3 perguntas a António Nogueira Leite

Administrador da EDP Renováveis, tem 51 anos, é licenciado em Economia, foi vice-presidente da CGD e secretário de Estado do Tesouro de António Guterres.
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Este ano que está a chegar ao fim foi um ano complexo, difícil, exigente. Quais são os factos bons ou excelentes que merecem destaque no ano de 2013?

Destaco as exportações. Julgo que há uma quase unanimidade relativamente a isso e eu reforçaria dois pontos. O primeiro é que as exportações estão a crescer e têm sabido encontrar novos mercados, além dos tradicionais mercados europeus, que não são apenas Angola e Brasil. Os empresários têm conseguido virar-se para o exterior num exercício de dificuldade enorme. Temos muitas PME que há cinco, seis anos viviam em 70% a 80% do mercado nacional ou ibérico e hoje sustentam-se fora, o que é verdadeiramente notável e mostra uma flexibilidade e capacidade de ajustamento muito importante. E é um crescimento muito equilibrado, na generalidade dos sectores - não é apenas o calçado -, o que mostra uma capacidade de viragem da economia para o exterior, apesar de problemas complexos que as empresas ainda enfrentam. Em segundo lugar, destacaria a extrema competência da nossa agência de dívida (IGCP). Parte da capacidade de voltar ao mercado, em emissões de dívida, deveu-se ao trabalho muito intensivo e profissional da equipa

E que acontecimentos merecem relevo por não terem conseguido chegar a ser realmente bons ou maus aspetos, ou seja, que iniciativas ou movimentos de 2013 consideram que se revelaram medianos?

Um deles é a lentidão na resposta da Europa à crise. O tratado orçamental está a ser aplicado e o Conselho Europeu reage às debilidades de orçamentos de países grandes, como Espanha ou Itália, o que sinaliza que podemos vir a ter uma verdadeira supervisão orçamental. Mas há coisas que funcionam pior, como as incertezas e o arrastar de pés da Alemanha relativamente à união bancária, que é fundamental. O sistema financeiro tem sido muito resistente, mas há dois aspetos que têm corrido menos bem: o legacy que os bancos têm, conjuntamente com uma supervisão bastante cautelosa e moderada, tem levado a que o ajustamento se esteja a produzir a um ritmo relativamente lento, que vai fazer que os bancos estejam menos preparados para acompanhar o crescimento. Por último, o Banco do Fomento: para suprir essa falha do mercado não era preciso criar uma instituição, que vai estar sujeita a pressões e pode constituir algo muito pernicioso para a economia - ter o poder político a interferir naquilo que os empresários sabem fazer melhor sozinhos.

Por último, qual foi o pior do ano que agora chega ao fim? Quais são os pontos que destacam como maus ou péssimos e que marcaram 2013?

Verdadeiramente mau é o acentuar das dicotomias na sociedade. É cada vez maior a divergência entre o privado, que ajustou, e o público, ainda inerte. Os agentes políticos, opinadores e até sindicatos e outros grupos têm criado divergências muito grandes e acentuado essas clivagens que não são boas para os próximos anos, em que vamos continuar a viver um ajustamento difícil. O Governo é particularmente inábil na comunicação, excetuando os ministros Paulo Portas e Pires de Lima. Destaco ainda a profusão de pessoas que, com interesses particulares, manipulam o interesse geral.

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