2017 a marcar passo
Para Portugal e os portugueses, 2016 está a terminar bem melhor do que foram as minhas previsões no final de 2015. Tivemos estabilidade política, cumpriu-se o objetivo do défice das contas públicas, o desemprego baixou, o ano turístico superou as expectativas já otimistas, muitos portugueses melhoraram a sua situação económica. Além destes dados objetivos, não menos importante é a recuperação da autoestima abalada nos anos de chumbo que se seguiram à intervenção da troika. Muito por influência do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e da sua relação com os portugueses, o país passou a respirar alguma confiança e esperança no futuro.
O acordo que deu origem à primeira experiência em democracia de um governo das esquerdas teve já um aspeto positivo: quebrou o tabu da impossibilidade de uma solução governativa apoiada no PCP e no BE; António Costa teve a suprema habilidade de passar por entre a pressão de Bruxelas e as exigências de partidos claramente hostis ao projeto político-económico da União Europeia.
Mas será que o otimismo se manterá em 2017? Ninguém dotado de senso comum fará prognósticos para 2017, tantas são as variáveis com forte influência no futuro próximo dentro e fora da Europa. O êxito ou o fracasso dos portugueses depende, desde logo, de múltiplas incógnitas que se perfilam no horizonte a partir do início do próximo ano.
Os tempos são dos mais imprevisíveis de que tenho memória: um presidente errático nos EUA, pondo em causa a orientação de política internacional consolidada em décadas de alianças estratégicas, uma Europa à deriva com eleições e eventuais referendos que poderão levar ao desmantelamento do projeto da União Europeia, o reforço da Rússia com aspirações que criam medo em países vizinhos, e tantos outros focos de tensão que não cabem num artigo com um máximo de 4000 caracteres.
Num contexto tão imprevisível como este, as nossas fragilidades são tudo menos reconfortantes.
Uma dívida pública que não para de crescer, um crescimento anémico sem investimento público ou privado que permita impulsionar o crescimento, um Estado omnipresente e insaciável que vai sempre inventando novas formas de expropriar os contribuintes e um ambiente pouco propício ao empreendedorismo, com destaque para o sistema de justiça, lento e com perceção de pouca fiabilidade.
Ninguém espera que um governo que depende do apoio dos partidos da extrema-esquerda faça as reformas de que o país precisa para se libertar do garrote do Estado. Pelo contrário, a pressão desses partidos para uma agenda antiliberal é bem patente, mais despesa pública, fim das parcerias público-privadas na saúde, fim das propinas na educação, mais impostos, maior rigidez laboral.
À míngua de capital português, precisamos de investimento estrangeiro para crescer, mas Portugal, em vez de se tornar mais atrativo, desceu no ranking da competitividade, caindo para o 39.º lugar.
Mas será que existe alternativa a esta política?
Onde está ela? No PSD? No CDS? Numa coligação destes partidos?
Um governo apoiado pela extrema-esquerda deveria abrir espaço para uma alternativa reformista, com um programa apostado em libertar a sociedade civil, a criar melhores condições ao florescimento da economia privada, à diminuição da despesa pública e dos impostos, e tudo isso como sinal de esperança no futuro, com mais emprego para os jovens e bem-estar de todos.
Tenho a convicção de que um dos aspetos mais negativos do governo anterior foi ter sido rotulado, na opinião pública, como um governo liberal, que, na realidade, não foi.
Se só dependesse de nós e toda a envolvente externa permanecesse estável, 2017 seria mais um ano a marcar passo, com crescimento fraquinho e a dívida a subir. Sem alternativa!