons ou maus aspetos, ou seja, que iniciativas ou movimentos de 2013 consideram que se revelaram medianos?
Para além da questão internacional da união bancária europeia, que não avança, o outro ponto que considero mediano é a relação do Governo com o Tribunal Constitucional. Este, nas decisões que tomou, de um ponto de vista jurídico tomou-as bem. Ao mesmo tempo, de um ponto de vista político e económico, foi sensível a algumas das necessidades de cumprimento do défice. Chegou agora no final do ano ao ponto sem saída. Ainda assim, considero positivas as fiscalizações preventivas, na medida em que permitem ter uma certeza antes da entrada em vigor do Orçamento. De todo o modo, o Presidente da República já dá muitas vezes a resposta nas perguntas que faz - e nesse aspeto não tem ajudado o Governo.
Por último, qual foi o pior do ano que agora chega ao fim? Quais são os pontos que destacam como maus ou péssimos e que marcaram 2013?
A crise política foi péssima. Se tiver de marcar o ponto mais baixo da nossa democracia recente, realmente é esse; e que deixou um Governo fragilizado, a par de uma oposição também fragilizada. Desde esse momento, nós - que tínhamos um caminho de consolidação, de credibilidade - estamos um bocado a navegar à vista e os mercados a darem-nos essa nota. Péssima foi também a questão da Reforma do Estado. Sai um guia de bolso, com umas medidas muito programáticas. Estava à espera de mais. O facto de ter ficado com a sensação de que a reforma não se vai fazer é um dos pontos péssimos deste ano.