Se seguir a vontade expressa ontem pelos partidos, Marcelo Rebelo de Sousa já tem data para as eleições; 16 de janeiro. Com algumas nuances e poucas exceções, o terceiro fim de semana de 2022 foi a data sugerida pela maioria dos partidos com assento parlamentar, que ontem foram recebidos em Belém, para a realização de legislativas antecipadas, depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022..Para o PS esta é a "data adequada" para as legislativas por forma a garantir as necessárias condições de governabilidade, questão que José Luís Carneiro qualificou como "crucial". "Considerando que teremos a quadra natalícia, que se prolonga até princípio de janeiro, a data que o PS entende adequada seria 16 de janeiro, para garantirmos tão breve quanto possível as condições de governabilidade adequadas às necessidades do país", defendeu, o secretário-geral adjunto dos socialistas..Como já tinha defendido, o presidente do PSD, Rui Rio, foi dizer ao Presidente da República que as eleições devem realizar-se o "mais rapidamente possível", o mais tardar a 16 de janeiro - ou até no fim de semana anterior. "A primeira data possível é 9 de janeiro. Se ainda assim se entender que devemos afastar a campanha do Natal pode ir-se até 16. A partir daí, não vejo nenhuma razão de interesse nacional para empurrar as eleições para a frente e inviabilizar que haja governo" ainda no primeiro mês de 2022, disse o presidente social-democrata. Em defesa destas datas, Rui Rio citou o próprio Marcelo: "As eleições têm de ser o mais depressa possível, nos exatos termos em que o Presidente da República o referiu, logo após a entrega do Orçamento do Estado"..O líder do PSD foi a Belém no final de uma semana em que teceu duras críticas a Marcelo que, na última terça-feira, recebeu em audiência Paulo Rangel. O líder social-democrata considerou então "muito estranho que o Presidente da República receba um putativo candidato à liderança de um partido". Ontem, após uns rápidos dez minutos de reunião com o chefe de Estado, Rio recusou qualquer tensão com o Presidente. "[A reunião] foi curta, foi. Mas tensão não houve nenhuma, zero"..O CDS defendeu uma posição idêntica. Depois de ter aprovado em Conselho Nacional o adiamento do congresso eletivo dos centristas para depois das eleições, Francisco Rodrigues dos Santos foi a Belém defender que o interesse nacional está acima do interesse dos partidos, pelo que as legislativas se devem realizar o mais rapidamente possível. Tal como Rio, o presidente do CDS admite mesmo a hipótese de o país ir para eleições logo a 9 de janeiro mas, dado que com esta data se entrará em campanha ainda no final do ano, Rodrigues dos Santos apontou também para 16..Debaixo de fogo no CDS por ter adiado a disputa interna, Rodrigues dos Santos citou Sá Carneiro: "Em primeiro lugar o país, depois o partido e só depois as circunstâncias políticas de cada um". "O país não pode esperar" e a "vida interna dos partidos não deve condicionar o interesse nacional", defendeu o líder centrista, que voltou a admitir a "possibilidade de uma coligação pré-eleitoral" com o PSD..À esquerda, o BE apontou também o dia 16 de janeiro, não como prazo limite, mas como a data a partir da qual as eleições podem ter lugar. Muito embora o Bloco de Esquerda não defenda a dissolução da Assembleia da República e a consequente convocação de eleições, a concretizar-se este cenário Catarina Martins defende que as legislativas devem devem "ocorrer o mais depressa possível". "Devem ser os partidos a adaptar os seus processos ao calendário eleitoral e não o contrário, e foi essa a posição que transmitimos ao Presidente da República", sublinhou a líder bloquista, mas salientando também a necessidade de uma campanha eleitoral "esclarecedora" - razão pela qual o partido considera "impossível" que o escrutínio eleitoral possa ter lugar antes de 16 de janeiro..Já o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, reiterou a posição contrária do PCP à convocação de eleições antecipadas e responsabilizou diretamente Marcelo por este cenário: "A votação do Orçamento do Estado não obrigava o Presidente da República a convocar eleições, decidiu fazê-lo, é responsável por isso". Face a essa decisão, 16 de janeiro é igualmente a data preferida pelo PCP. E pelo PEV que, pela voz do líder parlamentar José Luís Ferreira, também visou a "desnecessária a dissolução do parlamento"..Uma das poucas vozes dissonantes, o PAN prefere que as eleições ocorram um pouco mais tarde, "entre final de janeiro e início de fevereiro", para que a Assembleia da República tenha tempo para fechar diplomas que estão ainda em processo legislativo. Inês Sousa Real defendeu que a campanha deve ficar afastada do Natal e fim de ano e que o Parlamento ainda deve ter oportunidade para fechar trabalhos - nomeadamente diplomas como a lei de bases do clima, o luto parental, o alargamento da criminalização dos maus-tratos a animais ou o combate à corrupção. Por essa razão, a líder do PAN defendeu que uma dissolução rápida do Parlamento seria "irresponsável para o país"..Também João Cotrim Figueiredo, líder da iniciativa Liberal, manifestou preferência por uma data mais tardia e foi pedir ao Presidente da República que as eleições não se realizem "antes de 30 de janeiro", por forma a que haja um "campo de jogo equilibrado entre todas as forças políticas que se venham a apresentar a sufrágio". Para a IL "não é compatível" haver eleições "com uma campanha que tenha menos de quatro semanas entre a pré-campanha e a campanha"..Já para o Chega, 16 de janeiro é "uma data aceitável dentro do quadro da organização dos partidos e também de alguma celeridade e brevidade". À saída da audiência em Belém, André Ventura revelou ter feito uma recomendação "pessoal" a Marcelo Rebelo de Sousa: "Remeter eleições para depois de 30 de janeiro pode passar a perceção pública que o Presidente se está a envolver num jogo interno de um partido e a apoiar um candidato em detrimento de outro"..Feita a ronda dos partidos com assento parlamentar, meados de janeiro surge, claramente, como a preferência geral. Uma opção que deixa Paulo Rangel isolado na proposta de realização de eleições a 20 ou 27 de fevereiro. Seria só uma nota de pormenor, mas que ganha relevância no quadro de disputa interna no PSD, e sobretudo depois da polémica que se levantou com a audiência de Rangel em Belém. Na noite de sexta-feira, em entrevista à SIC, Rio foi direto à questão, afirmando que a data que o Presidente da República escolher para as legislativas revelará "se quis dar uma ajuda ao PSD" e, em concreto, "mais a um candidato" - o seu adversário, entenda-se. Ontem, Miguel Pinto Luz veio acusar Rio de "tentativa de condicionamento" do Presidente da República, o que a somar ao que diz ser a insistência no "adiamento das eleições internas", são posições "democraticamente inaceitáveis"..susete.francisco@dn.pt