2009 em balanço: os rostos, os factos e as histórias

Com 2010 a acenar e 2009 a dar-nos os últimos momentos, importa acolher o futuro com a memória avivada do que foram os acontecimentos, figuras e momentos mais marcantes do ano. Uma escolha de boa parte dos jornalistas da Global Notícias com a colaboração prestimosa de Hélder Amaral, deputado, português e negro, que analisou para a NS’ a eleição de Barak Obama, um marco indubitável de 2009.
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FIGURA NACIONAL DO ANO

RICARDO ARAÚJO PEREIRA

Ricardo Araújo Pereira é o homem do ano. Estranho? Não para quem o viu, e foram milhões de portugueses, entre os quais os jornalistas das publicações da Controlinveste que o elegeram, no seu mais recente êxito, Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios, a dominar (e encantar) os políticos. Inspirado na assertividade das entrevistas de Jon Stewart, do Daily Show, Ricardo Araújo Pereira não fez pior, bem pelo contrário.

Dono de um estilo próprio (coadjuvado pelos outros elementos do grupo Gato Fedorento, Miguel Góis, Zé Diogo Quintela e Tiago Dores, nos restantes momentos cómicos do programa), Ricardo Araújo Pereira conseguiu tirar dos políticos – até  ali tidos como sisudos, desinteressantes, sem piadinha nenhuma... – alguma graça, risos e até graçolas. A fórmula foi confrontá-los com aquilo que Ricardo Araújo Pereira e o seus colegas fazem bem – boas perguntas assentes na actualidade da campanha eleitoral que decorria entretanto (legislativas e autárquicas).

E o resultado não podia ser melhor. Bom humor e boas audiências para a SIC (sempre de um milhão de espectadores). Pela sua mesa de entrevistas, durante cerca de um mês, passaram mais de trinta convidados, entre os quais José Sócrates (na estreia), Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas (o mais visto de todos, diga-se), Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Pedro Santana Lopes, Maria José Nogueira Pinto, Marinho Pinto ou Ramalho Eanes e Mário Soares... 

A isto, Marcelo Rebelo de Sousa, um desses ilustres e influentes convidados, chamou de  «verdadeiro poder». Faltou, segundo analisou o professor, o Presidente da República e os tribunais. «Teve-os cá todos! Não queria mais nada?!», atira vitorioso a Ricardo Araújo Pereira. PAULA BRITO


FIGURA DESPORTIVA DO ANO

CRISTIANO RONALDO

Cristiano Ronaldo perdeu para o argentino Messi o estatuto, e os prémios, de melhor jogador do Mundo em 2009, mas ficou com a «consolação» de ter passado a ser o mais caro de sempre. Os 94 milhões de euros que o Real Madrid pagou ao Manchester United, na transferência que mais agitou o ano futebolístico, estabeleceram um novo recorde e consumaram um namoro antigo entre o clube da capital espanhola e o internacional português, que assim pôde cumprir, finalmente, o sonho de vestir a camisola dos merengues.

Logo no dia da apresentação, que levou oitenta mil pessoas em delírio ao Estádio Santiago Bernabéu, Ronaldo começou a render... A nível desportivo, o ano foi de altos e baixos para o madeirense, que ganhou mais um título da Premier League, o terceiro consecutivo, ainda no Manchester United, mas perdeu para o Barcelona a final da Liga dos Campeões.

Já no Real Madrid, começou em grande, com golos em catadupa nos primeiros jogos da Champions e da liga espanhola, mas uma lesão grave num tornozelo afastou-o dos relvados durante dois meses e o regresso à titularidade, no clássico com o Barcelona, não foi acompanhado de uma exibição a condizer. Na Selecção portuguesa, esteve longe do nível habitual e não foi graças aos seus golos que Carlos Queiroz cumpriu a missão de garantir a qualificação para o Mundial de 2010.

A lesão no tornozelo afastou-o dos jogos decisivos com a Bósnia e o melhor que CR9 conseguiu fazer foi torcer por fora. Na África do Sul, terá oportunidade de se redimir... NUNO A. AMARAL


FIGURA INTERNACIONAL DO ANO

BARAK OBAMA

A escolha de Barack Obama foi vista como um sinal de mudança. Mas, como o próprio afirmou, «a mudança normalmente não é fácil». Certo é que a eleição do primeiro Presidente negro veio carregada de esperança para os EUA e para o mundo. É, no entanto, prematuro tirar conclusões sobre o desempenho da Administração Obama, quer para os críticos quer para os apoiantes.


Ainda assim, melhorou a imagem dos EUA ao dotar a política externa norte-americana de renovada capacidade e influência política global, com uma diplomacia assertiva em várias regiões: Ásia, Europa, Médio Oriente e América Latina.


Obama demonstra vontade em usar a força, se necessário, na defesa dos interesses nacionais norte-americanos, ou como recurso ao falhanço do processo político. Mas fez (e bem) um distanciamento de algumas práticas recentes dos Estados Unidos, como o recurso à tortura ou a existência de Guantánamo. 
Na cerimónia dos Prémios Nobel, viu-se Obama no seu melhor: assumiu frontalmente a controvérsia do seu Nobel da Paz e defendeu a «guerra justa» afirmando o óbvio: «O mundo é como é, e não como gostaríamos que fosse», e por isso por vezes é preciso matar e morrer, como mostra a história.


Com um congresso difícil, perante a impopularidade de grandes pacotes financeiros injectados na economia, com o reforço da intervenção militar (Afeganistão) difícil de perceber na sua duração e propósito actuais, e ainda no ambicioso programa de saúde nacional, o mundo pede mais do que a magia dos discursos. Obama detém um capital político que lhe garante a assunção de algumas posições corajosas. Falta aferir o alcance de algumas intenções no plano prático.


O futuro dirá se Obama é capaz de continuar a gerar mudanças e de cumprir o sonho, traduzido em milhões de lágrimas na noite da vitória. Que se destaque pela acção, e não pela cor da pele.
HÉLDER AMARAL 42 anos, dirigente do CDS e deputado eleito pelo círculo de Viseu.

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