Qual dos três liberais sucederá a Cotrim? Carla, Rui e José prometem novo fôlego à IL
Passar de 4.º para 3.º partido na vida nacional é uma meta, mas não é fácil de atingir. Este é o objetivo que todos os candidatos à liderança da Iniciativa Liberal se propõem atingir, com fórmulas de continuidade ou de rutura com a linha do presidente cessante João Cotrim Figueiredo. Carla Castro, Rui Rocha, ambos deputados, e José Cardoso, membro do Conselho Nacional cessante, vão tentar convencer os mais de 2300 liberais que participam na VII Convenção Nacional da IL, que decorre este sábado e domingo no Centro de Congressos de Lisboa. A moção de estratégia global que sairá vencedora desta reunião magna ditará o futuro do jovem partido - nasceu em 2017 - e que, num curto espaço de tempo, teve um forte sucesso eleitoral. Nas legislativas de 2019 elegeu um deputado e nas antecipadas de 2022 subiu para os oito mandatos.
E é dos oito deputados que saem dois dos candidatos à sucessão de João Cotrim Figueiredo, Carla Castro e Rui Rocha, também membros da direção cessante do partido. A que se soma um terceiro, José Cardoso, saído das fileiras do Conselho Nacional e uma das vozes mais críticas da linha que o partido traçou ao longo dos últimos anos.
Amanhã um dos três protagonizará uma nova etapa na vida da IL, com Rui rocha a vangloriar-se de ter com ele os apoios que garantem uma "continuidade", com Carla Castro a ostentar uma "equipa multidisciplinar e virada para o país" e com José Cardoso a falar para os que não se reveem nem num nem noutro dos dois deputados.
Sob o lema "liberalismo para todos", a moção de Rui Rocha - que contou com o apoio de primeira hora de João Cotrim Figueiredo -, remete para a necessidade de dar novas bandeiras ao partido, entre outros domínios na Habitação, Transportes e Ambiente.
Carla Castro leva a votos uma moção em que promete "um país em liberdade e prosperidade" com políticas liberais e internamente garante que liderará um partido mais "descentralizado".
Já José Cardoso, que chegou à corrida depois dos adversários, vai garantir aos participantes na convenção eletiva que com ele haverá um presidente a tempo inteiro, até porque não tem lugar no Parlamento, e que procurará implantar o partido a nível nacional.
Todos querem acabar com o bipartidarismo em Portugal, mas nem todos rejeitam liminarmente entrar numa solução de governação sem o Chega. Só Rui Rocha o garante taxativamente - que com ele nunca haverá acordos de que espécie seja com o partido liderado por André Ventura.
A gestora e professora universitária entrou na Iniciativa Liberal em 2019, dois anos após o nascimento do partido, mas rapidamente chegou ao órgão de direção. E nas legislativas de 2022, Carla Castro foi eleita deputada por Lisboa para uma bancada que cresceu de um para oito deputados. A mais nova dos candidatos à liderança da IL - cujo o processo de sucessão de Cotrim Figueiredo contestou, depois do líder cessante ter apoiado Rui Rocha na hora do anúncio de não recandidatura ao cargo - é membro da comissão executiva da IL e garante que se identifica a 100% com o programa do partido, tanto mais que foi coordenadora do gabinete de estudos. "É preciso respeitar a matriz e uma visão com foco externo que é um Portugal mais liberal", disse em conversa com o DN. A grande bandeira que prometeu ostentar é a da mobilidade social.
Em entrevista ao DN, já durante a campanha para a presidência do partido garantiu: "É extremamente importante fazermos uma oposição muito assertiva quer para desmaquilhar a política governativa e os erros sucessivos que estão a ser cometidos, mas também para nos apresentarmos como alternativa. É muito importante denunciarmos o que está a acontecer em muitas áreas da governação, a falência dos serviços, as contas do Estado, a falta de soluções, mas também explicarmos como é que em termos da saúde, da educação, das contas, da dinamização do tecido empresarial as políticas liberais são de sucesso. É preciso denunciar a fraqueza das políticas do PS e afirmar a alternativa liberal". Defende também que o partido tem de se descentralizar e dotar de quadros para que possa concretizar o sonho de subir mais um degrau no ranking dos partidos em Portugal, ou seja, passar de 3.ª força para 4.ª, à frente do Chega.
O deputado eleito por Braga, que também entrou na IL em 2019, tem 52 anos e foi o primeiro a posicionar-se para suceder a João Cotrim Figueiredo, até porque soube antes dos outros que o líder cessante não tencionava recandidatar-se. Diretor de recursos humanos do grupo Sonae, deixou o cargo quando se candidatou à Assembleia da República e foi bem sucedido. Diz que o seu projeto é de "continuidade" e promete "popularizar e o liberalismo" no sentido de o expandir pelos recantos onde ele não chegou. Dá o exemplo da Madeira, que no próximo ano tem eleições regionais, e onde a IL não tem representação no parlamento. "Temos de ter bandeiras para falar com esse eleitorado." As bandeiras da IL, sublinha ao DN, são para manter - as propostas fiscais, do crescimento económico, da liberdade de escolha na saúde e educação, entre outras - e acrescentar "as que respondem às preocupações das pessoas", como a habitação, mobilidade, energia, segurança e revitalização do interior. E promete uma simbiose entre a versão irreverente do partido, tão marcante nos outdoors arrojados e as propostas concretas que o tornaram mais sóbrio na campanha para as eleições de 2022. Tem uma visão para o país, onde não cabe nenhum acordo com o Chega, e onde "a carga fiscal não asfixia as pessoas, os portugueses têm a justa recompensa pelo seu trabalho, os serviços públicos funcionam de forma eficiente, o sistema eleitoral garante que centenas de milhares de votos não são deitados ao lixo como acontece atualmente, há um sistema de mérito para a função pública, há liberdade de escolha na educação e na saúde e onde há liberdade individual e de expressão para todos os portugueses."
Ligado à área da comunicação, este conselheiro nacional da IL, com 51 anos, funciona como uma espécie de "grilo falante" dos liberais. É conhecido nos Conselhos Nacionais por questionar muito do funcionamento interno e linha política da direção cessante. José Cardoso chegou à corrida à liderança depois dos outros dois adversários por entender que havia "espaço" para os que não se reviam em Carla Castro ou Rui Rocha. Caso seja eleito, promete ser um presidente a tempo inteiro porque entende que só desta forma será possível fazer a IL criar raízes em todo o país. Isto porque, defende, o partido se deve assumir como "de poder".
"Tenho defendido um partido diferente do que temos edificado. Não me revejo em nenhuma das duas candidaturas e tinha muitos membros à minha volta a dizer que iam votar em branco pela mesma razão. Portanto, havia aqui um espaço. Outra das razões, é porque vivemos um processo de inevitabilidades num partido que é liberal, em que tudo nos é dado e garantido. Ora um partido liberal é um partido vivo, em que as pessoas debatem, se chegam à frente, eu vejo um partido que um dia tenha cinco ou seis candidatos. As nossas referências têm de ser as boas práticas liberais do norte da Europa, que temos de trazer para a IL e depois para o país", disse em entrevista ao DN.
Na sua moção de estratégia - "Um partido sem medo da liberdade dos outros" - não é taxativo na rejeição de alianças à direita com o partido de André Ventura, desde que a da IL seja firmada apenas com o PSD, como aconteceu nos Açores. Tal como Carla Castro defende que é preciso descentralizar o partido e dar mais voz às estruturas nas decisões tomadas, até porque lembra que a IL tem "quadros excelentes".