"O senhor Eiffel era, tenho a certeza, um calculista simpático, habitado pela grandeza e altura (de espírito). Tinha pena de não ser visto como um doador de beleza [...]" Esta citação de Le Corbusier é extraída do catálogo da exposição Gustave Eiffel, o mágico do ferro, que se pode ver em Paris por ocasião dos 120 anos da "Dama de Ferro". A frase resume ao mesmo tempo a audácia do engenheiro Gustave Eiffel e o seu desejo de beleza tão raramente reconhecido enquanto ele foi vivo. .No final do século XX ainda se estava longe de reconhecer uma função estética ao metal. E a torre, inaugurada a 31 de Março de 1889, mas aberta ao público a 15 de Maio para a Exposição Universal de Paris, esteve para ser apenas um acontecimento provisório. Devia ser desmontada, muitos a achavam feia. .Mas, 120 anos depois, a pirâmide de metal e parafusos plantada no Champ de Mars tornou-se num dos símbolos mais conhecidos e apreciados. Um símbolo superlativo: sete milhões de visitantes por ano, ou seja, o recorde para o monumento a pagar mais visitado do mundo. É também o mais fotografado. Investigadores da universidade de Cornell, no estado de Nova Iorque, chegaram a essa conclusão ao analisarem mais de 35 milhões de fotografias disponíveis no site Flickr.com. .No entanto, a torre viveu várias ameaças e foi preciso esperar pelos anos 1960 para que o seu destino ficasse selado e que se tornasse neste monumento tão conhecido. .Quanto ao senhor Gustave Eiffel, as duas exposições parisienses "Gustavo Eiffel, o Mágico do Ferro" na câmara municipal de Paris e "A Epopeia da Torre" no primeiro andar da própria, revelam a obstinação de um génio. .Em Playtime, o filme de Jacques Tati , a torre Eiffel - e os outros monumentos de Paris - desaparece constantemente do campo de visão de Barbara, a americana que visita Paris e que acaba por só ver um universo de edifícios modernos. A metáfora poderia aplicar-se ao senhor Eiffel, que parece absorvido pela sua torre. .Poucos franceses - e não só - sabem, por exemplo, que foi em Portugal que nasceu a Torre Eiffel. De facto, foi ao construir a Ponte D. Maria Pia sobre o Douro, no Porto, que o engenheiro francês experimentou com sucesso a sua técnica de montagem do arco sem andaimes. A ponte portuguesa servirá de modelo ao magnífico viaduto de Garabit, no Centro de França, que, ele próprio, será a repetição técnica da torre. .O engenhoso sistema desenvolvido no Porto ainda suscita a admiração. A proeza técnica valerá a Eiffel construir inúmeras obras na Península Ibérica. Sem o engenhoso senhor Eiffel, o caminho-de-ferro português não existiria.