14 anos debaixo do edredão
Foi a 9 de outubro de 2000 que a TVI exibiu as primeiras imagens de sexo dentro da "casa mais vigiada do país". Marco Borges e Marta Cardoso abriam assim a caixa de Pandora no que às cenas debaixo do edredão diz respeito. Imagens como estas ainda hoje, quase uma década e meia depois, dão que falar na televisão portuguesa.
Na semana passada, Hugo Miranda e Inês Silva, concorrentes de Casa dos Segredos 5, envolveram-se debaixo dos lençóis e as imagens foram transmitidas na televisão. Já esta semana, foi a vez de Flávia e Bruno, ainda na casa, cederem à tentação durante a noite. Uma situação que impõe a questão. Haverá uma banalização do sexo num reality show? Teresa Guilherme não tem dúvidas de que "há é uma banalização do sexo no geral". "O sexo faz parte da vida, é como o comer, as pessoas é que gostam de fazer disso algo muito fora do normal. Quantas pessoas nas suas casas não vão espreitar uma pornografia na internet? Isso é que era uma estatística interessante. Não estou a dizer em Portugal, estou a dizer no mundo. Se calhar mais vale contar as que não vão", atira a apresentadora à Notícias TV.
Marta Cardoso também defende que apesar de imagens como estas se repetirem edição após edição, não existe uma banalização. "Acho que isso é falso. Na casa não se vê sexo explícito, não se vê pessoas a fazerem as coisas de forma menos sentimental. Não vamos fingir que esta nova geração não tem uma abertura e uma visão do sexo que nós, há 14 anos atrás, não tínhamos, e os nossos pais ainda mais, e os nossos avós mais ainda. Não há uma banalização pior, há uma evolução de geração. Esta geração está cá fora confortável com uma situação de estar com A e se as coisas não funcionarem amanhã envolver-se com B. A sociedade permite isto. Se a sociedade permite isto e está confortável, porque é que eles não hão de estar lá dentro da casa também? Há 14 anos, eu envolvi-me com o Marco, a Célia envolveu-se com o Telmo e não houve mais porque não calhou, porque se tivesse calhado também teria acontecido", dispara.
Visão diferente tem o sexólogo Santinho Martins, que duvida de que exista "sexo dentro da casa verdadeiramente". "Aquilo devem ser tudo jogadas combinadas. Debaixo do edredão pode-se simular tudo e não acontecer nada. Custa-me muito a acreditar que realmente aconteça isso. As pessoas sabem que estão a ser observadas, que quem vê comenta. A comunicação social também alimenta um bocadinho isso", frisa, prosseguindo: "Poderá haver algumas pessoas que sejam eventualmente um pouco exibicionistas. Se entrarmos por essa zona, acredito que poderá haver ali alguma tónica de exibicionismo. Claro que eles estão lá para fazerem crer ou para fazerem mesmo, mas eu tenho algumas dúvidas. Isso é que torna atrativo o programa para quem não tem mais nada que fazer e que não tem outros interesses", destaca.
Responsável pela Endemol Portugal, produtora do programa, Lurdes Guerreiro faz questão de esclarecer que nunca são mostradas cenas de sexo explicitamente. "Mostramos as cenas dos edredões mas nunca nada explícito. E o facto de mostrar essas cenas de edredões, não significa que tenha existido sexo", frisa à Notícias TV.
"O público não liga a estas cenas"
O termo edredoning, muito utilizado em sites e blogues dedicados a reality shows, descreve estes momentos debaixo do edredão e surgiu curiosamente em Espanha muito por culpa da versão local de Big Brother há já alguns anos. Marta Cardoso, que hoje está a coordenar as emissões diárias da Casa dos Segredos 5, questionada sobre se seria possível imaginar um reality show sem este tipo de cenas, é perentória: "Nada impossível quando se trata de um reality show. Consegue pensar uma vida sem sexo? Se não se consegue pensar numa vida sem sexo, não se consegue pensar num reality show sem uma coisa básica, que é o sexo, que é o ir à casa de banho, o comer, o gostar mais de A e menos de B, está tudo ao mesmo nível", enaltece.
Na opinião de Teresa Guilherme, cenas como estas não são uma novidade e a apresentadora do Diário da Tarde e das galas de domingo diz mesmo que "as pessoas não ligam minimamente a estas cenas, se não não punham cá fora quem as protagoniza". "É algo que faz parte. Já houve uma época em que isso era uma novidade. As pessoas podem continuar a ficar chocadas, podem continuar a fazer o que quiserem, mas não há novidade nenhuma nisso. Na verdade nunca achei que havia novidade. Um monte de gente com vinte anos fechados numa casa, rapazes e raparigas, o que seria de esperar? Ao fim de uns tempos esquecem-se das câmaras, quando está completamente escuro, estão entusiasmados ou apaixonados e é normal que isso aconteça", enaltece.
O lado voyerista do público é a principal causa apontada por Santinho Martins para que ainda hoje se fale tanto sobre momentos debaixo dos edredões. "As pessoas são voyeristas por natureza. Gostam muito de ver, observar. Também vão ver o que se passa com acidentes de carro, tudo o que impressiona, têm uma grande tendência a entrar na ação. Divertem-se desta maneira", diz o sexólogo à Notícias TV, que é apoiado por Lurdes Guerreiro. "Existe um lado voyeurista muito presente por parte do espectador no dia a dia dos concorrentes", salienta.
Apesar de se terem passado 14 anos desde a primeira cena de sexo num reality show em Portugal, Teresa Guilherme não acredita que hoje os concorrentes tenham uma perceção diferente da dos do Big Brother. "Têm todos igual noção. Na altura tinham vinte e poucos anos. O que o Marco e a Marta não iriam supor era que o programa tinha tanta gente a ver. Mas não me parece que tenha sido isso que influenciou, porque ter mil pessoas a ver ou um milhão vai dar ao mesmo. Isto é a intimidade das pessoas. Chega a uma altura que não se controlam, porque são novas. Aos trinta e tal provavelmente não e não vem daí mal ao mundo. A Marta e o Marco são prova disso, casaram--se, tiveram um filho", destaca, exemplificando o caso de Bernardina Brito e Tiago Ginga, que muitas "ondulações" protagonizaram na quarta temporada do reality show e que hoje ainda estão juntos e vão ser pais em 2015. "Eles são um dos casais que mais me recordo. Eram de uma descontração de tal ordem que me lembro que, a dada altura, já se evitava passar por lá as câmaras. Eles tornaram o assunto "normal", falavam ao mesmo tempo com os que estavam à volta, era uma situação corrente e normal para eles", remata a comunicadora.