Tudo em aberto na mais emocionante regata de sempre
Ao fim de oito meses no mar e percorridas cerca de 45 mil milhas (83 mil quilómetros), menos de 600 metros separam duas das três equipas que disputam a vitória final da Volvo Ocean Race (VOR).
Era assim este domingo, pelas 10.00 da manhã (hora de Portugal continental), a meia dúzia de horas de os vencedores cruzarem a linha de chegada, na cidade da Haia, algo previsto para acontecer algures entre as 16.00 e as 18.00.
Brunel (equipa holandesa) e Mapfre (espanhola) disputam taco a taco e à vista um do outro todos os metros de mar, na última etapa desta regata de volta ao mundo.
O Brunel segue à frente nesta disputa pela vitória final, com cerca de 500 metros de vantagem sobre o Mapfre. Os espanhóis chegaram a liderar o pelotão das sete equipas concorrentes mas perderam milhas numa indecisão entre escolher uma rota mais junta à costa (leste) ou mais no mar alto (oeste). Foram pelo oeste mas perderam o melhor ângulo face ao vento e com isso o lugar para o Brunel, que não desperdiçou a oportunidade.
Nunca na história de 45 anos desta regata de volta ao mundo se viu nada assim. Três equipas - Mapfre, Dongfeng e Brunel - partiram empatadas na liderança da classificação geral, quarta-feira, para a última etapa da regata, Gotemburgo (Suécia) - Haia (Holanda).
O Dongfeng (equipa com um sponsor chinês mas essencialmente composta por franceses) atrasou-se. Por isso, num movimento de tudo ou nada, decidiu-se por uma rota de rutura, junto à costa, já que permanecer na linha de corrida dos outros não lhe permitiria ultrapassá-los (os barcos são todos iguais entre si e por isso com as mesmas condições de navegação fazem as mesmas velocidades).
Até agora esse movimento do Dongfeng não pareceu gerar vantagem. A equipa liderada por Charles Caudrelier - desde o início uma das candidatas à vitória final - segue em quinto lugar na classificação provisória da etapa, a cerca de 40 milhas da primeira equipa, a AkzoNobel (também holandesa). Mas sabe-se que na aproximação a Haia o vento irá cair, o que terá o efeito de comprimir a frota, podendo baralhar todas as contas.
A grande competição parece ser assim entre o Mapfre, equipa liderada pelo basco Xabi Fernández, e o Brunel, do veteraníssimo skipper holandês Bouwe Bekking, que está a fazer a sua oitava volta ao mundo nesta regata (e que nunca a venceu).
Para os espanhóis uma vitória seria também uma novidade. Sempre tiveram barcos a participar nesta regata - às vezes até mais do que um - mas nunca lograram vencer. A vela espanhola tem no rei emérito Juan Carlos um apoiante ao mais alto nível do envolvimento do país na VOR.
E entre as duas equipas há ainda uma outra competição, a do velejador que conseguirá pela primeira vez na história deste desporto obter a "Triple Crown" (um triplete): ser medalha de ouro nos Jogos Olímpicos; vencer a Taça América; e juntar a estes dois troféus a vitória nesta volta ao mundo.
Dois jovens neozelandezes lutam por esse troféu (que nunca ninguém obteve): Pete Burling e Blair Tuke. Fazendo equipa um com o outro obtiveram o ouro olímpico em 2016, nos jogos do Rio, na classe 49er; no ano seguinte, mais uma vez juntos, venceram a Taça América; e agora separados - Tuke no Mapfre e Burling no Brunel - lutam pela "triple crown". Se os franceses do Dongfeng vencerem nenhum deles a conquistará.
Outra corrida dentro da regata é entre as equipas holandesas. Sendo certo que o Brunel ficará à frente na classificação geral, podendo até vencer, a verdade também é que a AkzoNobel quer chegar à frente à cidade da Haia. A situação provisória da regata diz que as duas equipas poderão chegar em 1º e 2º a esta cidade holandesa.
Na frota estão também dois velejadores portugueses, António Fontes (a bordo do Scallywag) e Bernardo Melo (Turn The Tide on Plastic). Tudo aponta para que as respetivas equipas acabem em 6º e 7º na classificação geral.
O DN viajou até Haia a convite da Volvo Ocean Race