Outcast: depois da epidemia zombie, chegam os demónios

A nova série de Robert Kirkman, criador de "The Walking Dead", estreia-se esta segunda-feira na Fox. Uma "investigação" intensa e realista sobre o exorcismo, em que "os detetives, claro, são o público"
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Robert Kirkman quer "colocar uma nova camada de tinta sobre o género do exorcismo". A sua tela é Outcast, série televisiva - inspirada na banda desenhada com mesmo nome - que se estreia esta segunda-feira, na Fox, pelas 21.00.

O criador de The Walking Dead pretende mostrar a "possessão demoníaca como um problema solúvel" e, para isso, entrega o protagonismo a Patrick Fugit. Na pele de Kyle Barnes, o ator que se estreou no filme Almost Famous, de Cameron Crowe, em 2000, surge como um homem torturado, que luta contra uma epidemia de espíritos malignos numa pequena cidade no estado da Carolina do Sul, EUA.

A história borbulha dentro de Kirkman desde a infância, altura em que a sua mãe o obrigou a frequentar a igreja pentecostal. "Testemunhei um exorcismo quando andava nessa igreja. Vi uma pessoa a cuspir-se, a morder, a rosnar, a fazer várias coisas malucas. Não me lembro de ter medo. Pareceu-me quase normal. Foi-me explicado que essas pessoas têm demónios dentro de si, que as tornam doentes. Mas não diria que mexeu com a minha mente. Foi algo interessante", confessou, numa entrevista à Rolling Stone.

Tal como The Walking Dead, Outcast é uma forma de projetar cenários abstratos, de colocar o ser humano em situações limite e simular as suas reações. "Nunca ninguém tinha explorado a forma como as pessoas lidariam com uma epidemia zombie antes de nós o fazermos com The Walking Dead, e sinto que com esta série é a mesma coisa. Nunca ninguém tratou a possessão demoníaca como um problema solúvel. Talvez seja algo a que a comunidade reagisse de modo proativo, em termos de tratamento. É exatamente nesse sentido que a série pretende ir", explica o autor.

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Por outro lado, Outcast difere da trama pós-apocalíptica na sua aproximação com a realidade."O mais divertido nisto tudo é que uma larga parte da população acredita que os demónios são reais. Há uma quantidade absurda de testemunhas de histórias estranhas, que deram a Outcast um sentido mais realista do que The Walking Dead. É isso que torna a série mais assustadora. Não há hipótese de os zombies ganharem vida, mas quem diz que não ficas possuído amanhã?", sublinhou, em conversa com o jornal Los Angeles Times.

Aliás, o terreno parece ser tão fértil, que o autor já pensa em bater recordes, no que toca ao número de temporadas. "Eu poderia fazer 100 temporadas de Outcast. Este é, possivelmente, o primeiro projeto que comecei e em que já sabia exatamente qual seria o início, o meio e o fim", reconheceu.

O primeiro de dez episódios que compõem a primeira temporada - a segunda começa a ser gravada brevemente - mostra-nos uma explícita cena de exorcismo, com o pequeno Joshua (interpretado pelo ator Gabriel Bateman, de 11 anos) à mercê dos espíritos demoníacos. "É mesmo para ser intenso", justificou Kirkman. "Queríamos ir além das imagens de exorcismo cristalizadas por Hollywood e investimos, tal como no The Walking Dead, na criação de uma mitologia própria. Vejo Outcast como uma investigação. Os detetives, claro, são o público"

As primeiras reações

Mesmo antes da sua estreia mundial - assinalada sexta-feira, 3 de junho, na maior parte dos territórios abrangidos pela Fox - a série que já merece comparações a Twin Peaks e a O Exorcista já fazia história. Isto porque, a 20 de maio, o seu primeiro episódio foi transmitido na Europa, via streaming, através da plataforma Facebook Live. Algo nunca antes feito. "Este é um diferente tipo de besta que o Kirkman nos mostra: Outcast dá continuação à sua dramatização da monstruosidade humana, mas o âmbito é mais íntimo, o estilo é mais melancólico. É uma saga pré-apocalíptica, e não pós-apocalíptica", realça o Entertainment Weekly, uma das primeira publicações norte-americanas a escrever a crítica.

Já o site de entretenimento Collider, encontrou semelhanças com uma das produções da Netflix e da Marvel. "Tal como a Jessica Jones, Outcast é a história de um sobrevivente manchado por uma vida cheia de abusos e torturas. É uma excelente combinação de géneros e uma abordagem emocionalmente vibrante, inquietante e cativante da ciência do exorcismo", lê-se. Já a Variety, faz uma análise bem mais profunda, mais psicológica. "É uma série de terror? Sim, ao princípio. Mas Outcast rapidamente se torna num olhar carregado de suspense das nossas sombras interiores - dos aspetos não desejáveis de nós mesmos, que lutamos por manter escondidos - e dos demónios figurativos que estão constantemente a flutuar à nossa volta".

Tal como admitiu o protagonista Patrick Fugit à nossa publicação, à margem da apresentação da série, em abril, o objetivo é perceber "que fenómeno é este e quais são as regras para se lidar com o mal". "Acho que as pessoas devem ver a série não só pelo tema mas também pelas personagens, que são muito ricas. Porque ao mergulharmos neste mundo vamos ficar fascinados, esperar que a nossa personagem preferida sobreviva. Isso é o que torna uma série excitante", concluiu.

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