2019 vai ser um ano de tensões geopolíticas e de grande incerteza económica

Relatório diz que tensão entre EUA e China, Brexit e mudanças na zona euro podem atingir outros países. Portugal, apesar das eleições em outubro, é dos países com mais estabilidade e menos riscos políticos.
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Incerteza. Esta é a palavra que marcará o mundo do comércio global durante este ano. Tudo por culpa do Brexit, cujos efeitos económicos ainda não são claros, da disputa económica entre os EUA e a China, e das economias impactadas de alguns países europeus, como a da Alemanha.

Por isso, o ano de 2019 "será movimentado para os mercados emergentes e alguns países desenvolvidos", como avisara já o Fórum Económico Mundial sobre risco político e económico.

Esta quinta-feira, a consultora especialista em análise de risco Marsh divulgou o "Mapa Sobre o Risco Político" para 2019 e dá nota que o mundo do comércio global vive na base de um fator, o do "medo", que tem vindo a ser reforçado e alargado devido a "um recuo dos valores liberais e uma mudança política para a direita".

De acordo com a Marsh, a incerteza económica pode afetar social e politicamente os países individualmente, bem como ir muito além das próprias fronteiras e "fazer transbordar continentes". Mais do que nunca, os riscos políticos existentes numa parte do mundo podem atingir e estender-se até outras regiões, causando danos inesperados.

Na Europa, destacam-se o Brexit e as mudanças na zona euro. No mundo, a tensão entre EUA e China, o futuro dos programas nucleares do Irão e da Coreia do Norte e ainda as tensões entre a Rússia e o Ocidente são as ameaças para este ano. São os riscos políticos que podem extravasar e atingir o mundo inteiro.

Este relatório, que tem em conta os dados da consultora Fitch Solutions, refere mesmo que só será possível minimizar os danos se houver uma vigilância rigorosa e ampla bem como uma análise sistémica dos mercados emergentes, das tensões geopolíticas e geoeconómicas.

A ordem tradicional do poder, ou da forma como está distribuído, devera manter-se. Os atores mais poderosos continuarão a ser os EUA China, Rússia, Japão e UE, mas as potências emergentes como Índia, Irão, Arábia Saudita, Turquia e Brasil irão tornar-se atores cada vez mais importantes.

O método da Fitch Solutions atribui a pontuação a um país até 100 - quanto maior o índice, menor o risco político.

Portugal mais estável do que em risco

Na avaliação feita pelo Mapa de Risco Político de Marsh 2019, Portugal é dos países onde o risco político não ameaça o risco económico. O índice atribuído é de 70,9, bem melhor do que aquele que foi atribuído a Espanha, embora o risco político a curto prazo seja de 65,8.

A Marsh refere que, embora haja eleições legislativas em outubro de 2019, "a queda do desemprego, o declínio constante da dívida e a contínua prudência fiscal sugerem que os riscos económicos estão a diminuir." Isto, apesar de considerarem ser pouco provável que António Costa, líder do PS, "um partido de centro-esquerda", consiga alcançar a maioria absoluta, tendo assim que fazer acordos à esquerda ou à direita, com "o seu rival tradicional", para governar. Terá efeitos, mas tal não aumentará os riscos políticos de forma a aumentar os riscos económicos.

O relatório alerta para o facto de os EUA e a China estarem a intensificar a competição geopolítica na região do Indo-Pacífico. E, com o aumento das atividades militares no Mar da China Meridional, é possível que surja um confronto militar, mesmo que não intencional.

Alerta ainda para as relações da Rússia com o Ocidente permanecerão igualmente tensas em 2019, como resultado da suposta interferência do Kremlin nas políticas internas dos EUA e da UE.

Na Europa, a política do Reino Unido continuará focada nas negociações do Brexit e no período de transição subsequente fora da UE.

Mas Brexit à parte, a UE viverá um estado de transição durante este ano, com as eleições parlamentares em maio. No final do ano, em novembro e dezembro, poderá haver também mudanças nos cargos de presidente da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Conselho Europeu.

Tudo se complicará se a chanceler alemã, Angela Merkel, não cumprir seu mandato completo até às eleições gerais do outono de 2021. Se assim for, isto significa que a UE pode enfrentar um vácuo de liderança.

O presidente francês, Emmanuel Macron, pode tentar preencher o vazio, mas a sua popularidade está cada vez mais em declínio, o que pode significar que estará mais voltado e centrado para os problema internos e não tanto para os problemas da Europa.

Espanha continuará agitada, embora o risco político, segundo a consultora, possa diminuir este ano. Isto apesar de o país ser agora governado por uma minoria socialista e de se manter a agitação na Catalunha. Mas os dados da Fitch Solutions reduzem o índice de risco político de curto prazo de 68,3 em 2018 para 64,6 em 2019, a maior redução de risco no continente europeu.

No documento agora divulgado, os alertas continuam: o conflito na Ucrânia pode piorar, especialmente se o presidente Petro Poroshenko ou o seu sucessor tentarem reforçar o nacionalismo neste ano eleitoral e se a Rússia responder.

As recomendações

Para a Marsh, é absolutamente vital que as empresas avaliem o impacto potencial dos riscos políticos que enfrentam, bem como a natureza sistémica desses riscos e os possíveis efeitos colaterais, que muitas vezes vão muito além de seu próprio país.

É importante que considerem a natureza geograficamente difusa de muitos riscos políticos, com as nações do G7 e outras economias maduras a serem cada vez mais ameaçadas pelo aumento dos riscos políticos.

No entanto, e quando se fala de riscos políticos, tem de se dizer que estes são, por outro lado, difíceis de prever, mas, as empresas podem e devem analisar e modelar o risco, quantificando claramente as suas operações de negócios e pontos de pressão. A mentalidade de uma empresa em relação ao risco político também é importante. Não é aconselhável avaliar qualquer risco político isoladamente, ou até avaliá-los em prazos muito curtos.

A consultora, que também tem o negócio dos seguros, lembra que os riscos políticos também podem ser controláveis e até atenuados através de seguros de risco de crédito e político, proporcionando maior confiança nos benefícios de oportunidade.

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