Das 144 candidaturas submetidas ao programa Agendas Mobilizadoras, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), foram selecionadas 64 que serão agora convidadas a apresentar o projeto final de investimento. Correspondem a quase 9,8 mil milhões de euros de investimento, essencialmente suportado pelas empresas, mas, também, pelas entidades do sistema científico. O governo quer ter as decisões finais sobre os apoios a conceder "durante o segundo trimestre de 2022", mas o ministro da Economia admite que alguns dos projetos poderão ser elegíveis para outras fontes de financiamento, complementares ou alternativas. E lembra, entre o PRR e o Portugal 2030 (PT2030) serão cerca de 12 mil milhões de euros de incentivos que "estarão disponíveis para as empresas e constituem uma grande oportunidade de apoio à transformação da economia nacional"..Siza Vieira falava na sessão de apresentação dos projetos pré-qualificados no âmbito das Agendas Mobilizadoras e Agendas Verdes para a Inovação Empresarial. A dotação disponível para apoio do Estado, sob a forma de subvenção, é de 930 milhões, mas o governo já sinalizou junto de Bruxelas a possibilidade de "poder vir a mobilizar mais recursos para apoiar este esforço de investimento, através da carteira de empréstimos que a União Europeia disponibiliza aos Estados-membros"..Além disso, estes projetos poderão vir a contar com apoios de outros projetos no âmbito do PRR, como o programa para a Descarbonização da Indústria, cujo aviso "será lançado ainda durante este mês", garantiu o ministro da Economia. Dispõe de 715 milhões em subvenções. Há, ainda, os apoios à bioeconomia sustentável (145 milhões), ao hidrogénio e às renováveis (185 milhões) e os programas e investimentos do Fundo de Capitalização e Resiliência, entre outros.."O mais importante é não perdermos esta dinâmica que se gerou em torno de ideias que são críticas para o nosso futuro coletivo", diz o ministro, lembrando que os 64 projetos selecionados têm já "um grande grau de maturidade e detalhe"..A seleção resultou de um trabalho "verdadeiramente aturado, exaustivo e transparente" de avaliação por parte da comissão de coordenação das Agendas e que integra representantes do IAPMEI, ANI, Fundação para a Ciência e Tecnologia e AICEP, entre outros. Os consórcios vão agora ser convidados a apresentar candidatura final até ao fim de fevereiro de 2022, sendo que o governo quer ter a decisão final até junho. Até ao final de 2021, o executivo vai, ainda, apresentar um regulamento simplificado para as próximas fases do concurso..Num encontro com os jornalistas, Siza Vieira explicou que as empresas receberão uma parte dos apoios em adiantamento e que, no final, haverá uma auditoria para fechar projetos e entregar o restante. "A banca será um parceiro destas empresas e está ávida por dar financiamento", garante. Quanto à fiscalização, o ministro sublinha que "nada é tão escrutinado como são os fundos europeus". De qualquer forma, e para garantir que se trata de um processo "totalmente transparente", é possível acompanhar em pormenor, no site do IAPMEI, todas as candidaturas, as aprovadas e não aprovadas, respetivos investimentos e composição dos consórcios..Os 64 consórcios selecionados para a fase seguinte são formados por mais de 1700 entidades, entre empresas, centros de investigação e instituições de ensino superior, que pretendem investir 9781 milhões de euros, dos quais cerca de um terço se destinam a investigação e desenvolvimento. Quase metade das intenções de investimento correspondem aos 11 projetos da área da Energia, Hidrogénio e Lítio, que contemplam um total 4221 milhões de euros. Só os projetos liderados pela Petrogal, para o segmento do lítio e do hidrogénio verde, correspondem a mais de 1,7 mil milhões de euros de investimento..O projeto Agenda CVB - Cadeia de Valor das Baterias de Lítio em Portugal pretende, como o nome indica, criar um hub de lítio que "abranja a totalidade da cadeia de valor" das baterias de lítio, desde a extração, refinação, produção, assemblagem e reciclagem de baterias, e que seja "localizado, competitivo e sustentável" para "apoiar a transição energética e a mobilidade elétrica". Representa um investimento global de 980,5 milhões de euros..Já o do hidrogénio, designado por Agenda M2N, corresponde a um investimento total de 722,3 milhões e pretende implementar no Green Energy Park em Sines, e com um polo na Figueira da Foz, um hub regional de produção de energia verde. "O investimento em Sines promove também a resiliência da região em resposta à pandemia e à transição energética e consolida a coesão territorial", explica o consórcio na síntese do projeto..O grupo Efacec lidera dois consórcios distintos: a Agenda Verde H2DRIVEN que pretende criar uma nova fileira industrial relacionada com a produção nacional de combustíveis verdes, com um investimento total previsto de 925,5 milhões de euros, e o projeto Aliança para a Transição Energética, que envolve grupos como a Toyota Caetano, Sonae MC, Mota-Engil Renewing, Galp e EDP, entre outros, que preveem investir 365,8 milhões de euros para, entre outras áreas de atuação, acelerarem a descarbonização do setor dos transportes ou a criação de produtos inovadores para as centrais elétricas renováveis do futuro..Destaque, ainda, para o projeto liderado pela PRIO BIO, o consórcio M-ECO2, que pretende "posicionar Portugal no panorama mundial da bioenergia". Envolve 13 entidades, entre empresas e sistema científico, e contempla um investimento de 564 milhões de euros..O agroalimentar e a economia do mar são os setores que mais se propõem investir a seguir à energia. São seis os projetos pré-selecionados, num investimento global de 1185 milhões. Inclui, por exemplo, o consórcio liderado pela Sonae MC -Serviços Partilhados, que se propõe investir 136,3 milhões de euros, na Agenda VIIAFOOD, a qual pretende criar "uma plataforma, à escala nacional, para o desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores"..O terceiro maior bloco de investimento, no valor de 852 milhões de euros, é para projetos de ferrovia, transportes, mobilidade e logística. São sete as candidaturas aprovadas para a fase seguinte, designadamente o consórcio liderado pela SermecII, que pretende criar um novo cluster ferroviário, dotado de tecnologia de ponta, para produzir material circulante ferroviário nacional e desenvolver um protótipo de comboio português. O consórcio integra 12 entidades, entre as quais está a CP como utilizador final, e o investimento previsto é de 70 milhões..Os setores automóvel, da aeronáutica e espaço contam com sete dos 64 projetos selecionados, correspondentes a um investimento total de 813 milhões, enquanto a área da saúde, turismo, indústrias culturais e criativas, que engloba o audiovisual, é o que tem o segundo maior número de projetos selecionados, uma dezena, sendo que correspondem a um investimento total de 635 milhões..Os materiais e as tecnologias de produção pretendem investir 620 milhões, a construção e habitação 560 milhões e o calçado, têxtil e vestuário têm projetos no valor de 494 milhões. Por fim, destaque para as áreas da inteligência artificial, blockchain e microeletrónica que têm quatro projeto pré-selecionados, num investimento de 401 milhões..Para Siza Vieira, estes projetos trazem a expectativa de uma "aceleração da transformação da economia nacional, no sentido de uma competitividade assente no conhecimento e não em baixos salários"..Ilídia Pinto é jornalista do Dinheiro Vivo