25 anos de reciclagem. E agora?

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À saída do milénio passado, os portugueses foram chamados a aderir à separação dos resíduos. Portugal dava os primeiros passos na reciclagem. De 1500 toneladas de embalagens enviadas para reciclagem, em 1998, passámos para 409 mil, em 2020.

Para aqui chegarmos percorreu-se um longo caminho. Foi preciso ensinar a reciclar, promover a mudança de comportamentos face àquilo a que todos nós nos habituámos a chamar "lixo" e desenvolver um sistema eficaz que possibilite o devido encaminhamento e reaproveitamento dos resíduos.

Evoluímos. O termo reciclagem entrou definitivamente no vocabulário, os ecopontos são exigidos pelos cidadãos, os sistemas de fluxos de gestão de resíduos estão oleados. Mas, um quarto de século depois, e apesar de serem cerca de 70% os portugueses a reciclar, são muitos os desafios que o país ainda tem pela frente.

Acaba de terminar mais uma COP e de Glasgow sai o sentimento da necessidade de os países fortalecerem o seu compromisso para atingirem as metas a que se comprometeram para travar o aquecimento global e consequentes alterações climáticas. As empresas são cada vez mais relevantes nesta equação e os consumidores são os primeiros a exigir mudanças.

O país tem no setor das embalagens um bom exemplo a seguir. As metas da reciclagem (55%) são cumpridas e até ultrapassadas em alguns materiais, como é o caso do plástico e do papel-cartão. Mas não podemos parar. Reciclar mais e melhor tem de continuar a ser um desígnio nacional, sobretudo quando perspetivamos o ambicioso objetivo de chegar a 65% de reciclagem de todos as embalagens colocadas no mercado, até 2025.

Como lá chegar envolve um trabalho contínuo e colaborativo de repensar a utilização dos materiais de forma a contribuir para a diminuição do desgaste dos recursos naturais e consequente impacto ambiental. Consumidores, Estado e setor empresarial são chamados a incorporar os famosos 3 R da economia circular: reduzir, reutilizar, reciclar. A transição digital e verde é irrevogável.

Perante os desafios são também muitas as oportunidades. A começar pela inovação e a investigação enquanto ferramentas para potenciar a procura de novas soluções para as embalagens e gestão dos resíduos.

Nos próximos anos vamos assistir ao crescimento de novos métodos de recolha de resíduos, mais eficientes e convenientes, como o sistema porta a porta, que contribuam para preservar a qualidade das matérias-primas a serem recicladas e voltarem a entrar no circuito do consumo. Imagine-se o que seria poder pedir a recolha de resíduos em casa, à distância de um clique no telemóvel, tão fácil como pedir uma piza ou comprar uma peça de roupa.

Este deve ser o caminho. A inovação e a disrupção continuarão a marcar os próximos anos. Inovar no desenvolvimento de embalagens cada vez mais sustentáveis, mas também na otimização do próprio fluxo do atual sistema de gestão de resíduos urbanos, suportados por tecnologia, digitalização, internet of things, inteligência artificial e a servitização dos serviços pode trazer muitos ganhos. Novas soluções e novos negócios vão surgir, dinamizando a economia e a criação de emprego.

O PRR traz também ao país uma excelente oportunidade para a transição digital e verde e para apostar em mais indústria da reciclagem, que promova a economia circular com mais matéria-prima secundária a entrar no consumo.

A mudança de paradigma faz-se ainda através da transparência junto dos cidadãos. Uma boa parte das pessoas desconhece o que acontece às embalagens quando saem dos ecopontos e tudo o que implica o processo de reciclagem. É necessário envolver o consumidor no processo, dando-lhe a conhecer as vantagens, os custos e como funciona a cadeia de valor da gestão dos seus resíduos.

Vinte e cinco anos de reciclagem. E agora? Agora, é tempo de continuar a inovar e a evoluir. Não podemos perder tempo.

CEO da Sociedade Ponto Verde

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