10 anos de Fukushima na Alemanha: o abandono da energia nuclear e Wendelstein 7-X
Faz esta quinta-feira dez anos do acidente nuclear japonês de Fukushima e dez anos da decisão de Angela Merkel de repensar a política energética alemã, na linha da Energiewende [transformação energética], e abandonar o uso da energia nuclear de forma gradual até 2022 na sequência desse mesmo acidente, apesar de ser até então uma defensora deste tipo de energia.
A Alemanha foi, portanto, o primeiro país industrializado a decidir encerrar todas as suas centrais nucleares, numa inversão da sua postura passada de "ein energiepolitischer Geisterfahrer" [um condutor em contramão da política energética] que tinha na energia nuclear a sua principal fonte para a produção de eletricidade.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), todas a centrais nucleares em funcionamento foram construídas pela Kraftwerk-Union (KWU), fundada pela Siemens e pela AEG, nos anos setenta e oitenta. A KWU foi durante vários anos uma subsidiária da Siemens AG, tendo sido transferida para uma joint-venture germano-francesa em 2001, na qual a francesa AREVA tinha uma participação de aproximadamente 2/3 e a Siemens AG 1/3. Desde março de 2011, a joint-venture AREVA NP, nome adquirido em abril de 2006, é uma subsidiária total da AREVA, já que a Siemens decidiu abandonar o seu papel direto na indústria nuclear.
Neste momento, a Alemanha conta com onze centrais nucleares encerradas, oito das quais logo em 2011: Biblis A e Biblis B, Neckarwestheim 1, Brunsbüttel, Isar 1, Unterweser, Philippsburg 1, Krümmel, Grafenrheinfeld, Gundremmingen B e Philippsburg 2. Até dezembro de 2022, prevê-se o encerramento das restantes seis centrais ainda em funcionamento: Gundremmingen C, Grohnde e Brokdorf este ano; Isar 2, Neckarwestheim 2 e Emsland no próximo ano.
Note-se também que, apesar do encerramento em curso de todas as suas centrais nucleares, a Alemanha continua a dedicar-se à investigação para a eliminação de resíduos radioativos e para o funcionamento seguro dos reatores, recorrendo, para tal, a um reator de fusão nuclear (os demais que a Alemanha se encontra a encerrar são de fissão nuclear), em versão experimental, o Wendelstein 7-X.
Construído no Max-Planck-Institut für Plasmaphysik [Instituto Max Planck de Física do Plasma] em Greifswald, no âmbito do projeto internacional ITER iniciado em 1988, Wendelstein 7-X resulta da colaboração de 35 Estados diferentes e custou 370
milhões de euros: 80% desse valor foi financiado pela Alemanha e 20% pela UE. O objetivo é produzir energia comparável ao Sol, sendo que a fusão nuclear permite obter energia de uma forma mais limpa e segura, embora só se preveja comercializar este tipo de reatores a partir de 2050.
Doutora em Estudos Estratégicos pela Universidade de Lisboa
Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa