21 artistas portugueses dão música na maior mostra europeia
Muito mudou na indústria musical desde 2001, ano em que os The Gift participaram no Eurosonic. A banda de Alcobaça, na altura com um único disco editado, dava os primeiros passos, como recorda o teclista e baixista John Gonçalves, para quem o destaque dado a Portugal, na edição deste ano do festival, "é um sonho tornado realidade".
Desde que foi criado, em 1986, esta será a primeira vez que o Eurosonic Noorderslag terá Portugal como país em destaque. O evento, que atrai anualmente à cidade holandesa de Groningen mais de quatro mil profissionais da indústria musical, entre os quais cerca de 400 representantes dos maiores festivais internacionais, é uma das maiores montras da música a nível europeu, onde se deram a conhecer, entre muitos outros, Franz Ferdinand, James Blake, Lykke Li, Benjamin Clementine, The xx ou os portugueses Buraka Som Sistema.
Apesar de estarem no início da carreira, os The Gift já tinham então o objetivo de conquistar os mercados internacionais e a presença no Eurosonic era vista pela banda como algo de fundamental. "Fomos ao Eurosonic e pouco tempo depois fomos também ao South by Southwest, no Texas. Na altura éramos só nós, a fazer tudo sozinhos. Era uma realidade que nada tem a ver com a de hoje", salienta John.
O planeamento da participação portuguesa no Eurosonic está hoje a cargo da Why Portugal, uma plataforma de promoção da música portuguesa, criada pela Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes (AMEI) em parceria com várias associações profissionais do setor.
Neste regresso ao festival, 16 anos depois, os objetivos dos The Gift estão bem definidos: "Esperamos conseguir alguns agentes europeus, falar com programadores de festivais já a pensar em 2018 e continuar a criar notoriedade para o nosso novo disco com o Brian Eno."
Ano zero da música portuguesa
Um dos estreantes deste ano é DJ Ride, que se apresenta, na companhia de Stereossauro, com a dupla Beatbombers, recentemente eleita campeã do mundo de scratch. Para este músico, além da possibilidade de "fazer contactos para poder editar e tocar mais fora de Portugal", o festival tem outra vantagem, "dar a conhecer também muita música nova", prometendo por isso que vai "estar atento aos showcases de outros artistas".
A simples presença no Eurosonic não é no entanto uma espécie de euromilhões para os músicos, como explica Pedro Coquenão, o criador da Batida, que atuará neste ano pela terceira vez no festival, agora com o projeto The Almost Perfect DJ. "Na minha primeira participação acreditei que apresentar o meu trabalho seria o suficiente, mas não foi, porque me faltava um booker. Para além de um bom espetáculo, é necessária uma boa promoção e alguém que faça tudo o resto fora do palco", defende Pedro, cuja segunda experiência foi completamente diferente. "Com a promoção e atenção que consegui com o primeiro disco internacional e já com uma booker europeia, tive a sala esgotada, com alguns programadores-chave a assistir, como os dos festivais de Glastonbury ou o Roskilde." Resultado: foi nesse ano o artista com mais marcações através do programa do Eurosonic.
"É um festival com o objetivo claro de dar exposição e provocar encontros entre artistas, programadores, editoras, imprensa e outros agentes", salienta o artista, que, em vez elevar as expectativas pessoais, prefere, isso sim, valorizar o facto de Portugal ser o país em foco. "É uma conquista dos artistas, que têm contribuído para o enriquecimento da música feita em Portugal, dos media e dos agentes que têm inventado formas de contrariar o tamanho do mercado Português."
Não deixa de ser surpreendente que, entre as nove propostas imperdíveis deste ano, escolhidas pelos media acreditados no Eurosonic, três sejam portuguesas: Memória de Peixe, Best Youth e First Breath After Coma. Nesta abrangente amostra da atual diversidade da música nacional, contam-se ainda nomes como Gisela João, Noiserv, Marta Ren ou Rodrigo Leão. Para John Gonçalves, pela curiosidade que vai despertar esta verdadeira embaixada portuguesa, este poderá vir a ser "uma espécie de ano zero para a música nacional". Mas alerta: "É preciso ter a noção de que ainda há muito a fazer."