293 afegãos candidataram-se para bolsas de estudo em Portugal

Plataforma vai dar prioridade às mulheres e às minorias do Afeganistão. Desde 2014, apoiou cerca de 300 refugiados, inicialmente da Síria. Muitos são mestres e há doutorados.
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A Plataforma Global para a Educação Superior em Emergências recebeu 293 candidaturas de afegãos para estudarem em Portugal. A maioria encontra-se no Afeganistão, mas muitos fugiram para os países vizinhos. Segue-se a fase de seleção, sendo que é dada prioridade às mulheres, "mais expostas e que correm o risco de ficarem fechadas em casa" com a chegada ao poder dos talibãs. A Plataforma já apoiou cerca de 300 refugiados, e 136 concluíram os estudos, na maioria mestrados, e quem fez a licenciatura seguiu para o nível superior.

Raneem Jnaidi é uma das estudantes sírias que continuou os estudos, encontrando-se a fazer o doutoramento. Obteve 20 valores na tese de mestrado em Ciências Biofarmacêuticas com uma investigação sobre o tratamento do glioblastoma multiforme, um dos tumores cerebrais mais agressivos. Estuda na Faculdade de Farmácia, da Universidade Nova.

Uma mulher num grupo de estudantes com uma representação igualitária de ambos os sexos, embora ultimamente tenham recebido mais do sexo feminino.

O programa para as alunas afegãs foi uma das últimas iniciativas de Jorge Sampaio. O antigo Presidente da República, falecido a 10 de setembro, fundou a Plataforma Global para Estudantes Sírios em 2013 e em 2017 passou a apoiar os jovens oriundos de outros países em conflito. Em agosto de 2020, a estrutura mudou o nome para Plataforma Global para Educação Superior em Emergências (PGESE).

É o caso das afegãs que espera acolher nos próximos tempos. "Estamos na fase de processar as candidaturas e de ver quais são os perfis dos candidatos, nomeadamente avaliar a situação de risco em que se encontram. Sabemos que há minorias que estão mais expostas que outras", explicou ao DN Helena Barroco, secretária-geral da Plataforma e ex-assessora diplomática de Jorge Sampaio.

Ao mesmo tempo, procede-se à recolha de fundos e também à seleção das instituições de ensino superior, públicas e privadas, que se disponibilizaram para receber os estudantes. Muitos responderam ao pedido de solidariedade do antigo Presidente da República. Nem todos os afegãos terão condições para frequentar o ensino superior, e é essa seleção que está a ser feita e se espera concluir até final do mês.

O último grupo que a PGESE recebeu foi em 2018 e englobava 55 sírios, o maior número de sempre. Através de várias parcerias, nomeadamente com o Conselho da Europa, a Liga dos Estudos Árabes, a Organização Internacional das Migrações e o Alto Comissariado para as Migrações, garantem todas as condições necessárias para que estudem. Responsabilizam-se pela documentação, logística e por uma bolsa anual, apoio que se mantém até encontrarem emprego em Portugal ou no estrangeiro.

Desde 2015, atribuíram 750 bolsas anuais, das quais beneficiaram 300 estudantes. A esmagadora maioria para frequentar estabelecimentos do ensino superior em Portugal, mas têm apoiado alunos noutros países: Espanha, Líbano, Alemanha, Egito, EUA e Curdistão iraquiano. Alguns dos testemunhos estão publicados no livro A Minha Terra É Linda, publicado em junho deste ano.

"O objetivo é que completem um ciclo de estudos, o que significa que um estudante recebe várias bolsas anuais. Pretende-se que se formem e fiquem preparados para enfrentar a vida, regressar ao seu país ou ficar na sociedade de acolhimento", explica Helena Barroco.
Entre os 136 que concluíram a formação académica, há nove doutorados. Os restantes tiraram mestrados ou mestrados integrados e os que acabam as licenciaturas seguiram para mestrados. As áreas de estudo preferenciais são engenharias, arquitetura , ciências computacionais ou robótica.

Dos que acabaram os ciclos de estudo, 130 estão integrados no mercado de trabalho nacional, um ou outro está no estrangeiro. A conclusão é que não têm dificuldade em encontrar emprego.

Helen Meerkhan é uma das jovens sírias que concluiu a formação académica em Portugal e se encontra na Alemanha por motivos familiares. O marido não conseguiu um visto para estudar em Portugal e teve de fugir, acabando a odisseia em Berlim.

Helen é música e vivia em Damasco, onde frequentava a universidade. Chegou a Portugal no primeiro grupo de 45 refugiados sírios, a 1 de março de 2014. Fez o mestrado em Engenharia Geotécnica e Geoambiente no Instituto Superior de Engenharia do Porto. Seguiu para o doutoramento em Geociências, na Universidade de Aveiro, que concluiu em 2019. O seu sonho é voltar à Síria, para ajudar a reconstruir o país.

Em Berlim vive com o marido, Nabil Arbaain, compositor e músico, que fugiu pelo Líbano e Turquia. Apanhou um bote com outras 37 pessoas, que chegaram às ilhas gregas. Seguiu-se a Itália, até chegar à Alemanha.

Com a morte de Jorge Sampaio, estatutariamente é o tesoureiro, Joaquim Mestre, que assume a presidência da Plataforma. A direção vai reunir para avaliar a continuação do trabalho, sendo que o governo confirmou o interesse em se manter em atividade.

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