25 – 50 – 100
Neste final de ano de 2023 completam-se os 25 anos da criação da Ordem dos Arquitectos, os 50 anos da inauguração da Ópera de Sidney e os 100 anos do nascimento de Fernando Távora. Todos eles a merecerem diferentes destaques na comunicação social, mas de um ou de outro modo a serem lembrados e comemorados.
A única coisa que têm em comum é o facto de todos terem a ver com a arquitetura: uma instituição, uma obra e um autor, mas julgo que, para além deste aspeto, outros merecem ser referidos.
A Ordem porque representou, sobretudo depois do 25 de Abril, e ainda representa, a estrutura de salvaguarda das obrigações mas também dos direitos dos arquitetos perante a sociedade, ou, como referem os estatutos, "consagra o interesse público da arquitetura e do urbanismo, e garante a qualidade dos serviços de arquitetura".
Passados que foram já 25 anos e, apesar de várias alterações legislativas, aquilo que parece óbvio, da necessidade de só os arquitetos se poderem responsabilizar pela autoria dos projetos de arquitetura ainda não foi possível de salvaguardar, e a cada vez mais forte mercantilização do mercado da construção (o que não é sinónimo de arquitetura), não faz prever uma clarificação fácil desta situação.
Lembrar os 100 anos do nascimento de um dos representantes desta profissão, na figura exemplar de uma cultura histórica e humanista como foi a de Fernando Távora, é também da mais elementar justiça para conhecermos, pois só assim podemos compreender, aquilo que nos legou em trabalhos, tantas vezes tão mal tratados.
Será pelo conhecimento e a vivencia destas obras, e pela ação de pedagogia política que elas nos transmitem que poderemos desenvolver, e consolidar toda uma cultura da memória absolutamente necessária para a qualidade do nosso futuro.
Com características bem diferentes, deixei para o fim a referência à única obra estrangeira, aqui mencionada. Inaugurada com pompa e circunstância há 50 anos, nela se simbolizam também muitos dos problemas e contradições presentes nas outras duas situações.
Resultado de um concurso internacional de projetos, realizado em 1956, a escolha deste projeto do arquiteto dinamarquês Joern Utzon foi desde início objeto de grande atenção e esteve na origem de inúmeras polémicas. Tratava-se não só de uma forma mas de um conceito bastante inovador, de todo o edifício, com destaque para soluções construtivas e estruturais bastante experimentais.
Para acompanhar de perto os trabalhos, o seu autor, deslocou-se para Siney mas nem isso evitou a pressão dos muitos que se lhe opunham e acabaram por o forçar a, em 1966, renunciar ao projeto, e quase fugir da Austrália aonde nunca mais voltou. Uma decisão forçada por sucessivas alterações que foram sendo introduzidas ao longo dos 17 anos que demorou a sua construção, algumas das quais obrigaram a uma alteração dos conceitos e das soluções construtivas como as que modificaram aspetos importantes da fantástica solução das coberturas do edifício, inicialmente bastante mais esbeltas.
O resultado deste longo, e pouco edificante, processo foi um custo final significativamente superior, hoje já esquecido até pelo retorno permitido por uma obra de qualidade unanimemente reconhecida, e desde 2007 integrada pela UNESCO como património da humanidade. Exemplar da capacidade e criatividade em perceber o sítio e o edifício mas também dos diversos problemas de uma profissão.
Comemorem-se agora as memórias.