Os seis pontos em que o presidente dos EUA entra em colisão com os países do G20

As 20 maiores economias do mundo reúnem-se hoje e amanhã em Hamburgo. Será o primeiro encontro de Trump e Putin e em cima da mesa estarão muitos assuntos que colocam os Estados Unidos contra vários dos países presentes, desde a saída do Acordo de Paris às exigências para que os membros da NATO gastem mais em Defesa
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Coreia do Norte

Nas últimas semanas, Donald Trump tem vindo cada vez mais a pressionar a China para fazer uso da sua influência junto da Coreia do Norte. A tensão agravou-se depois de, na madrugada de terça-feira, Pyongyang ter concretizado mais um teste de um míssil balístico, o primeiro com comprovada capacidade para atingir o estado norte-americano do Alasca. "O comércio entre a China e a Coreia do Norte cresceu quase 40% no primeiro trimestre [do ano]. Lá se vai a possibilidade de a China colaborar connosco - mas tínhamos de tentar", escreveu Trump no Twitter. As declarações do líder dos EUA colocam-no em confronto com Xi Jinping, com quem se encontra hoje em Hamburgo. Vladimir Putin também entra neste combate. O presidente russo e o líder chinês disseram nesta semana que só será possível tentar que Pyongyang aceite parar o desenvolvimento do programa nuclear se EUA e Coreia do Sul abdicarem dos exercícios militares na península coreana.

Clima e ambiente

Todos contra Trump. Ele de um lado e do outro os restantes 19. O presidente norte-americano optou pela saída dos EUA do Acordo de Paris, assinado em 2015, que define as metas para a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Trump entende que o compromisso é "injusto" para os EUA. Em Hamburgo não haverá qualquer voz que saia em sua defesa. Assim que o líder norte-americano anunciou que faria marcha atrás no acordo ratificado pelo seu antecessor, Barack Obama, as outras potências, incluindo a China e a Índia, vieram a terreiro reforçar o seu comprometimento. Ainda assim, tal como o secretário-geral da OCDE afirmou nesta semana em entrevista ao DN é possível que os EUA consigam atingir as metas. "Nenhum país tem tantas condições para continuar a reduzir as emissões como os EUA", disse Ángel Gurría. Isto porque vários estados, cidades e empresas norte-americanas já sublinharam que querem ser cada vez mais verdes.

Comércio

"A América primeiro", garantiu Donald Trump no seu discurso de tomada de posse, a 20 de janeiro, sublinhando que, em todas as políticas que viesse a seguir, o interesse dos EUA seria sempre a primeira prioridade. Esta visão levou-o a criticar ferozmente muitos acordos ratificados pelos Estados Unidos. Um desses casos foi o Tratado de Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA, na sigla inglês), entre os EUA, o Canadá e o México. "É muito mau para as nossas empresas e para os nossos trabalhadores, ou fazemos grandes mudanças, ou vamos livrar-nos do NAFTA de uma vez por todas", afirmou Trump em abril. O presidente norte-americano também já prometeu impor pesadas tarifas sobre as importações de aço vindas de outros países - algo que, entre os parceiros do G20, não agrada ao Canadá, à União Europeia, à Alemanha, ao Brasil, à China, ao Japão e ao México. O protecionismo de Trump poderá deixá-lo isolado em muitas das discussões na cimeira de Hamburgo.

Imigração

Durante a campanha eleitoral que acabou por levá-lo à Casa Branca, Donald Trump fez muitas declarações que foram consideradas ataques diretos ao Islão. Assim que assumiu o poder uma das primeiras medidas que tomou foi emitir uma ordem executiva proibindo temporariamente a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países de maioria muçulmana: Iraque, Síria, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen. A ordem foi contestada pelos tribunais, mas, depois de muitas voltas, acabou por entrar em vigor na semana passada, ainda que apenas parcialmente e já sem o Iraque na lista. Nenhuma das nações em causa faz parte do grupo do G20, mas muitos líderes internacionais criticaram o chamado travel ban decidido por Donald Trump. Nesta cruzada contra os imigrantes, entre os países do G20, Donald Trump, de acordo com a CNN, terá pelo menos a discordância do Reino Unido, da França, da Alemanha, do Canadá, da Indonésia e da Turquia.

NATO

Donald Trump catalogou a NATO como obsoleta. Mais tarde, quando esteve em Bruxelas para a inauguração do novo quartel-general da organização, acabou por retirar o que tinha dito. Ainda assim, o presidente dos EUA tem repetidamente criticado os membros da NATO que não cumprem a obrigação de destinar 2% do PIB para o orçamento da Defesa. Além dos EUA, só quatro países da organização o fazem: Polónia, Grécia, Estónia e Reino Unido. Talvez neste particular Trump tenha o apoio dos britânicos, representados pela primeira-ministra Theresa May, mas na cimeira do G20 estarão presentes vários membros da NATO que estão em falta com as suas obrigações financeiras em matéria de Defesa e que não têm gostado das recorrentes críticas de Trump: Canadá, França, Alemanha, Itália e Turquia. Apesar de tudo e ao contrário dos receios no início do mandato de Trump, o presidente dos EUA tem vindo a reafirmar o seu comprometimento com a aliança.

Síria

A Rússia defende e apoia o regime do presidente sírio Bashar al-Assad. Os EUA auxiliam os rebeldes que querem tomar o poder. Isto já seria suficiente para colocar Trump e Putin em barricadas opostas nesta questão. No entanto, a tensão agravou-se ainda mais em abril quando os EUA bombardearam uma base síria depois de um alegado ataque com armas químicas protagonizado por forças governamentais. Vladimir Putin condenou a ação norte-americana, dizendo que se tratava de uma agressão contra um estado soberano que violava a lei internacional. O conflito sírio coloca o presidente norte-americano em rota de colisão também com a Turquia, depois de Donald Trump ter autorizado que os Estados Unidos apoiem com mais armamento os grupos curdos-sírios que combatem o Estado Islâmico na Síria. Recep Tayyp Erdogan, o presidente turco, não vê com bons olhos o reforço do poderio militar dos seus inimigos curdos. Trump contra Putin e Erdogan.

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