3 perguntas a Isabel Vaz

Presidente da comissão executiva da Espírito Santo Saúde, tem 47 anos, é licenciada em Engenharia Química, já foi consultora na McKinsey.
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Este ano que está a chegar ao fim foi um ano complexo, difícil, exigente. Quais são os factos bons ou excelentes que merecem destaque no ano de 2013?

Eu reforçaria o comportamento das exportações, demonstrando que efetivamente o sector privado de Portugal está a fazer o ajustamento. E isto num contexto em que a Europa nossa vizinha, onde tipicamente tínhamos o nosso melhor mercado, está em recessão. Mostra que o sector privado está a fazer o seu trabalho. Em segundo lugar, os portugueses, que também fizeram o seu trabalho - os níveis de poupança estão altíssimos -, perceberam que não podem gastar mais do que ganham. O terceiro ponto é o comportamento extraordinário dos bancos e o esforço que têm feito pela economia portuguesa, quando estão a sofrer com a recessão da mesma. E com uma exigência brutal de investimento das autoridades reguladoras, portuguesa e internacional. Os bancos estão a responder, apesar de tudo, muito bem. E sem bancos não há economia, que é uma coisa de que os nossos comentaristas às vezes se esquecem. É preciso uma banca forte e boa para também relançar a economia - e os nossos bancos têm provado, todos eles, que estão lá e responderam à chamada.

E que acontecimentos merecem relevo por não terem conseguido chegar a ser realmente bons ou maus aspetos, ou seja, que iniciativas ou movimentos de 2013 consideram que se revelaram medianos?

O médio - para não dizer mau - continua a ser a famosa reforma do Estado. A par do sector privado, que se ajustou, pegou nas caravelas e foi por aí fora, continuamos a ter uma grande resistência por parte dos serviços do Estado que, estando muito melhor do que há 20 anos, não se reformam. E isso está a prejudicar Portugal, o sector privado e a retoma. Não digo que é mau para dar algum incentivo para o futuro. Portugal precisa de um melhor Estado. Os sectores que deram a volta são aqueles em que o Estado não está, porque onde está continua a predominar uma economia de corredores e favores. O Estado ainda não deu o salto, continua a querer mandar em tudo e todos, a não dar autonomia, a não permitir respirar nem as empresas que tem. O poder político continua a ser muito tacanho e a achar que poder é isso, quando de facto o poder está em servir os contribuintes através da regulação, política fiscal coerente e estável e deixar o sector privado competir de forma justa.

Por último, qual foi o pior do ano que agora chega ao fim? Quais são os pontos que destacam como maus ou péssimos e que marcaram 2013?

O péssimo de 2013 foi a crise política. Os políticos portugueses deram bem o exemplo de que se estão nas tintas para Portugal. Mais do que péssimo, é mesmo dramático. Estávamos numa reta apesar de tudo positiva, dolorosa mas positiva, e aquilo foi uma estocada direta ao coração. Foi um mau ano para os políticos e um mau ano para Portugal. E os efeitos continuam. Por outro lado, a banalização do Tribunal Constitucional. Dá a sensação de que este é que tem de governar. E culpo mais uma vez os políticos. As pessoas não se conseguem entender . O Tribunal Constitucional, que devia ser de último recurso, passou a ser uma arma política. O debate deixou de ser no Parlamento para passar a ser "o Tribunal Constitucional depois resolve isso por nós".

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