12 dias para um mau acordo
Dia 7
Abertura oficial da Conferência de Copenhaga. A previsão da participação de 12 mil participantes e 3000 jornalistas fica muito aquém da realidade. Ultrapassando a capacidade do Centro Bella, chegam a estar no seu interior 22 mil pessoas enquanto lá fora ficam mais 20 mil. É o primeiro engano da presidência dinamarquesa em todo o processo.
Dia 8
Os discursos do dia anterior não têm correspondência com o que se passa no andamento dos trabalhos dos vários plenários. Nem o terá jamais porque a Conferência das Partes (Cop) será sempre um xadrez de negociadores hábeis e conscientes de que um atraso reverte em milhões em mais ajudas financeiras. O posicionamento de conflito claro entre a China e os EUA retrai os avanços.
Dia 9
Era para ser o Dia O, de Obama. Consciente de que está nas suas mãos a possibilidade de haver um acordo, o Presidente norte-americano transfere a deslocação para o último dia da COP15. A pressão interna da Administração Obama para haver mais legislação ambientalista nos EUA surge com o anúncio da EPA, Agência de Protecção do Ambiente, de novas medidas e com pressão ao Senado.
Dia 10
Depois de, no dia anterior, Tuvalu ter obrigado à suspensão dos trabalhos do plenário por não concordar com os valores das reduções das emissões de gases, as auto-suspensões vão entrar na moda na COP15. A mais grave acontecerá na semana seguinte com o levantamento dos países africanos, que interrompe em momento crucial a tentativa de se chegar a um acordo. A Índia será outro dos países importantes a quebrar o diálogo.
Dia 11
A presidência dinamarquesa é acusada de ter um texto arranjado nos bastidores que quer impor a todo o plenário, e as divisões começam a ser bastantes visíveis. A União Europeia anuncia milhões para apoiar a primeira fase de financiamento dos países pobres, que não aceitam o montante por considerar ser bastante inferior ao necessário.
Dia 12
Mais de 50 mil pessoas saem à rua para apelar à realização de medidas concretas destinadas a proteger o planeta. É uma chamada de atenção desesperada da sociedade civil aos políticos e delegados que estão no Centro Bella, a atirar peças para o puzzle sem preocupação de acertar no lugar de encaixe. 968 detenções de manifestantes mais aguerridos é o número que se destaca neste domingo.
Dia 13
Seria dia de descanso para as delegações, mas o desentendimento que reina faz com que a ex-ministra do Clima dinamarquesa exija "mais trabalho" no domingo para se chegar a algum lugar. O Centro Bella está vazio de sociedade civil, só negociadores o povoam, mas o que irão apresentar na segunda-feira seguinte é insuficiente.
Dia 14
Após longa marcha entre o centro de Copenhaga e o Centro Bella, todos crêem que a discussão se vai traduzir em avanço no texto do acordo. Fuga de informação para o jornal The Guardian do texto da presidência dinamarquesa que indica pouca ambição nos valores de redução de emissões volta a provocar crises. A principal questão é a indicação de que o Protocolo de Quioto cairá, o que não é o entendimento da maioria dos países.
Dia 15
A brutalidade da acção policial começa a ser bastante visível. Gás lacrimogéneo e bastonadas são distribuídos à vontade nos arredores do Centro Bella e em Copenhaga. Nos dias seguintes será fechada a estação do metro do pavilhão, e a maioria dos participantes chega atrasada às reuniões, após passar mais de uma hora ao frio e à porta, esperando que a burocracia dinamarquesa os deixe entrar.
Dia 16
As Nações Unidas expulsam praticamente todos os elementos das organizações não governamentais do interior do Centro Bella. É a hora de os políticos aparecerem e quererem evitar os confrontos. A atitude da ONU é bem traduzida na Dinamarca, cujos executantes parecem estar à vontade na repressão e em dizer "não" a qualquer pergunta. Aliás, um "não" constante dos dinamarqueses marcou toda esta Cimeira de Copenhaga.
Dia 17
Conforme chegam os chefes de Governo vai--se instalando a ideia de que dificilmente haverá um acordo. O plenário é interrompido frequentes vezes sem razão, e a presidente Connie Hedegaard, que se demitira dias antes, regressa ao trabalho para ajudar o primeiro-ministro Lars Loekke Rasmussen a levar a cabo a tarefa.
Dia 18
O fracasso do acordo é total. Obama salva as negociações após um entendimento com a China, o Brasil, a África do Sul e o presidente da Etiópia (representante dos países africanos). Todos os protagonistas europeus e da sociedade civil desaparecem de cena na hora do anúncio de acordo. A pergunta do dia ficou por responder: É melhor não haver acordo do que ter um mau acordo?